segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Peru, a gastronomia como identidade nacional

Fui agraciado com novos conhecimentos nesses últimos dias. Participei de uma missão dos Senac do Nordeste ao Peru, onde conheci sua estratégia, bem sucedida, de vender a imagem, a cultura e o destino turístico a partir da Gastronomia local.

Não resta dúvida de que esse país possui uma variedade invejável de climas e biomas que fazem dele um lugar muito especial. Isso ainda é associado à grandeza da história que remonta a séculos antes de Cristo. Dessa combinação, surge um território único, onde os desafios culturais e geográficos produziram uma sociedade com forte identidade e generosidade.

O relevo é composto por desertos, montanhas intransponíveis e selva amazônica, além de vales e altiplanos andinos. Os terremotos também são uma ameaça constante, bem como os tsunamis. Na Capital, Lima, há demarcações de áreas seguras para refúgio em caso de abalos sísmicos e rotas de fugas sinalizadas para possíveis maremotos.

O Peru é o terceiro maior país da América do Sul, ficando atrás do Brasil e da Argentina. Sua população está em torno de trinta milhões de habitantes, dos quais quase a metade se encontra abaixo da linha de pobreza.

Os contrastes são visíveis. Em Lima, há bairros que nada devem aos melhores locais europeus, a exemplo de Miraflores. E a periferia, que possui favelas sem água nem esgoto, que visitamos para conhecer um belíssimo trabalho de educação profissional realizado por missionários católicos.

Apesar dessas dificuldades, o país é uma referência em hospitalidade. Lá está a única sede na América do Sul da secular escola francesa, Le Cordon Bleu. Ícone da hotelaria mundial, com universidade e cursos técnico-profissionalizantes. Acresce essa lista de escolas profissionalizantes, o Senati, espécie de Sistema S peruano, e inúmeras outras escolas profissionalizantes particulares.

Com efeito, visitamos a feira anual “Mistura”, que recebe cerca de duzentos mil visitantes em seus dez dias de funcionamento, o que a qualifica como o maior evento gastronômico do continente. Nossa comitiva necessitou de dois dias para visitar todos os pavilhões da feira.

A culinária peruana é muito saborosa e variada. Envolve frutos do mar, carnes e produtos agrícolas típicos. Entretanto, o prato que identifica, em nível internacional, sua comida é o cebiche, preparado com peixe cru, suco de limão, sal, cebola e ají (pimenta da região andina). Porém, nada fica a dever, o famoso lomo saltado, preparado com carne bovina, cebola, vinho branco, tomates, pimenta e outros ingredientes. E tudo isso pode ser antecedido pelo saboroso pisco, aguardente da uva trazida e cultivada pelos primeiros espanhóis e, logo, assimilada pelos nativos.

Como se vê, a Gastronomia se reverte em valioso instrumento turístico, ao associar o prato ao contexto local. Assim, provar um cebiche é saborear a cultura peruana, integrada pelo desafio da pesca no Litoral do Pacífico, com a vida penosa de agricultores familiares dos Andes. Portanto, culinária é identidade e desenvolvimento local, é roteiro histórico e geográfico, é cultura e respeito às tradições, é fortalecimento dos pequenos negócios geradores de empregos e fomento econômico.

Diante dessas possibilidades, o Brasil precisa partir para estruturar sua rica Gastronomia com profundidade. Isto é, pesquisar a culinária brasileira, criar roteiros gastronômicos, fomentar a presença de restaurantes típicos brasileiros no Exterior, atrair visitantes estrangeiros para provarem nossos pratos e bebidas. Quentes, em sua maioria, como o pato ao tucupi amazônico, o acarajé baiano, o churrasco gaúcho, a tapioca nordestina, a cachaça mineira, entre tantos outros. Pelo visto, urge implantar uma política firme de desenvolvimento gastronômico internacional, como bem observou Antonio Henrique, experiente gestor do Senac Nacional, integrante de nossa comitiva.

Se, na língua portuguesa, Peru e Lima, são homônimos de alimentos, que dizer do Brasil, cuja semântica nos remete à brasa.



Publicado no jornal Cinform em 16/09/2013 - Caderno Emprego


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segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Inclusão de vulneráveis no mercado de trabalho


     Participei, recentemente, de uma interessante reunião do BID – Banco Interamericano de Desenvolvimento –, em Salvador, BA, que envolveu os Estados da Bahia, Ceará e Sergipe. A temática foi a inserção de grupos vulneráveis no mercado de trabalho. Uma das motivações do BID é encontrar uma porta de saída para a população inscrita no Cadastro Único do Governo Federal e, mais particularmente, para os beneficiários do  Bolsa-Família. Nessa reunião, estavam representantes do serviço público, do BID, do Sistema S e da iniciativa particular.

     O norte das discussões apontou para ampliar a articulação entre esses mesmos atores, institucionalizar as boas práticas e os bons projetos, além de propor soluções para que as empresas empreguem pessoas de baixa escolaridade. Por certo, um grupo tão experiente e diversificado tem propostas concretas para promover melhorias para tal desafio. Contudo, fica-se no campo das “melhorias”, e não das soluções definitivas, por quê?

     A relação trabalhista brasileira, além de conflituosa, com a arcaica CLT, é povoada por dogmas “imexíveis”. Quando se pensa em flexibiliza-la, as resistências são enormes. Mas a realidade é cruel e os números não mentem.

     Segundo o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos - Dieese (2010), Sergipe possui uma PEA – População Economicamente Ativa - composta por pouco mais de um milhão de pessoas. Dessas, menos de 400 mil são assalariados formais, isto é, trabalhadores e domésticos com carteira assinada, estatutários e militares. Isso significa que apenas um terço da PEA é formalizada. Número semelhante configura o esquadrão dos empregados e trabalhadores domésticos, assalariados sem registro formal. O último terço é composto pelos que trabalham por conta própria, outros informais, os não remunerados e os poucos empregadores.

     Assim, infelizmente, os 270 mil sergipanos assistidos pela CLT formam uma minoria da PEA. Nesse cenário, a rígida CLT é garantia de proteção apenas para o trabalhador brasileiro elitizado, revelando-se um instrumento excludente para a ampla maioria. Onde está a segurança que a Carteira de Trabalho oferece? Ao alcance de meros 26% dos trabalhadores.

     O cenário piora quando vemos que o empresário brasileiro também vive sérias precariedades. Muitos creem que o Sr. Antônio Hermírio ou o Silvio Santos sejam exemplos comuns dos donos de negócios próprios. Grande engano. Segundo o Sebrae, 99,2% das empresas brasileiras são micro ou pequenas, 0,6% são médias e nanicos 0,2% formam as grandes empresas. Além disso, o anormal, diz o IBGE, é uma empresa viver mais de três anos, já que a metade fecha antes. É mesmo infernal a vida da empresa brasileira, sobrecarregada por entraves ilimitados da onerosa máquina pública e o estigma de ser exploradora do trabalhador. Ideologia cega e perversa que tributa esforços e movimentos ao invés do lucro.

     A inserção significativa de trabalhadores no mercado de trabalho formal só se dará com a modernização da CLT, ampliação da terceirização legal e políticas fiscais compensatórias para incentivar a geração de empregos em regiões de baixo adensamento econômico.

     Compensações para a implantação de negócios em áreas afastadas dos grandes centros fixará a população, evitará o êxodo e a precarização do trabalho em periferias. Em geral, nas pequenas cidades do Norte e Nordeste, a escassez de recursos técnicos e econômicos, leva - quando possível - à produção de mercadorias de baixo valor agregado, como produtos agrícolas familiares, carvão, estacas, lenha, farinha e outros que, devido ao elevado custo do frete, não conseguem preços competitivos nos mercados consumidores e a geração de riquezas. Devemos retirar encargos das pequenas empresas formais que se instalem nessas localidades, incluindo seus fornecedores.

     Será justo exigir da Umburana Ltda., na Rua São Gabriel, s/n, em Avelino Lopes, PI (PIB 30 milhões - 2008), o mesmo que do Citibank da Avenida Paulista, na cosmopolita São Paulo (PIB 391 bilhões - 2009)?  


     Publicado no Jornal Cinform em 02/09/2013 - Caderno Emprego