segunda-feira, 21 de junho de 2010

O futuro do comércio

 

Vivemos uma era de grandes transformações. Tais mudanças, além de profundas nos hábitos e costumes, também, se processam em velocidades jamais vistas pelo homem. Diferentemente de quinze anos atrás, somos todos dependentes do telefone celular, de tal maneira que se sairmos sem ele nos sentimos inseguros e vulneráveis. Talvez, entendamos que grande parte da nossa vida está ali naquela caixinha tecnológica, ou ainda, que as mudanças se processam tão rapidamente que a ausência momentânea do celular nos fará socialmente excluídos ou alienados – um verdadeiro extraterrestre.


Da mesma forma que a tecnologia afeta nossa vida pessoal, também, influencia as relações sociais, ambientais e econômicas. Novas tendências nos levam em direção a profundas alterações nas relações comerciais e os agentes do comércio e serviços precisam estar em permanente vigilância sobre os novos horizontes para se adaptarem a esses desafios que são tão ameaçadores quanto reveladores de inéditas oportunidades.


Nos últimos dias, dois veículos de larga circulação nacional, uma revista e um jornal, publicaram matérias sobre o surgimento com grande sucesso de sites de compra coletiva que funcionam através de promoções instantâneas com descontos inimagináveis para os consumidores isolados. O site faz intermediação entre lojistas e consumidores organizando barganhas e conduzindo os consumidores em bloco para aquele produto ou serviço. No Brasil, estes sites ainda são muito recentes, algo como no máximo seis meses de funcionamento, mas estão dispostos a apostar nesse mercado.


Se olharmos para essa nova prática, veremos muito mais que o simples uso da tecnologia da informação, pois, trata-se de um empoderamento, isto é, um maior protagonismo do consumidor na cena, que através de um mediador (o gestor do site), auxiliado pela ferramenta (internet) passa a ditar as regras do jogo. Isso é só o começo, pois os consumidores que hoje estão em negociação direta com o comércio, podem passar a negociar diretamente com a indústria eliminando os mediadores e os intermediários, e consequentemente reduzindo custos e preços finais. Tal situação ainda não ocorre hoje, porém, as ferramentas estão aí prontas para serem usadas nos primeiros ensaios. Uma mudança rápida nessas relações pode trazer consequências desastrosas para a geração de empregos e toda a economia do setor terciário.


Penso que está na hora dos agentes do comércio e serviço se reposicionarem e abrirem a discussão sobre as novas tendências que se anunciam e assim, preservarem ou reinventarem sua importante atividade econômica geradora de empregos.


Entre as novas tendências anunciadas, além da exposta acima, devemos ver o crescimento da automação presente nas lojas. Sem deixarmos de lado o crescimento exponencial da automação do fisco em todos os níveis do fluxo dos bens no comércio: desde a compra, o controle do estoque e a venda. Tudo inteiramente acompanhado, ou melhor, fiscalizado.  Também é crescente a mediação de agentes financeiros nas relações entre o consumidor e a loja através do crédito em suas múltiplas modalidades. Algumas lojas são verdadeiros bancos, vivem de remuneração sobre o crédito ao consumidor, usando seus bens à venda como meros atrativos para operações creditícias, revelando até, estranho e explícito desinteresse nas vendas à vista. Ainda devemos ver como tendências claras o crescimento do comércio eletrônico através da internet e TV, e o avanço rumo aos novos perfis de consumidores: crianças, adolescentes, etnias, pessoas que moram só, idosos, classes sociais emergentes, etc.


Os produtos industriais estão cada vez mais comoditizados, isto é, padronizados e normatizados. É visível a tendência ao comum na indústria automobilística onde, a diferença entre carros concorrentes é quase invisível no produto e no preço em si. Porém, se fazem presentes nos serviços ofertados junto ao carro. 


Na prestação de serviço é que está o nicho maior do comércio. É o pedaço econômico onde a indústria e o setor financeiro chegam com grandes dificuldades ao cliente. É o contato direto e pessoal com o consumidor que fará a diferença dos produtos industriais tão homogeneizados. Ninguém compra uma geladeira porque quer a geladeira em si. Compra porque precisa conservar alimentos e para isso, aceita conviver com o incomodo, gastador e imenso objeto na sua moderna cozinha compacta. Assim, grosso modo, só compramos serviços e não produtos. Pense como é importante a opinião clara, honesta e técnica de um vendedor de uma loja de roupas que bem orienta seus clientes, cativando-os e promovendo fidelidade através do atendimento.


Ofertar bons serviços exige mais preparo de todo o time comercial. Faz-se necessário o desenvolvimento de novas competências mais aprimoradas e complexas que só se conquista, inicialmente, pelo desejo pessoal de cada um da equipe de aprender cada vez mais e, depois, pela educação profissional adequada, que deve ser concomitante ao exercício do trabalho ao longo de toda a vida. 


      



Publicado no jornal Cinform 21/06/2010 – Caderno Emprego