segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Em qual mundo você está?



A pluralidade é uma marca inexorável dos dias atuais. Percebe-se, enfaticamente, essa característica de forma muito própria no Brasil. O País do astronauta Marcos Pontes, da pujante indústria aeroespacial, dos procedimentos médicos com tecnologias de ponta e das ilhas de excelência também é o mesmo dos bolsões de miséria e – pasme - a Pindorama de sempre, para dezenas de grupos indígenas amazônicos sem contato conosco ainda.

São nossos contemporâneos casuais. Isso porque, sob a ótica da linha do tempo tecnológico, ainda vivem como se fosse há dez mil anos, ou seja, sem domínio da linguagem escrita, da tecnologia do ferro, da agricultura (?), da roda e outras obviedades nossas. Qual será a expectativa de vida desse conterrâneo? Não sei.  

Sinceramente, não sei como lidar com essa situação: mantê-los isolados sem lhes dar a oportunidade de uma vida de mais conforto e longevidade, apesar do choque cultural, ou preservá-los assim, como bons selvagens (sic), de teóricos como Rousseau? Tenho minhas duvidas. E desconfio de quem sabe, especialmente daqueles que romantizam a questão, mas não renunciam à vida que levam a experimentar a hostilidade da natureza bruta para com a nossa não especializada espécie humana.

Deixemos de exageros para falar em pluralidade, pois situações bem mais corriqueiras podem conter diversidades inimagináveis. Apresentamos a seguir uma lista de coisas estranhas que até parecem ser de outro mundo. É possível existir um lugar no Brasil que, nos dias de hoje, funcione assim?

1-    Todas as ideias possam competir em condições de igualdade.
2-    As contribuições sejam mais importantes que as credenciais.
3-    As hierarquias sejam construídas de baixo para cima.
4-    Os líderes sirvam, em vez de comandar.
5-     As tarefas sejam escolhidas, não atribuídas.
6-    Os grupos se autodefinem e se auto-organizam.
7-    Os recursos sejam atraídos, não alocados.
8-    O poder decorra do compartilhamento, não do entesouramento.
9-    A mediocridade seja exposta.
10-  Os dissidentes possam juntar forças.
11-  Os “comuns” possam vetar a maioria das decisões políticas.
12-  As recompensas intrínsecas sejam as mais importantes.
13-  A geografia seja uma ciência morta.
14-  Ninguém seja excluído - ou prejudicado - por só usar a visão e a audição e mais nenhum outro sentido.
15-  Tamanho não seja “documento”.

Como uma realidade paralela, esse lugar existe em nossa variada cultura tupiniquim em estado latente. Por enquanto, já que promete acordar e dominar a tudo e a todos em breve tempo. Esse lugar é o ambiente colaborativo das redes sociais da internet. O ambiente da Wikipedia, do Facebook, do Youtube, do Linux, ferramentas compartilhadas por autores e consumidores.

Engraçado que, entre nossos vizinhos de condomínio, há os que ignoram completamente essa tal de internet; há os que a utilizam como um plano B – só em ultimo caso, porque precisam de assistência; há os que a tratam como um “caixa 2” – obscuramente; há os que a utilizam paralelamente à rotina – como algo complementar; e, por fim, os que só vivem nela – desvitalizados e empobrecidos da realidade, porém, reconhecidamente verdadeiros nativos digitais.

Esses últimos formam a Geração F (de Facebook), fatia crescente do estrato social e que logo estarão ocupando postos-chave nas empresas. Serão eles que definirão os novos padrões culturais, comerciais e administrativos. Assim, será que nossas empresas sobreviverão a essa revolução anunciada? A sobrevivência depende de ir além da satisfação do seu consumidor local, em um mercado menos complacente que o atual, uma vez que será global e no qual o cliente colabora com a empresa, com poderes para fazê-la crescer ou minguar.

Compare os 15 itens apresentados anteriormente com o modelo de negócio praticado por sua empresa e veja a que distância ela está dessa tendência. Esse check-list pode espelhar, em uma sociedade plural como a nossa, a sua posição. Em qual mundo você está?


         Publicado no jornal Cinform em 11/02/2013 – Caderno Emprego