segunda-feira, 28 de maio de 2012

Números inquietantes do clima do trabalho



Uma pesquisa da Towers Watson, intitulada “Global Workforce Survey”, realizada em 2007 num universo de 90 mil trabalhadores de 18 países, buscou determinar o nível de envolvimento das pessoas com os trabalhos delas, chegando a resultados surpreendentes e preocupantes. Os pesquisadores descobriram que 21% dos empregados são realmente engajados no trabalho, isto é, trabalham com iniciativa, criatividade e paixão. Dos trabalhadores pesquisados, 38% se mostraram pouco ou totalmente desengajados em relação às organizações. E os 41% restantes se enquadraram em um oscilante meio termo de comprometimento.


Tais números nos dizem que apenas um quinto dos empregados é apaixonado pelo que faz e aparentemente está feliz com as atividades laborais. Devemos nos indignar com essa realidade e buscar a resposta que dê luz à solução desse problema e as implicações na qualidade de vida de todos: empregados, familiares, gestores, economistas e consumidores impactados por essa infelicidade generalizada.


Por certo, o estado de espírito dos colaboradores reflete não apenas nos resultados da organização, mas decisivamente na realização profissional e pessoal. Assim, entendemos que um bom desempenho profissional é emancipador para a pessoa e construtivo para a sociedade, derivando desse conjunto de atitudes positivas, uma relação ganha-ganha bem colaborativa.


No livro “O futuro da administração”, de Gary Hamel, há uma proposta de hierarquia das capacidades humanas no trabalho: nível 6:paixão; nível 5: criatividade; nível 4: iniciativa; nível 3: expertise; nível 2: diligência e nível 1: obediência.


Notemos que há um maior reconhecimento profissional à medida que se sobe nos níveis. Podemos considerar que os três primeiros níveis são os mais valorizados na economia industrial, a mais tradicional. Os três níveis superiores são mais valorizados, indispensáveis até nas modernas economias do conhecimento e criativa.  


Há, porém, um resultado felizmente contraditório nessa mesma pesquisa da Towers Watson ao constatar que 86% dos empregados pesquisados afirmaram que amavam ou gostavam do trabalho. Disso, foi verificado que o engajamento do colaborador é maior se três fatores forem observados: primeiro, se há oportunidade de crescimento na organização. Segundo, a empresa deve possuir boa reputação e missão nobre que justifique o esforço extraordinário. E terceiro, os comportamentos dos líderes da organização devem ser confiáveis a ponto de serem seguidos.


 À alta administração, são recomendáveis, afirma Hamel, os seguintes pontos indicados na grande pesquisa: A - deve estar sinceramente interessada no bem-estar dos empregados; B – deve se comunicar com abertura e honestidade; C – deve transmitir as razões das decisões empresariais; D – deve ser visível e acessível; E – as decisões devem ser compatíveis com os valores da organização.

Já os trabalhadores, devem protagonizar a carreira profissional com ênfase na construção do próprio futuro, sendo-lhes interessante manter um cíclico programa de aperfeiçoamento profissional intercalado com os novos desafios do trabalho e da acelerada dinâmica econômica e social em curso, imprescindível para conduzir a carreira sempre em tempo bom.   


Como vimos, a atmosfera do engajamento laboral aponta 21% de empregados apaixonados por seus locais de trabalho. Coincidentemente, a atmosfera terrestre se compõe dos mesmos 21% de oxigênio. Dessa maneira, os gestores devem melhorar o clima de suas organizações, oxigenando, pelo próprio exemplo, todo o corpo de colaboradores. Afinal, concluiu Hamel: para os empregados serem entusiásticos, apaixonados e vibrantes tanto quanto poderiam ser, não espere o trabalho sugar. Melhor fazer a administração soprar.    





Publicado no jornal Cinform em 28/05/2012 – Caderno Emprego


segunda-feira, 14 de maio de 2012

Dia das Mães e o “day after”


     Ontem, Dia das Mães, certamente uma data especial. É quando almoçamos em família e dedicamos (ou deveríamos dedicar) uma atenção especial à mamãe – retribuição simbólica em relação à atenção que dela recebemos. Merece registro o efeito deste domingo de maio também para o comércio, considerado o segundo melhor período de vendas, perdendo apenas para o Natal.

Por todo esse simbolismo enriquecido por gestos amorosos de filhos para com as mães deles, esse dia dispensa maiores comentários. Assim, vamos nos ater ao dia seguinte (“day after”, em inglês) e todos os demais 360 e tantos dias que o sucedem até um novo Dia das Mães. Tão numerosos esses outros dias, que os fazem verdadeiro palco da luta cotidiana, o famoso dia a dia, representando muito mais o que é ser mãe, que o único dia do ano a ela consagrado.

Quando se desenvolve um trabalho educacional e formativo, como fazem as mães cuidando dos filhos de qualquer idade, percebe-se que só surtirá o efeito desejado quando realizado a longo prazo. Dessa forma, não há como crer que algo acontecido em um único dia, por mais poderoso e marcante que seja, será capaz de, por si só, resultar em efetivas mudanças. Isso porque, não se faz educação por decreto, mas apenas através de um trabalho cotidiano e repetitivo, capaz de criar hábitos e solidificar graus de crescimento moral, volitivo, social e cognitivo nos educandos.

Esse é o grande papel exercido pelas mães na sociedade – zelar pela coerência e persistência de um cotidiano saudável para a formação do código moral e ético nos filhos. Cada vez mais, a permanente orientação firme e amorosa de uma mãe é necessária para a criação harmoniosa das crianças em virtude da crise moral e institucional crescente que vivemos.Hoje,questionamos os valores morais coletivos e institucionais, a exemplo da igreja ou da pátria, e nada repomos no lugar. E se rejeitamos esses padrões coletivos, criamos novos códigos éticos pessoais a partir de que fontes? Ofertar essa fonte é o dever que uma nova escola e família devem propiciar. Porém, enquanto nos ocupamos prioritariamente com a formação cognitiva na esperança de termos jovens inteligentes, podemos estar dando um tiro no próprio pé: desenvolver uma inteligência egoísta, destrutiva socialmente e, portanto, poderosa mas carente de um repertório de valores morais elevados.

Mais do que ser um adulto que gera crianças, à mãe, cabe o mérito de ser alguém que gera adultos a partir de crianças. Essa é a heroica saga da mulher numa família, papel compartilhado com o homem, mas não transferível por razões de íntima essência da alma feminina, perfeitamente integrada a um corpo que também não transfere ao homem o ventre fecundo e o poder de alimentar um filho ao seio.

Vivemos em um País que reconhece e remunera muito bem a formação escolar. O Prof. Marcelo Neri, da Fundação Getúlio Vargas – FGV - ,afirma, a partir de exaustivas pesquisas socioeconômicas, que o Brasil incrementa os salários em 15%,em média, por ano de escolaridade. Isso comprova o que já faz parte do discurso das famílias que se sacrificam e insistem na boa educação dos filhos, pois, sabiamente entendem que bons professores são caros; maus professores, mais ainda.

Como uma estadista do lar, a mãe nos ensina o sentido da fé com a convicção de que o longo prazo nos resgatará de qualquer situação adversa atual. Prega também a certeza de que o maior inimigo de nossos sonhos é ceder ao imediatismo sedutor. E isso é feito, incansavelmente, nos 366 dias do ano, quando bissexto.

Nosso mais profundo respeito às mamães. Afinal, a sabedoria popular ensina: “A mão que embala o berço governa o mundo”, o que reafirma o erudito Goethe, nas palavras finais da segunda parte de Fausto: “O eterno feminino nos eleva”.




Publicado no jornal Cinform em 14/05/2012 – Caderno Emprego