terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Os 80 anos da roupa vermelha do Papai Noel



     Diz a lenda que o bom velhinho surgiu no ano 280 d.C., inspirado na figura de um bispo chamado Nicolau, nascido na Turquia, pessoa extremamente bondosa para com os pobres. O bispo deixava saquinhos com moedas próximos às chaminés das casas.


     O relato dos milagres realizados por Nicolau, de várias pessoas, levou à canonização do bispo como São Nicolau. Na Alemanha, associou-se a imagem do São Nicolau ao Natal, espalhando-se pelo mundo com diversos nomes atribuídos ao bom velhinho. Nos Estados Unidos, é Santa Claus; na Argentina, Papá Noel; em Portugal, Pai Natal, e no Brasil, Papai Noel.


     Até o início do Século XX, São Nicolau era apresentado com roupas de inverno verdes ou marrons. Em 1886, o cartunista alemão Thomas Nast recria a imagem do Papai Noel com as roupas vermelhas, botas e cinto pretos, tal como conhecemos hoje. Essa nova imagem, porém, publicada no mesmo ano na revista Harper´s Weeklys, só vem a se institucionalizar em 1931, há 80 anos, a partir de uma grande campanha publicitária da Coca-Cola, que vislumbrou a conveniência da cor vermelha de sua marca à nova imagem do Papai Noel. Assim, a roupa vermelha do Papai Noel vem do interesse comercial da famosa marca de refrigerantes.


     Aliás, o marketing da Coca-Cola é pródigo em gerar imagens ideais para seus produtos. Além do Papai Noel vermelho, a Coca-Cola fez chegar ao front da Segunda Guerra Mundial, na Europa, seus refrigerantes para os soldados americanos, que pousaram como heróis em fotos enquanto brindavam vitórias com as emblemáticas garrafas. Diga-se, ainda, que estas garrafas de Coca-Cola são reconhecidas como um dos desenhos de produtos de maior sucesso mundial. Um verdadeiro clássico do design.


     Sou da opinião de que a lenda do Papai Noel é muito rica e desejável para a imaginação das pequenas crianças. Ela traduz uma imagem de que o mundo é bom, exatamente como acreditam as crianças menores de sete anos. Estas são as que se atiram para os pais ou outros que elas gostem, quando estão em algum lugar mais alto, para que estes a peguem em pleno ar, certamente movidas pela certeza de que o mundo é bom. E, dessa forma, nada de mal acontecerá.


     Aprofundemos sobre o Natal e suas características atuais. Toda essa linda História – com H mesmo – do Papai Noel está profundamente deturpada. Afinal, o Natal passou a ser visto como o evento de maior interesse comercial e o bom velhinho como o provedor do consumismo, enevoando a verdadeira motivação da data que é o nascimento do Menino Jesus. Parece que transformamos os shoppings em catedrais, ritualizamos nossas compras frenéticas, sacralizamos produtos industriais e, comumente, consumidores se tornam evangelizadores de marcas ícones, a exemplo da Apple.


     Com certeza, essa febre de bondade será efêmera, desfazendo-se como mágica já na primeira fatura pós-natalina do gordo cartão de crédito, que por sua vez, será desfibrilado para suportar os novos surtos e sustos do material escolar do início do ano. Paralelamente, os temporários papais noéis dos centros comerciais já estão a batalhar uma vaga em outra atividade para seu sustento, talvez de rei momo no carnaval ou de pai da noiva de algum casamento na roça junina. E, infelizmente, sem um direcionamento próprio, a vida de muitos continua subordinada a campanhas sazonais e capitalistas.


     Vamos gerar oportunidades de trabalhos, mesmo que temporários. Incentivemos o comércio justo e a legítima alegria de presentear a quem gostamos. Também vamos preservar a imagem bondosa e fraterna do Papai Noel. Contudo, busquemos sempre uma reflexão íntima sobre o verdadeiro espírito do Natal, no qual, a imaginação das crianças seja cultivada, que os presentes sejam motivados pela presença e não pela ausência, que o bom velhinho proteja, como um verdadeiro papai, a todos os que nele depositam a mais pura confiança.


     E que a árvore de natal represente o reino vegetal, convertido cotidianamente pelo trabalho dos homens, em pão e vinho, corpo e sangue d’Aquele a quem o verdadeiro Natal se reporta.  Feliz Natal!





Publicado no jornal Cinform em 19/12/2011 – Caderno Emprego


terça-feira, 29 de novembro de 2011

Ensino Fundamental com que idade?



     A polêmica Resolução do Conselho Nacional de Educação – CNE,  estabelece a idade mínima de seis anos completos até o dia 31 de março do ano para a criança ser matriculada no Ensino Fundamental. Naturalmente há muita discussão sobre a pertinência da norma, bem como sobre eventuais desconfortos de sua aplicação aos pais que acompanham o desenvolvimento de seus filhos com grande expectativa, ou ansiedade.

Sabemos que os amadurecimentos neurológico e psicológico das crianças não são tão sincronizados ao calendário, como defendem os opositores da tal Resolução. Também sabemos que há crianças que aceitam a precocidade do processo de alfabetização com boa adaptação.


     Porém, existem inúmeras outras crianças que sofrem danos no seu crescimento, comprometendo a autoestima em maior ou menor grau por não conseguirem acompanhar as exigências cognitivas aceleradas e infrutíferas, impostas por uma escola que desrespeita seus direitos mais elementares, como por exemplo, concentrar suas energias no desenvolvimento do seu próprio corpo e dos seus sentidos, instrumentos que  necessitam ser saudáveis para o resto de suas vidas.


     Existem ritmos biológicos que são imutáveis e, como tais, devem ser considerados pela pedagogia para se iniciar adequadamente à alfabetização. O corpo da criança revela sinais de amadurecimento neurológico: a conclusão da troca de dentes, a proporção entre o tamanho da cabeça e o tamanho do corpo, o estirão que ocorre em torno dos seis anos e o controle do organismo sobre febres, entre outros.


     O resultado do Provinha Brasil demonstra que as crianças mais novas têm pior desempenho, segundo pesquisa da Fundação Carlos Chagas, realizadora do exame. Sendo assim, qual é o ganho de antecipar o ingresso no ensino fundamental? Será que esticando a grama ela crescerá mais rápido?  


     Vivemos uma febre de intelectualidade em nossos tempos, a qual ocasiona uma típica deformação social moderna. Ao aderirmos a essa exacerbada racionalidade, negligenciamos a outras capacidades humanas indispensáveis para a harmonia social. De que vale ser “inteligente” e ser um adulto inseguro? Ser “o primeiro da classe” e não saber respeitar a diversidade humana?  Ingressar na universidade aos dezesseis anos desconhecendo a própria vocação? Esses são alguns exemplos muito comuns. 

     Particularmente, nós, brasileiros, vivemos em uma profunda crise de valores, paralela a um apagão de criatividade e inovação tecnológica. Se de um lado produzimos muitos artigos científicos, do outro, temos pouquíssimas patentes. Ou seja, somos experts em colocar modelos no papel, mas não sabemos como realizá-los.


     “Se você quer que seu filho seja brilhante conte a ele contos de fadas. Se você o quer muito brilhante, conte-lhe ainda mais contos de fadas”, disse com toda propriedade Albert Einstein, gênio emblemático da racionalidade humana. Portanto, jamais podemos tirar o direito à infância de nossas crianças sem comprometer seu desempenho quando adulto. Foi o que disse a Carta da Rede Nacional Primeira Infância - RNPI - e Associação Brasileira de Magistrados, Promotores de Justiça e Defensores Públicos da Infância e da Juventude – ABMP - entregue a 1600 juízes, promotores públicos, defensores da infância e da juventude, advogados, estudantes de direito e vários outros profissionais que trabalham com crianças e adolescentes, no 23º Congresso da ABMP, em Brasília, no dia 5 de maio de 2010: “(...) Antecipar a entrada no ensino fundamental para a idade de cinco anos é uma forma de reduzir a infância e impor exigências que acabarão por produzir efeito contrário do desejado: estresse, desinteresse pela escola, reprovação e abandono. Mas o efeito mais pernicioso se instala no íntimo da criança e esse dificilmente será reparado, porque criança sem infância é, na grande parte dos casos, adulto infeliz.” Vale registro que esse documento foi encaminhado ao Senado por dezenas de instituições pedagógicas e de proteção à infância, incluindo-se a UNESCO e a UNICEF. 


     Sejamos radicalmente contrários à precocidade como regra a fim de não corrermos o risco de gerar uma legião de excluídos sociais, por um engano irreparável do sistema educacional. Muito cuidado. Semelhante ao erro médico existe o erro pedagógico – igualmente danoso. Acredite!




Publicado no jornal Cinform em 28/11/2011 – Caderno Emprego



terça-feira, 15 de novembro de 2011

Celular: a revolução inacreditável

 

     A telefonia celular marca a história da humanidade de forma totalmente inédita. Sabemos o quanto dependemos do telefone móvel e o quanto somos influenciados culturalmente por ele. Diz uma anedota que a forma como usamos o celular revela a nossa idade mental - IM. Se uma pessoa telefona para confirmar se alguém recebeu um sms ou e-mail que enviou, deve ter mais de 50 anos de IM.


     Se, ao contrário, o sujeito recebe uma mensagem e responde com uma só palavra, tipo OK, economizando escrita no incômodo teclado, então a esse se atribui uma IM de 40 a 50. Agora, um cidadão que manda um sms para informar que mandou um decadente e-mail, deve ter entre 30 e 40 anos de IM.


     Aos que possuem entre 20 e 30 anos de IM, o comportamento atribuído é a capacidade de escrever longos textos nos torpedos sem sequer olhar o teclado. Já os privilegiados jovens de IM abaixo de 20 são capazes de escrever seus sms com o celular dentro do bolso, sem que ninguém à sua volta perceba, nem pais ou professores, mesmo quando estão conversando com eles.


     Brincadeiras à parte, o fato é que a disseminação da telefonia celular ocorre de forma tão avassaladora que não existe nenhum paralelo na história humana. Mas se olharmos um gráfico comparativo entre o crescimento populacional do planeta e o incremento de consagrados produtos como PCs, TVs, internet e rádios FM, veremos que não há muita diferença. Quanto aos telefones celulares, o mesmo não se pode afirmar, pois eles logo serão mais numerosos que os sete bilhões de humanos existentes.


     O último levantamento feito por Tomi Ahonem, especialista em tecnologia móvel, revela que já são hoje 5,8 bilhões de contas de telefones móveis para 5,3 bilhões de pessoas alfabetizadas. Isto é, toda a população do planeta descontada dos adultos analfabetos e das crianças em idade pré-escolar. E tudo isso nasceu na década de 90.


     Os números dessa tecnologia móvel espantam a todos. É desconcertante saber que existem mais usuários de celular do que de escova de dente no planeta. Igualmente incômodo é vermos que há mais celulares que pessoas atendidas por eletricidade em casa. Assim, há ou não algo de especial acerca dos celulares?


     A ligação das pessoas com seus telefones celulares é tão forte que beira a compulsividade. De acordo com a Nokia, um cidadão comum consulta seu celular, em média, 150 vezes por dia. Ou seja, a cada 6,5 minutos ele dá uma olhadinha na tela do aparelho. Outro exemplo desse forte vínculo é que uma pessoa reclama da perda do celular em até 13 minutos após o fato, diferentemente dos cartões de crédito, cuja perda é comunicada no dia seguinte.    


      “Antes uma pessoa entrava numa casa em chamas para salvar fotografias. Hoje ela entra para resgatar seu telefone celular”, declarou Jeffrey Hayzlett, diretor de marketing da Kodak, em 2010. Outra pesquisa revela que as mensagens sms são respondidas em até quatro minutos, enquanto um email é respondido em 48 horas. Assim, os torpedos são 720 vezes mais rápidos que os e-mails.


     Essas constatações fazem do telefone móvel a sétima mídia de massa surgida no mundo, atrás dos impressos, das gravações, do cinema, do rádio, da TV e da internet. Isso significa que devemos dar atenção especial ao celular como uma mídia tão diferente da internet, da mesma forma que a TV é do rádio.


     Também na área das notícias, a Associated Press Managing Editors – APME – abriu a conferência anual em Denver, EUA, em setembro de 2011, com uma declaração bombástica: “o futuro das notícias está no celular”.  Bombástico também é vermos que o celular é a primeira mídia de massa pessoal, estando permanentemente conectado e sempre à mão.


     Além das interferências culturais citadas, o celular abala diretamente os seguintes serviços e produtos: relógios, serviços bancários, crédito, computadores, internet, telecomunicações, publicidade, música, jogos, transmissões, impressão, mapas, câmeras, aparelhos de saúde, entre outros. Aconselho: é melhor não se entusiasmar em demasia e equilibrar sua idade mental com a cronológica. Afinal, o mundo precisa mais de pessoas sãs do que de celulares amigáveis.





Publicado no jornal Cinform em 14/11/2011 – Caderno Emprego
Publicado na revista Tecnologia da Informação & Negócios nº 04/2011



terça-feira, 1 de novembro de 2011

PRONATEC : Vida ao Ensino Médio

 

     Recentemente a Presidente Dilma Rousseff sancionou a Lei que institui o Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e ao Emprego – PRONATEC.  Trata-se de uma importante iniciativa voltada a fomentar a formação e qualificação profissional de brasileiros de menor renda para melhor integração na economia formal. Este programa garante o acesso de estudantes de ensino médio, educação de jovens e adultos – EJA_, trabalhadores e beneficiários de programas federais de transferência de renda a cursos profissionalizantes custeados pelo governo federal.


     Temos que considerar que todos os passos dados no sentido de aumentar o acesso à educação (qualificada) é fundamental para a competitividade do Brasil no ambiente globalizado de hoje. A educação é o único caminho para o futuro próspero de qualquer nação na moderna e majoritária economia do conhecimento. Nesta, o capital intelectual, representado pela escolaridade, pesquisa, empreendedorismo e inovação, juntamente com o capital social nas suas diversas formas de relações de confiança e pertencimento grupal, são os determinantes do sucesso econômico. Deste modo, todo avanço educacional é bem-vindo e imprescindível.


     O nosso foco em questão é o agonizante ensino médio brasileiro, sobrevivente de uma profunda crise existencial. Se, por um lado, não responde às perguntas naturais de seu público alvo, adolescentes, em sua maioria, conectados em redes e inundados de informações digitais de baixa qualidade e fidedignidade, do outro lado, temos um ensino médio que não oferta aos jovens segurança nem competências para o trabalho que se avizinha.


     Devemos ser exigentes com a educação de nossos jovens, para que se possa romper, de uma vez por todas, os ciclos perversos de pobreza institucionalizada, rico manancial de votos para os maus políticos. Precisamos aprender a sonhar alto, a não nos contentarmos com o medíocre e a não aceitarmos desculpas fajutas que tentam justificar a baixa qualidade do ensino. Como cidadãos, devemos cobrar de todos uma educação comprometida com o contexto real e com a conquista da liberdade. Aliás, a liberdade é a grande culminância da educação. Só educados, verdadeiramente, seremos livres para exercermos nossas escolhas conscientemente.


      “De resto, abomino tudo aquilo que me instrui sem aumentar e estimular imediatamente a minha atividade”, dizia Goethe, poeta e visionário alemão do século XVIII.  Ou seja, só desejamos a educação que nos fortaleça o pensar através da ação e da atitude. Se não atender a tal premissa, tem-se cultura-inútil e indesejada pelo aluno-vítima.


     Nesse novo cenário redesenhado pelo PRONATEC, o ensino médio ganhou um poderoso aliado no fortalecimento da autoestima dos alunos, no desenvolvimento de talentos e na aplicação direta de conhecimentos escolares: a educação profissional. O contato dos jovens com instrutores, profissionais de diversas áreas do conhecimento e da tecnologia se torna um excelente estímulo ao amadurecimento pessoal e ao compromisso com o próprio futuro. A educação profissional, especialmente aquela realizada por meio de cursos técnicos concomitantes com o ensino médio, materializa o importante, mas até então raquítico, pilar da educação “Aprender a Fazer” dentro da escola.


     Cabe agora a todos que trabalham com educação, estimular nossos alunos das redes públicas a fazerem suas escolhas na direção de uma formação profissional qualificada, chave para o acesso ao emprego melhor remunerado e ao curso superior mais claramente escolhido. Ambos, caminhos capazes de assegurar uma ascendente mobilidade social e a consolidação de uma classe média preponderante como estrato social brasileiro.


     Merece registro a integração entre os principais agentes de educação profissional do país na formulação do PRONATEC, capitaneada pelo MEC. Os Institutos Federais, as Entidades integrantes do Sistema “S”, as Secretarias Estaduais de Educação que convergiram sabiamente para um só objetivo: melhorar a educação no Brasil. Afinal, como disse o estadista francês Charles de Gaulle, “não se pode governar um país que tem 246 variedades de queijo”. 




           Publicado no jornal Cinform em 31/10/2011 – Caderno Emprego
Publicado no Jornal do Comércio / SE – Editorial out/2011



terça-feira, 18 de outubro de 2011

Professor em dia



     Em 15 de outubro comemora-se o Dia do Professor. E para festejá-lo, fiz este reflexivo texto. Costumo afirmar que o educador é um trabalhador extremamente privilegiado quando comparado a outros profissionais. Sei que muitos leitores estão prontos a discordar dessa comparação por inúmeras razões bem sabidas, a exemplo de baixos salários, más condições de trabalho, entre outros. Porém, reafirmo que temos o privilégio de contar com o tempo a nosso favor, diferentemente dos demais profissionais.

     Quando semeamos um bom trabalho pedagógico com jovens, o tempo reforça o crescimento dessa semente, fecundando o campo do caráter. Nas demais profissões, há uma permanente e inglória luta contra o tempo destruidor. Mas, enxergar isso é uma dádiva dos deuses aos que têm compromisso com seus alunos e exercitam a visão de longo prazo. “Há pessoas de visão perfeita que nada vêem... O ato de ver não é coisa natural. Precisa ser aprendido”, diz doutor Rubem Alves, convincente.


     A Pedagogia Waldorf valoriza ao extremo o compromisso do mestre com seus alunos, levando-o a lecionar como professor de classe durante todo o ensino fundamental, isto é, oito anos na mesma turma, crescendo – pessoalmente - junto às crianças. Disso resulta uma forte interação e profundo conhecimento sobre cada jovem em sua vida escolar e familiar.


     É nesse compromisso do professor que aprofundaremos. A figura do mestre representa para o estudante muito mais que a imagem de um rotineiro profissional prestador de serviço. Esse docente deve espelhar um modelo futuro de adulto a ser copiado. Assim, estabelece-se uma relação cármica, ou seja, o destino do jovem está em grande parte nas mãos dos seus professores. Menos pelo conteúdo transmitido e mais pelo conjunto praticado de valores e atitudes. Isso aumenta muito a responsabilidade dos educadores.


     Para ilustrar melhor o compromisso do verdadeiro educador com seus alunos, temos uma emocionante história real. Henryk Goldszmit, nascido em 1878, na cidade de Varsóvia, Polônia, filho de uma rica família de judeus, ele sofreu permanentes ameaças do pai, doente mental, que gastava todo o patrimônio em tratamentos ineficientes até falecer em um hospício no ano de 1896, deixando a todos em situação miserável.


     Tal vivência deu forma à causa que Henryk abraçaria por toda a sua vida. Ele repudiou a frequente tirania dos poderosos sobre os fracos e a tirania dos adultos sobre as crianças. Para cumprir sua missão, ingressou na medicina, especializando-se em pediatria.


     Henryk também começou a escrever e publicar suas experiências entre a população carente. Além disso, adotou o nome de Janusz Korczak, pelo qual ficou mundialmente conhecido como o médico que cuidava dos miseráveis e advogava a causa das crianças.  Em 1912, Korczak decidiu deixar a medicina para dedicar-se exclusivamente a dirigir orfanatos conforme a “República das Crianças”, idealizada por ele em sua famosa obra “Como Amar Uma Criança”.


     A partir do momento que sua cidade foi tomada pelos alemães, Korczak se viu forçado a deslocar seus órfãos para o recém-criado Gueto de Varsóvia. Mesmo com toda a precariedade, por dois anos, ele e sua equipe cuidaram das crianças mantendo certa normalidade nas atividades pedagógicas de rotina, inclusive de recitais de música e de fazer apresentações teatrais.


     Em julho de 1942, os nazistas começaram a transferir os habitantes do Gueto de Varsóvia para o campo de extermínio de Treblinka. Em 5 de agosto daquele ano, aqueles 200 órfãos marcharam sob a liderança de Korczak, de cabeça erguida rumo ao trem que os aguardava. Apesar das ofertas anteriores de salvo-conduto, Korczak permaneceu nas suas incumbências.


      “Não se abandona uma criança doente ou carente durante a noite. Eu tenho 200 órfãos. Num momento como esse, vou ficar ao lado deles a cada minuto”, afirmou. Na última ocasião em que Korczak foi visto, ele mais uma vez estava prestando auxílio às suas crianças – no interior do trem.


     Caro professor, compromisso é acreditar que “os anos ensinam muitas coisas que os dias desconhecem”.





Publicado no jornal Cinform em 17/10/2011 – Caderno Emprego



terça-feira, 4 de outubro de 2011

Intraempreendedorismo. Serve para quê?




     Na economia do conhecimento as micro e pequenas empresas captam  melhor as oportunidades de negócios inovadores. Esta afirmação se comprova quando analisamos as marcas mais valiosas do mundo e vemos a maior parte delas criadas a menos de três décadas e, invariavelmente, nascidas em garagens, alojamentos estudantis ou bibliotecas de campus universitário. É o caso da Microsoft, Google, Apple, Facebook, entre outras. No caso do Google, a proeza de se tornar a marca mais valiosa do planeta foi conseguida em menos de dez anos.


Conta-nos a história que o conceito de interface gráfica para computadores pessoais nasceu na Xerox com o nome de Alto. O jovem Steve Jobs, fundador da Apple, astutamente conseguiu uma visita à Xerox para conhecer o projeto e, com sua inteligência superior, se apropriou destes conceitos inovadores para disponibilizá-los rapidamente no seu novo sistema operacional para computadores Macintosh. Este lançamento inovador revolucionou o mercado a tal ponto de se tornar inspirador (para não falar em pirataria) da Microsoft ao lançar o primeiro Windows. Também faz parte da história a dependência imposta pela pequena Microsoft a gigante IBM na década de 80 por meio do DOS, desenvolvido por Bill Gates para os inovadores computadores pessoais da Big Blue.


Como se vê, as micro empresas que atuam na área de conhecimento intensivo levam vantagens sobre as grandes organizações hierarquizadas, susceptíveis a ruídos de comunicação interna, cheias de entraves nos processos internos e movidas com grande energia inercial, resistentes, portanto, a mudanças velozes.


A partir desse cenário de perda de competitividade, as maiores corporações passaram a incentivar o desenvolvimento de atitudes empreendedoras nos seus quadros  de empregados. A este empreendedorismo interno nas empresas dá-se o nome de intraempreendedorismo. Algumas dessas grandes organizações conseguem realizar bem este desafiante intento, a exemplo da atual Apple, da 3M e da Google, para citar algumas. As demais, na sua maioria, ainda não conseguem consolidar o intraempreendedorismo como práxis institucional. Por quê?


O intraempreendedor é um colaborador da empresa disposto a ousar mudanças nos seus produtos e processos visando inová-los, como forma de manter a competitividade e o pioneirismo da marca. Desta forma, são eles que provocam as novas idéias, analisam cenários mais livremente e não temem correr riscos. Então, são poucas as empresas capazes de assimilar bem um funcionário que desacomode as estruturas internas de poder. Porém, se essa resistência à mudança acontece de forma muito intensa, é hora de acender o sinal amarelo porque a dinâmica empresarial moderna já não permite estruturas pesadas, arcaicas ou autoritárias.


O intraempreendedor é movido pelo questionamento e inconformismo. Com razão, afinal qualidade e superação sempre são possíveis em todos os produtos, serviços e processos criados pelo homem. Para isso, seu perfil é de buscar desafios, manter-se em constante aprendizado, ser criativo e apaixonado pelo que faz. Além disso, deve estabelecer metas, ter iniciativa, ser eficiente, planejar e acompanhar seus projetos, ser altamente comprometido, persistente, convincente, atualizado e autoconfiante.


Convém lembrar que saber trabalhar em equipe e ser confiável são pré-requisitos basilares para o profissional bem sucedido, não perdendo de vista que somos todos falíveis e que mesmo os erros honestos podem acarretar prejuízos para as organizações. O intraempreendedor, portanto, sabe que quem arrisca se expõe mais a possíveis demissões e assim crê: calcular riscos é fundamental e inovar é sagrado.  


Devemos levar em conta que o intraempreendedor será bem aceito se a empresa for preparada estrategicamente para mudanças e não possuir gestão centralizadora. No mais, é aceitar incertezas e considerar que nenhum risco que corrermos na carreira profissional será maior que aquele assumido quando nascemos. Afinal, ninguém sai vivo dessa vida. Boa sorte!


 

Publicado no jornal Cinform em 03/10/2011 – Caderno Emprego

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Para quem trabalhamos?



     Nos minutos em que se lê este texto, um número infinito de pessoas realiza seus trabalhos. Certamente, muitos estão preparando produtos ou serviços para nós mesmos. São anônimos trabalhadores que, juntamente com os empregadores, fazem parte de uma imensa rede de atividades econômicas posta à nossa disposição.


O advento da revolução industrial promoveu incrementos de produtividade inimagináveis se comparados à própria capacidade humana. Dessa forma, um trator realiza a mesma tarefa que 50 homens, por exemplo. Semelhantemente, um tear industrial substitui dezenas de trabalhadores.


Do ponto de vista ambiental, o ganho de produtividade e o elevado consumo de energia têm promovido impactos desastrosos, por demais divulgados. Já sob a ótica social, essa nova relação de trabalho, decorrente do uso intensivo de tecnologias e larga produção de excedentes, traz uma inovação de significado profundo, ainda hoje pouco assimilada culturalmente por todos. Trata-se da produção exclusivamente direcionada para terceiros.


Historicamente, associamos o trabalho à provisão de bens e insumos  necessários à manutenção de nossas famílias. Dessa maneira, o homem da idade média plantava para consumir, construía sua própria moradia, fabricava suas rudes ferramentas, domava os animais que serviam como alimentos, segurança e tração. Além disso, fiava suas vestes e produzia os utensílios domésticos, dentre outros afazeres como de cortar lenha para seu aquecimento.


Culturalmente, como foi dito, ainda enxergamos o nosso labor do dia a dia sob essa visão inadequada à moderna realidade presente. O que mudou? A mudança mais significativa se deu com a formação de uma imensa rede de serviços à nossa disposição, integrada por inúmeros e anônimos nós e canais de relacionamento. Simbolicamente, a internet revela a mesma topologia, isto é, a organização esquemática, refletindo a moderna estrutura econômica mundial, na qual ninguém mais trabalha para si e sua família.


Nesse contexto, a remuneração, em suas diversas formas de dinheiro, é o atual meio provedor de conforto, segurança e lazer das famílias de trabalhadores, e não mais a capacidade de trabalho físico aliada às habilidades de produzir diretamente tudo o que se necessita consumir.


Hoje, trabalhamos exclusivamente para os outros. E outros trabalham para nós. Muitos estão produzindo o pão que consumiremos mais tarde, a gasolina que utilizaremos adiante, o jornal que compraremos semanalmente, a aula que meu filho assistirá, o filme que nos emocionará, a roupa da próxima estação que lhe cairá muito bem, e o remédio que esperamos não precisar usar. Simultaneamente, estamos todos trabalhando para suprir não sabemos quem. Mas temos consciência de que só sobreviveremos nesse mundo econômico se fizermos a parte que nos cabe da melhor maneira que pudermos.


Assim, se você produz cachorro-quente, por exemplo, sabe que seu sucesso profissional está baseado no seguinte principio pétreo: fazer o cachorro-quente da melhor forma que puder, mesmo sem saber quem irá degustá-lo.  Igualmente, deve pensar e agir o fabricante de pneus ou o de guarda-chuvas. Esse é o mundo atual onde quem ensina sobre licitações públicas nem sequer possui empresa fornecedora para governos. Ou, paralelamente, quem produz pregos em alta escala não necessitará nem de um segundo de sua imensa produção para assegurar seu abastecimento vitalício deste primitivo material de construção, devido a produção de excedentes que os modernos meios de produção nos garantem.


Com efeito, fazer o melhor que pudermos sem saber quem se beneficiará de nosso trabalho tem o mesmo significado que “fazer o bem sem olhar a quem”. Se formos conscientes disso, teremos a inédita oportunidade histórica de vivenciar a fraternidade diariamente por meio de nosso trabalho.


Fraternidade e confiança formam a base de toda atividade econômica moderna. Queiramos ver ou não, só nos realizaremos profissionalmente se nos educarmos para servir através de nosso trabalho. Então, desafio o leitor a fazer uma análise de seu trabalho observando quem se beneficia diretamente de suas atividades, e verá seguramente que é o ‘próximo’, por mais distante que seja.     





Publicado no jornal Cinform em 12/09/2011 – Caderno Emprego


segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Quem administra sua carreira profissional?



     Em uma rápida viagem no tempo, logo chegamos à época de nossos avós, especialmente às décadas de 1940 e 1950, quando viviam com escassez de emprego. Em Aracaju, por exemplo, nesse período só existia emprego na burocracia pública ou nos poucos bancos que por aqui operavam. Ademais, só uns raros e mal remunerados ofícios.


O emprego é uma aquisição recente na nossa estrutura econômica. Nossos antepassados criaram seus numerosos filhos tirando o sustento de pequenas unidades rurais e comerciais. Coisa muito difícil hoje.


Assim, construímos a sociedade atual alicerçada no emprego. Sonhamos com um bom emprego, mas pouco fazemos para chegar até ele. Por quê? Em geral, formamos gerações de seguidores e não de líderes. A escola premia os alunos que são mais passivos e cordatos com o status quo, aqueles que repetem a forma de pensar e interpretar do professor, em detrimento do pensamento próprio. Essa mesma escola prefere alunos que se mantenham limitados à esfera cognitiva, sem a respectiva atuação prática.


“O modelo educacional tradicional é impróprio para formar empreendedores porque condiciona à passividade”, afirma L.J. Filion, pesquisador canadense e um dos principais autores sobre empreendedorismo. Repetidamente afirmamos aqui que a boa educação deve atuar na formação do pensar, do sentir e do agir.


Infelizmente, só o pensar é educado pelos programas oficiais de nossas escolas. O desenvolvimento do sentir é apenas acompanhado indiretamente por elas, sendo formado pela convivência social espontânea - e perigosa - dos próprios alunos. Enquanto o agir é reprimido abertamente no atual sistema de ensino, pois, de nossas ações emergirão manifestações pessoais exteriores, decorrentes da vontade individual, que por não caber neste modelo combate-se desde cedo nas crianças. Pergunta-se: como podemos formar pessoas dinâmicas e inovadoras cuja atuação sempre trará mudanças à ordem das coisas?


Somos, muitas vezes, levados a pensar que, ao conseguir um emprego, tudo o mais de nossas vidas profissionais nos será dado pela empresa. Assim, acomodamo-nos passivamente. Ao mesmo tempo, vivemos a sensação de que algo decepciona nossas expectativas e nos voltamos contra o próprio emprego, alimentando um discurso destrutivo na tentativa de responsabilizar alguém pelo próprio fracasso.


Devemos imaginar que assim como no modelo escolar, em que evoluímos a cada ano, ao avançar para a série seguinte, inclusive trocando de escola, se necessário, fazemos acontecer a progressão e não aceitamos a repetição. Igualmente, devemos pensar em nossa carreira profissional: evoluir sempre. Olhar para frente objetivamente, definir onde queremos estar daqui a cinco ou dez anos, e fazer um plano para chegar lá. Esse plano, certamente, envolverá a construção de um itinerário formativo, contemplando os cursos e formações necessárias para se fazer cumprir o plano de carreira profissional. Esse é o caminho da liberdade que só a educação nos dá.      


De fato, todos nós conhecemos pessoas lamurientas e desagregadoras que sempre estão a falar mal das organizações que trabalham. Essa é a pior atitude profissional que se deve ter, pois representa a impotência e a incapacidade de decidir sobre a própria vida. Parecem esperar pelo “Messias” que vai resolver tudo para elas. Disso, surgem oportunistas que se apresentam como vendedores de ilusões para tirar proveito político do “sofredor”, num movimento perverso de retroalimentar sua baixa autoestima quando o saudável seria ajudá-lo a se emancipar do círculo vicioso de autodestruição.


Se não decidirmos por nossas próprias vidas, alguém o fará por nós, e dificilmente será em nosso favor. Este é um processo de terceirização de destinos, infelizmente tão presente em nossa terra brasileira. País que leva nossos jovens mais bem formados e talentosos a sonharem com concursos públicos e empregos burocráticos. Para muito longe, portanto, da atividade produtiva, única capaz de gerar riqueza e emprego para todos.   



 
Publicado no jornal Cinform em 29/08/2011 – Caderno Emprego
Publicado no Jornal do Comércio / SE – Editorial ago/2011

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Os quatro temperamentos humanos – Parte IV



     Ao final da nossa apresentação sobre o tema, apresentamos nesta edição mais dois temperamentos. O calmo fleumático e o forte colérico, opositores naturais. O fleumático – água - é possuidor de baixa energia e baixa excitabilidade. Voltado para dentro de si, está sempre ligado no seu próprio metabolismo. É calmo, acessível, agradável, e por isso, trabalha bem com os outros. É uma pessoa eficiente, conservadora, digna de confiança e espirituosa.


Fisicamente, o fleumático possui, em geral, olhos pequenos e sem brilho, mas o olhar, diferentemente do melancólico, é disposto e amigável. No seu rosto, tudo tende mais para o arredondado, o esférico, o que se traduz em uma expressão facial amável. Seu andar é bamboleante tal como se faz ao pisar na água. 


Gosta de se sentar para observar a pressa dos outros, sem se envolver diretamente nessas atividades e achando tudo divertido. Caracteriza-se também por adorar viver nos processos da gustação e desfrutar os importantes processos de ingestão de alimentos. Tende à obesidade e é fortemente ligado nos processos vitais. Vê o corpo como um laboratório de processamento do humor, isto é, se o metabolismo está bom, assim também estará o humor.


Vive muito no presente interior, tem facilidade de observar tudo o que se passa à sua volta, mas não costuma reagir. Tem alguma lentidão para entender o que lhe dizem assim como para agir. Contudo, uma vez entendido, gravará para sempre a informação. É um músico tranqüilo, a exemplo do instrumentista que toca um contrabaixo em um grupo de jazz ou rock, ou seja, destaca-se pela estabilidade em oposição aos demais da banda. A música ‘Deixa a vida me levar’, de Zeca Pagodinho, revela a fleuma típica. Na Bíblia é representado pelo cauteloso Abraão, que sempre precisou de estimulo externo para agir.


No trabalho é altamente organizado, zeloso, cuidadoso, persistente, tradicionalista e metódico, além de preso às normas. O aspecto negativo é a tendência à morosidade e indecisão. Em contrapartida, aceita como ninguém as rotinas mais rígidas.


Suas características são inigualáveis para artistas plásticos, cientistas, médicos, humoristas, auditores, contadores, diplomatas, professores, pesquisadores, dentre outras atividades que exigem disciplina e dedicação.


Por fim, o temperamento colérico – fogo, possuidor de alta energia e alta excitabilidade, é típico da pessoa aparentemente brava, líder, exigente, cumpridora dos deveres. Gosta de fazer as coisas e de vê-las terminadas. Extrovertido, sua cabeça fervilha de idéias otimistas. Seus olhos brilham irradiando o fogo interior da personalidade.


Quanto à forma de andar, o colérico pisa no chão com passos firmes, com o peso recaindo sobre os calcanhares. Em seu rosto, predomina a mandíbula e o pescoço é curto. É notável neste temperamento o predomínio do querer, que se caracteriza pela tendência de impor suas vontades sobre as dos outros, chegando facilmente a agir de forma impulsiva ou instintivamente. Costuma ter o chamado ‘pavio curto’.


Possui forte vínculo com o futuro e, por isso, precisa agir permanentemente. A energia do corpo necessita ser convertida em ações concretas e em enfrentamentos difíceis. Beethoven é um exemplo de compositor colérico, com suas peças completas e bem definidas. Mais popular, parece convergente o estilo musical de Alceu Valença.


Negativamente, costuma desprezar os que fracassam, toma decisões inquebrantáveis – é ‘cabeça dura’, se impõe acintosamente e tende a ser precipitado. A capacidade de realização aliada ao desejo de liderar e persuadir os demais faz do colérico um empreendedor nato. Dotado de espírito guerreiro, é ele que pavimenta a estrada por onde a humanidade caminhará.


Na Bíblia, Paulo revela as qualidades desse temperamento, antes de conhecer Jesus, quando era implacavelmente cruel com seus oponentes. No trabalho, possui a invejável performance de prosperar debaixo de oposição. Esbanja confiança, tem visão global, insiste na produção, é prático e realiza metas. Opostamente ao fleumático está o colérico. Devemos evitar a forte interação ou dependência mútua no trabalho e na escola, ou não se suportarão.





Publicado no jornal Cinform em 15/08/2011 – Caderno Emprego

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Os quatro temperamentos humanos – Parte III




Existem quatro temperamentos humanos distintos e cada pessoa possui um único que é resultante da combinação deles. Nesta edição, vamos focar mais precisamente nas qualidades inatas destes e em seus reflexos no humor das pessoas, já que são construídos a partir de dois pilares fundamentais: energia e excitabilidade.

 Por energia devemos entender a disposição pessoal para utilizar do poder e da força. Por excitabilidade, compreenderemos a sensibilidade a estímulos externos. Vistos a partir de um plano cartesiano, os temperamentos se polarizam ao definirem afinidades entre quadrantes vizinhos e oposição entre os polos. Consultorias em gestão de recursos humanos nas empresas nos fazem entender mais sobre os temperamentos de duas formas:

 O primeiro é o melancólico – terra -, possuidor de alta energia e baixa excitabilidade. Voltado para dentro de si, camufla seu potencial energético. É o mais questionador, filósofo, planejador. Movimenta a vida com as idéias. Costuma ser perfeccionista, sensível, analítico, abnegado e amigo leal. É introvertido e raramente se impõe. Para ele, a vida é difícil e não tem muitos enfeites. Costuma considerar que temos que pensar com mais seriedade.

Fisicamente, o melancólico possui olhos sem brilho e pálpebras pesadas, que lhe conferem uma aparência cansada, especialmente pela manhã. Na postura, gosta de manter a cabeça inclinada para frente ou para os lados e os ombros caídos. Seu andar é pesado, refletindo o peso gravitacional que o elemento terra lhe dá.

É muito intuitivo e têm forte apego ao passado. Não foge do sofrimento, mas por outro lado, parece que ele o atrai. Aprofunda-se nos assuntos, é persistente, fiel e cumpridor dos deveres.

Chopin, famoso músico, é um forte exemplo de melancólico. Também, a música ‘Nem um dia’ de Djavan se estrutura numa atmosfera de evidente melancolia. Na Bíblia, o representante é Moisés.

No trabalho, orienta-se pelo horário, exige altos padrões de desempenho, é econômico, ordeiro, gosta de gráficos e tabelas, é minucioso e detalhista.

Essa típica energia interior faz do melancólico um artista nato para artes mais intimistas como a poesia e a pintura. Tem vocação para a educação, à pesquisa e à invenção. Seu olhar profundo lhe dá compreensão superior na observação de fenômenos naturais e relacionamentos humanos. Porém, carece de apoio externo para realizar suas idéias.

A segunda forma é a do sanguíneo – ar -, possuidor de baixa energia e alta excitabilidade, é voltado para fora, dotado de elevado dinamismo e superficialidade. É uma pessoa amigável, calorosa e simpática. Atrai as pessoas como se fosse um imã. Tem boa prosa, é otimista e despreocupado. Faz o tipo que alegra a festa. Adapta-se como ninguém ao meio ambiente e se ajusta aos sentimentos alheios. Seus olhos brilham e sua boca está sempre pronta para falar alguma coisa.

Caracteriza-o ainda o andar leve e flutuante, como se desconsiderasse a gravidade. Assim como o ar, seu elemento, o sanguíneo, preenche todos os espaços e o induz a fazer várias coisas ao mesmo tempo. Não tolera normas e rotinas, vive o presente exterior e tem dificuldade de se fixar em um assunto. Reage e se empolga com estímulos externos.

A aptidão pela música é tão forte que nos permite confirmar que o som só se propaga através do ar, seu elemento. Mozart, compositor, é um clássico exemplo, com sua genialidade e leveza musical. Típica, também é ‘A festa’ de Ivete Sangalo. Parece ser o temperamento majoritário da Bahia, com sua festa inesgotável e a frenética renovação de ritmos, danças e ausência de rituais disciplinados, exceto o de mandar a galera ‘tirar o pé do chão’.

A capacidade de adaptação aliada ao desejo de ser o centro das atenções faz do sanguíneo um artista nato do teatro e da música. Na Bíblia, Eva revela a natureza desse temperamento ao se deixar seduzir inconsequentemente.

No trabalho, é excelente vendedor, relações públicas, orador, recepcionista, enfim, desenvolve bem atividades que envolvem interação rotativa entre pessoas.

Como se vê, opostamente ao melancólico está o sanguíneo. Assim, convém evitar a interação forte entre ambos nos ambientes de trabalho e escola, ou um irá exaurir o outro.

(continua)  


Publicado no jornal Cinform em 01/08/2011 – Caderno Emprego