Em 15 de outubro comemora-se o Dia do Professor. E para festejá-lo, fiz este reflexivo texto. Costumo afirmar que o educador é um trabalhador extremamente privilegiado quando comparado a outros profissionais. Sei que muitos leitores estão prontos a discordar dessa comparação por inúmeras razões bem sabidas, a exemplo de baixos salários, más condições de trabalho, entre outros. Porém, reafirmo que temos o privilégio de contar com o tempo a nosso favor, diferentemente dos demais profissionais.
Quando semeamos um bom trabalho pedagógico com jovens, o tempo
reforça o crescimento dessa semente, fecundando o campo do caráter. Nas demais
profissões, há uma permanente e inglória luta contra o tempo destruidor. Mas,
enxergar isso é uma dádiva dos deuses aos que têm compromisso com seus alunos e
exercitam a visão de longo prazo. “Há pessoas de visão perfeita que nada
vêem... O ato de ver não é coisa natural. Precisa ser aprendido”, diz doutor Rubem
Alves, convincente.
A Pedagogia Waldorf valoriza ao extremo o compromisso do mestre
com seus alunos, levando-o a lecionar como professor de classe durante todo o
ensino fundamental, isto é, oito anos na mesma turma, crescendo – pessoalmente
- junto às crianças. Disso resulta uma forte interação e profundo conhecimento
sobre cada jovem em sua vida escolar e familiar.
É nesse compromisso do professor que aprofundaremos. A figura do
mestre representa para o estudante muito mais que a imagem de um rotineiro
profissional prestador de serviço. Esse docente deve espelhar um modelo futuro
de adulto a ser copiado. Assim, estabelece-se uma relação cármica, ou seja, o
destino do jovem está em grande parte nas mãos dos seus professores. Menos pelo
conteúdo transmitido e mais pelo conjunto praticado de valores e atitudes. Isso
aumenta muito a responsabilidade dos educadores.
Para ilustrar melhor o compromisso do verdadeiro educador com seus
alunos, temos uma emocionante história real. Henryk Goldszmit, nascido em 1878,
na cidade de Varsóvia, Polônia, filho de uma rica família de judeus, ele sofreu
permanentes ameaças do pai, doente mental, que gastava todo o patrimônio em
tratamentos ineficientes até falecer em um hospício no ano de 1896, deixando a
todos em situação miserável.
Tal vivência deu forma à causa que Henryk abraçaria por toda a sua
vida. Ele repudiou a frequente tirania dos poderosos sobre os fracos e a
tirania dos adultos sobre as crianças. Para cumprir sua missão, ingressou na
medicina, especializando-se em pediatria.
Henryk também começou a escrever e publicar suas experiências
entre a população carente. Além disso, adotou o nome de Janusz Korczak, pelo
qual ficou mundialmente conhecido como o médico que cuidava dos miseráveis e
advogava a causa das crianças. Em 1912,
Korczak decidiu deixar a medicina para dedicar-se exclusivamente a dirigir
orfanatos conforme a “República das Crianças”, idealizada por ele em sua famosa
obra “Como Amar Uma Criança”.
A partir do momento que sua cidade foi tomada pelos alemães,
Korczak se viu forçado a deslocar seus órfãos para o recém-criado Gueto de
Varsóvia. Mesmo com toda a precariedade, por dois anos, ele e sua equipe
cuidaram das crianças mantendo certa normalidade nas atividades pedagógicas de
rotina, inclusive de recitais de música e de fazer apresentações teatrais.
Em julho de 1942, os nazistas começaram a transferir os habitantes
do Gueto de Varsóvia para o campo de extermínio de Treblinka. Em 5 de agosto
daquele ano, aqueles 200 órfãos marcharam sob a liderança de Korczak, de cabeça
erguida rumo ao trem que os aguardava. Apesar das ofertas anteriores de
salvo-conduto, Korczak permaneceu nas suas incumbências.
“Não se abandona uma
criança doente ou carente durante a noite. Eu tenho 200 órfãos. Num momento
como esse, vou ficar ao lado deles a cada minuto”, afirmou. Na última ocasião
em que Korczak foi visto, ele mais uma vez estava prestando auxílio às suas
crianças – no interior do trem.
Caro
professor, compromisso é acreditar que “os anos ensinam muitas coisas que os
dias desconhecem”.
Publicado no jornal Cinform em 17/10/2011 –
Caderno Emprego
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