Diz
a lenda que o bom velhinho surgiu no ano 280 d.C., inspirado na figura de um
bispo chamado Nicolau, nascido na Turquia, pessoa extremamente bondosa para com
os pobres. O bispo deixava saquinhos com moedas próximos às chaminés das casas.
O
relato dos milagres realizados por Nicolau, de várias pessoas, levou à canonização
do bispo como São Nicolau. Na Alemanha, associou-se a imagem do São Nicolau ao
Natal, espalhando-se pelo mundo com diversos nomes atribuídos ao bom velhinho.
Nos Estados Unidos, é Santa Claus; na Argentina, Papá Noel; em Portugal, Pai Natal ,
e no Brasil, Papai Noel.
Até
o início do Século XX, São Nicolau era apresentado com roupas de inverno verdes
ou marrons. Em 1886, o cartunista alemão Thomas Nast recria a imagem do Papai
Noel com as roupas vermelhas, botas e cinto pretos, tal como conhecemos hoje.
Essa nova imagem, porém, publicada no mesmo ano na revista Harper´s Weeklys, só
vem a se institucionalizar em 1931, há 80 anos, a partir de uma grande campanha
publicitária da Coca-Cola, que vislumbrou a conveniência da cor vermelha de sua
marca à nova imagem do Papai Noel. Assim, a roupa vermelha do Papai Noel vem do
interesse comercial da famosa marca de refrigerantes.
Aliás,
o marketing da Coca-Cola é pródigo em gerar imagens ideais para seus produtos.
Além do Papai Noel vermelho, a Coca-Cola fez chegar ao front da Segunda Guerra
Mundial, na Europa, seus refrigerantes para os soldados americanos, que
pousaram como heróis em fotos enquanto brindavam vitórias com as emblemáticas
garrafas. Diga-se, ainda, que estas garrafas de Coca-Cola são reconhecidas como
um dos desenhos de produtos de maior sucesso mundial. Um verdadeiro clássico do
design.
Sou
da opinião de que a lenda do Papai Noel é muito rica e desejável para a
imaginação das pequenas crianças. Ela traduz uma imagem de que o mundo é bom,
exatamente como acreditam as crianças menores de sete anos. Estas são as que se
atiram para os pais ou outros que elas gostem, quando estão em algum lugar mais
alto, para que estes a peguem em pleno ar, certamente movidas pela certeza de
que o mundo é bom. E, dessa forma, nada de mal acontecerá.
Aprofundemos
sobre o Natal e suas características atuais. Toda essa linda História – com H
mesmo – do Papai Noel está profundamente deturpada. Afinal, o Natal passou a
ser visto como o evento de maior interesse comercial e o bom velhinho como o
provedor do consumismo, enevoando a verdadeira motivação da data que é o
nascimento do Menino Jesus. Parece que transformamos os shoppings em catedrais,
ritualizamos nossas compras frenéticas, sacralizamos produtos industriais e,
comumente, consumidores se tornam evangelizadores de marcas ícones, a exemplo
da Apple.
Com
certeza, essa febre de bondade será efêmera, desfazendo-se como mágica já na
primeira fatura pós-natalina do gordo cartão de crédito, que por sua vez, será
desfibrilado para suportar os novos surtos e sustos do material escolar do
início do ano. Paralelamente, os temporários papais noéis dos centros
comerciais já estão a batalhar uma vaga em outra atividade para seu sustento,
talvez de rei momo no carnaval ou de pai da noiva de algum casamento na roça
junina. E, infelizmente, sem um direcionamento próprio, a vida de muitos
continua subordinada a campanhas sazonais e capitalistas.
Vamos
gerar oportunidades de trabalhos, mesmo que temporários. Incentivemos o
comércio justo e a legítima alegria de presentear a quem gostamos. Também vamos
preservar a imagem bondosa e fraterna do Papai Noel. Contudo, busquemos sempre
uma reflexão íntima sobre o verdadeiro espírito do Natal, no qual, a imaginação
das crianças seja cultivada, que os presentes sejam motivados pela presença e
não pela ausência, que o bom velhinho proteja, como um verdadeiro papai, a
todos os que nele depositam a mais pura confiança.
E
que a árvore de natal represente o reino vegetal, convertido cotidianamente
pelo trabalho dos homens, em pão e vinho, corpo e sangue d’Aquele a quem o
verdadeiro Natal se reporta. Feliz
Natal!
Publicado no jornal Cinform em 19/12/2011 –
Caderno Emprego
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