Neste
ano, ocorrerá a edição Rio+20, em junho, na mesma cidade do Rio de Janeiro.
Certamente, será um balanço das ações desenvolvidas no cumprimento da Agenda
21, documento subscrito por 175 nações, derivado dos debates e notas técnicas,
que recomenda regras harmoniosas de convivência social, ambiental e econômica,
ao oferecer bases para que cada país elabore seu plano de preservação
ambiental.
A Rio 92 ou Eco 92 foi, na realidade, a segunda
Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento. Nela,
estiveram presentes 108 governantes de países, fato que conferiu a este evento
o título de maior reunião de chefes de Estado da história da humanidade. As
reuniões menores que se seguiram não obtiveram o mesmo glamour e apresentaram
mais divergências que convergências nas suas propostas, a exemplo de Kyoto e
Copenhagen.
Fracassos
e expectativas frustradas à parte, devemos reconhecer que a Rio 92 ditou os
passos da sustentabilidade e consolidou modelos que hoje estão no repertório
dos currículos escolares e nas políticas públicas do Brasil e de muitos outros
países. As questões ambientais, sociais e o desenvolvimento sustentável estão
diariamente nas manchetes da grande mídia. O conhecimento sobre preservação
ambiental está disponível para todos. Infelizmente, a situação ambiental se
agravou nesses últimos vinte anos, provando que o conhecimento em si não é
suficiente quando carece de atitudes e vontades compatíveis.
Com
efeito, além das significativas questões culturais e da nova visão de mundo que
a Rio 92 trouxe, existem dois importantes passos tecnológicos para o Brasil
ainda desconhecidos por muitos: o primeiro é a implantação da telefonia celular
compatível com outros sistemas em operação nos países centrais. A cidade do Rio
de Janeiro, à época, já disponibilizava uma pequena cobertura para alguns
poucos telefones celulares, cuja adesão custava US$ 20 mil ao assinante.
O
País vivia um grande embate sobre a liberação de editais de bandas de telefonia
celular no STF, porém, a demanda dos participantes da Rio 92 fez com que a
Telerj, corajosamente, ofertasse 40 mil novos terminais a preços bem mais
competitivos e com sistemas compatíveis com outros celulares no país e fora
dele. Nasceu aí a primeira oferta de telefones celulares em escala no país.
O
segundo passo tecnológico é a ligação pioneira da internet fora das
universidades brasileiras. As exigências de comunicação do evento, aliadas à
presença de 9 mil organizações não governamentais – ONGs - participantes do
Fórum Global, evento paralelo à Rio 92, fez com que a Telerj montasse uma linha
de comunicação entre a Conferência da Organização das Nações Unidas – ONU - e a
Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ -, para assim fazer a primeira
ligação da sociedade brasileira com a internet.
A
entidade responsável por prover esse acesso inaugural à internet mundial foi o
Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas – Ibase -, fundado pelo
sociólogo Hebert José de Souza, o Betinho, falecido em 1997,e pelos economistas
Carlos Afonso e Marcos Arruda. A procura pelos serviços de internet foi tão
grande que levou o Ibase a desmembrar o programa Alternex, transformando-o em
empresa comercial. Assim, enfrentando o distanciamento corporativo
universitário da sociedade, a dominadora estatal Embratel e a decadente reserva
de mercado da informática, surgiu o primeiro provedor brasileiro acessível ao
público à grande rede.
Como
vimos, a Rio 92 trouxe muito mais mudanças do que percebemos aparentemente.
Assim, concluímos que essa conferência da ONU representa um ritual de passagem
de uma sociedade crente nos recursos naturais inesgotáveis, mas sem celular e
internet, para uma sociedade ciente da escassez dos recursos naturais e das
inesgotáveis TICs – tecnologias da informação e comunicação –, que tem mais
contas de celular que habitantes.
Se,
no Brasil, 20 anos nos separam do passado, então, em Sergipe, o passado é menor
de idade, já que essas tecnologias só chegaram por aqui após 1994. Pensando bem,
nunca o passado foi tão próximo.
Publicado no jornal Cinform em 09/01/2012 –
Caderno Emprego
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