segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

Educação Profissional, Empreendedorismo e propósito de vida


O empreendedorismo na educação revela agradáveis surpresas aos educadores que vibram com o crescimento dos seus alunos. A mais imediata delas vem do ganho de maturidade e de vida interior no jovem que experimenta exercer um papel desafiador no mundo.
Afinal, empreender é, acima de tudo, um estilo de vida construtora de sonhos. Charles Lindbergh, pioneiro aviador solitário a atravessar o Atlântico em 1927, disse: “vivemos hoje os nossos sonhos de ontem”, ensinando que empreendedores são pessoas que possuem fortes vínculos com o futuro e estão sempre dedicados a construí-lo, modificando a ordem e promovendo a chamada “destruição criativa”, a serviço da humanidade de amanhã.
Poucas são as pessoas dotadas dos dons genéticos do comportamento empreendedor. A grande maioria delas, conquista esse comportamento por meio da educação difusa, isto é, adquirida pela cultura local, a partir do exemplo de pessoas próximas, formadoras de opinião e caráter.
 Melhor seria somar a essa cultura a educação formal nas escolas regulares e nas de educação profissional. Parece existir uma razoável dose de apatia nos adolescentes em relação à escola. O ensino médio perde identidade e razão de ser, assim apontam pesquisas para esclarecer os elevados índices de evasão e desinteresse dos alunos.
Porém, inúmeras experiências no Brasil e, destacadamente, em Sergipe, demonstram que a formação empreendedora realizada dentro da escola muda esse cenário. Com efeito, escola que fomenta o protagonismo juvenil tem menores índices de violência e depredação patrimonial; têm, seus alunos, melhor desempenho escolar e mais acesso ao emprego e aos cursos superiores.
Melhora ainda a escolha vocacional e dá ao estudante maior autonomia na vida, que se traduz como independência e autoconhecimento. Equivocadamente, uma palavra que sofre com preconceitos é “empreendedorismo”, uma vez que alguns a associam ao pensamento capitalista ou neoliberal. Ledo engano.
Ser empreendedor é ser construtor de sonhos, ser inconformado com a realidade atual e disposto a lutar para mudá-la em qualquer campo da atividade humana.
Então, personalidades notáveis como Irmã Dulce, Marechal Rondon, Juscelino Kubitscheck, Barão do Rio Branco, Barão de Mauá e, até o criativo candidato Enéas, são exemplos brasileiros de empreendedores, já falecidos, que atuaram em distintas áreas, sempre com a marca da inovação em suas guerreiras biografias, dotadas de propósitos claros.
Razão pela qual estamos ainda hoje citando eles. Minha experiência como educador reforça a tese favorável ao empreendedorismo. Sob a ótica pedagógica, o ensino do empreendedorismo na escola atende às indicações da Unesco para a educação no século XXI, especialmente na consecução de dois dos quatro pilares recomendados: Aprender a Fazer e Aprender a Conviver.
Por certo, esses são os pilares mais desafiadores para as escolas, por serem os mais difíceis de trabalhar em larga escala. Daí a prática orientada do empreendedorismo e do associativismo surgirem como solução.
Após minha decepção com as propostas votadas na CONAE 2014, motivo de artigo publicado nessa mesma coluna (edição 1651), reanimo ao ver alunos secundaristas do Pronatec/Senac-SE – pelo segundo ano consecutivo -, se destacarem nacionalmente, desta vez em dois concursos neste final de ano.
Conquistaram o terceiro lugar no II Prêmio Pronatec Empreendedor e, recentemente, em Brasília, outros alunos disputaram o Prêmio Nacional de Miniempresas Estudantis da Junior Achievement, ambos realizados na sede do Sebrae Nacional.
União perfeita de formação profissional com educação empreendedora. Mais importante que a projeção que esses jovens conquistam, está a visível, embora infinita, mudança na interioridade de cada um. Provando assim, que o que faz vencer na vida são atitudes empreendedoras diante de oportunidades comuns.
Dessas que são dadas a muitos ou a todos, mas que só os que aprendem a acreditar em si e desenvolvem a coragem de aceitar desafios, agarram. Parabéns queridos alunos. “Se você pensa que pode ou sonha que pode, comece. Ousadia tem genialidade, poder e mágica. Ouse fazer, e o poder lhe será dado”, Goethe.


Publicado no jornal Cinform de 22/12/2014 – Caderno Emprego


segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Conae 2014: Oportunidade perdida


Entre os dias 19 e 23 de novembro deste ano, aconteceu em Brasília a Conae 2014 – Conferência Nacional de Educação. Trata-se de um importante momento de debate sobre os destinos da combalida educação brasileira, reunindo 3500 delegados de todos os Estados do País, representando docentes, pais, gestores e alunos, das esferas pública e privada; além de observadores.
Pelo porte grandioso, a Conae se traduz em elevados gastos públicos, pois envolve hospedagens, traslados, refeições, passagens aéreas, locação de espaços e remuneração dos organizadores.
Isso significa que o suor brasileiro banca essa conta, aumentando, por certo, a responsabilidade dos delegados e a exigência de reciprocidade. Isto é, caberia aos delegados, no mínimo, a obrigação de pensar a educação levando em conta o nosso povo e seu contexto, real patrocinador do evento.
Lamentavelmente, isso não aconteceu, a priori. As plenárias dos diversos eixos temáticos, bem como a plenária final, foram palcos de torcidas ideológicas e acaloradas nas votações dos destaques.
Se, por um lado, isso parece saudável no debate democrático, lá se revelou um fracasso, à medida que buscou mais fragmentar que fortalecer o nosso envergonhado sistema educacional.
Lutar por concentrar mais recursos orçamentários foi o fundamento de muitos grupos organizados presentes. O discurso de buscar mais dinheiro para seu próprio nicho, ainda que a custa de destruir outros, não parece a melhor postura para quem se diz educador.
Faltou estatura a muitos delegados e até a uns tantos palestrantes também, ao distorcerem informações visando interesse pessoal e ao exercerem um olhar míope frente à realidade dos esquecidos brasileiros, especialmente, os mais necessitados dos serviços do Estado.
Não é novidade informar que nos indicadores de Educação Comparada, o Brasil se mostra sempre nos piores lugares. O Pisa (teste internacional de qualidade na educação), classifica o País assim: Em 2012, 65 países participaram do Pisa, quando em Matemática, o Brasil ficou no 58º lugar no ranking, com 391 pontos.  Na prova de Leitura, a nossa média foi de 410 pontos, o que levou a 55º posição. Em Ciências, o País ocupa a 59º colocação, com 405 pontos.
Frente a essa realidade tão discrepante com o nosso padrão econômico, devemos entender que a educação necessita da união de todos para a superação de sua insuficiência. Dessa forma, a disputa imatura de grupos pelos recursos alheios assegura a consolidação do desastre.
É um crime contra o cidadão impedir o acesso aos serviços prestados por uma Apae conveniada à Rede Pública, ou de um jovem de qualquer assentamento do MST a uma escola rural praticante da Pedagogia da Alternância, ou ainda, impedir o acesso a vagas compradas com recursos do Pronatec em boas escolas profissionalizantes.
  Recurso público só para o Serviço Público. Esse foi o mote cantado e festejado por muitos presentes na Conae, ignorando a verdadeira realidade dos brasileiros. Será que o Serviço Público possui condições de atendimento qualitativo e quantitativo aos que a ele recorre? Em quanto tempo terá?
Apostar nessa solução é ir na contramão da história dos bem sucedidos exemplos. Recurso público é para ser destinado a todos que dele verdadeiramente necessitem por meio de quem honesta e eficientemente realize bem o serviço ao cidadão.
Assim, é triste ver que muitos dos que se dizem representantes da inovação educacional sejam tão apegados a interesses próprios e mesquinhos, incapazes de pregar uma integração de soluções, na qual as melhores práticas servissem de modelos replicáveis. Deveria a Conae 2014 ser o teatro de operações da interação e integração de todos pelo salvamento da Educação brasileira, ambiente emblemático para a construção de um pacto nacional.
Considerando que o desejado pacto nacional pela Educação não ocorreu, resta crer que os legisladores e a Presidente Dilma terão a lucidez que o momento exige na construção do futuro do Brasil. Afinal, o futuro está diretamente relacionado com a qualidade e o acesso ofertados a nossos jovens e crianças. De nada valerão os dez pontos percentuais do PIB ou os royalties do pré-sal se os caminhos da educação não estiverem em mãos certas.



Publicado no jornal Cinform de 01/12/2014 – Caderno Emprego

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Endividamento e pobreza disfarçada


Disse o historiador inglês Thomas Fuller, no século XVII, que “a dívida é a pior pobreza”. Por certo, tal frase continua perfeitamente atualizada para o nosso século.
No Brasil não é diferente: pesquisas recentes afirmam que o brasileiro mantêm níveis de endividamento muito elevados, pois 41% dos entrevistados estão, ou estiveram com restrições ao crédito por inadimplência e 54% possuem dívidas que comprometem a renda mensal com parcelas de cartões de crédito.
A pesquisa, realizada em 2012, pelo Sindicato da Indústria da Construção Civil no Estado do Paraná - Sinduscon/PR -, aponta dados preocupantes, porque 41% das famílias declararam que a causa da inadimplência é decorrente de falta de planejamento, ou seja, má administração das finanças, seguido por desemprego com 11%.
Nesse cenário, economistas recomendam que se disponibilizem cursos de Educação Financeira para todos, especialmente para os mais jovens. Essa capacitação deveria ser ofertada pelas próprias instituições financeiras, juntamente a órgãos governamentais, fomentando a cultura do “crédito responsável” e minimizando o impacto perverso causado pela inadimplência de alguns que acarreta custo social para muitos.
A politica econômica adotada pelo Brasil, de fomentar o acesso ao crédito como forma de manter a atividade produtiva vigorosa, é um modelo limitado, por promover paralelamente o endividamento da população. Uma população endividada forma uma sociedade cujo futuro está comprometido e, demonstra a pesquisa, a maioria dos cidadãos se endividou sem a clareza necessária para fazer tal operação de longo prazo. Grande parte desse comprometimento de rendas futuras surge estimulado por compras impulsivas ou para saldar inadimplência de parentes, principalmente por meio do crédito consignado dos aposentados.
Sob a ótica econômica, dívidas longas contraídas para aquisição de bens de consumo implicam em perda patrimonial para a família, sendo nefastas, portanto. Já as dívidas relativas à compra da casa própria, por exemplo, são vistas como saudáveis por promoverem uma forma de poupança.
Porém, considerando o despreparo do consumidor relativo a operações financeiras e a indução ao crédito feito por propagandas comerciais e governamentais, temos que concordar com o autor Peter Senge, pesquisador de referência em técnicas de aprendizado coletivo, quando afirma: “na ausência de um grande objetivo, a mediocridade prevalece”. Isto é, sem um bom projeto para uso do capital de terceiro, todo recurso será ameaçador, ainda mais com as abusivas taxas de juros locais.
Do ponto de vista filosófico, todo empréstimo é uma operação baseada em relações de confiança mútua. Assim, quem empresta disponibiliza recursos acumulados do seu passado em favor do projeto de outro. Como projeto é algo “por fazer”, logo nos remete ao futuro, e a todas as suas incertezas. Dessa maneira, uma operação de crédito corresponde ao encontro do passado de um (financiador) com o futuro de outro (tomador).
Como sabemos que o futuro sempre envolve risco, por sua natureza incerta, entende-se a solidariedade de quem concede o empréstimo, via análise de crédito, com a capacidade de honrar o compromisso do tomador.
Com efeito, endividar a população de menor renda para estimular o consumo pode render dividendos políticos de curto prazo por gerar a sensação de melhoria do poder aquisitivo e assim, disfarçar a pobreza. Contudo, poderá ser uma medida recessiva a médio e longo prazo por “escravizar” o devedor e sua família com o comprometimento de significativa parcela de rendas futuras. Isso assegurará a manutenção da pobreza e trará intranquilidade para muitos brasileiros e brasileiras que viverão a sensação de que “o dia que está por vir parece maior que o ano que passou”.
Para iniciar um bom curso de educação financeira sigamos a recomendação do poeta Vinicius de Morais:
 “Desejo, outrossim, que você tenha dinheiro,
Porque é preciso ser prático.
E que pelo menos uma vez por ano
Coloque um pouco dele
Na sua frente e diga “Isso é meu”,
Só para que fique bem claro quem é o dono de quem.”




Publicado no jornal Cinform de 17/11/2014 – Caderno Emprego
Publicado no jornal Coerente de 15/12/2014 – Edição 14
Publicado na revista TI&N n°21 - Dez/2014
Publicado em 04/02/2015 em http://www.administradores.com.br/artigos/economia-e-financas/endividamento-e-pobreza-disfarcada/84575/

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

O que a internet está fazendo com as nossas mentes


O título desse artigo foi extraído de palestra homônima proferida no Senac e na UFS, pelo Prof. Dr. Valdemar Setzer, da Universidade de São Paulo – USP -, durante sua passagem por Aracaju nos últimos dias. O conteúdo, como há de se esperar, não traz boas notícias para os habituais frequentadores de redes sociais e sites de buscas. Inspirado em pesquisas realizadas por cientistas americanos, especialmente por Nicholas Carr, a narrativa discorre sobre a preguiça mental (ou emburrecimento, nas palavras do pesquisador), resultante da leitura de textos na internet. 
A partir da metáfora, do homem primitivo coletor de frutos e mariscos, ou seja, extrativista de subsistência e, portanto, incapaz de praticar a agricultura ou a pecuária, o palestrante expõe a situação do jovem contemporâneo, usuário contumaz da internet. Nesse sentido, como usuário, ele vive de achados fortuitos e superficiais, sem dominar o ambiente. Quem sabe, um nômade digital ou um analfabeto versão 2.0?
Tal superficialidade faz do jovem um ser limitado intelectualmente e dotado de preguiça mental. Pode parecer exagero essa afirmativa, mas os educadores percebem a incapacidade de aprofundamento na leitura e a correspondente ausência de disciplina da vontade, presentes nas salas de aulas atuais. Não por acaso, Albert Einstein afirmou: “temo o dia em que a tecnologia se sobreponha à nossa humanidade: o mundo terá apenas uma geração de idiotas”.
A volição deve ser educada com a mesma intensidade e rigor que a cognição. Uma pessoa que não desenvolve a popular “força de vontade” pode se tornar vítima de si mesmo. Um exemplo esclarecedor é comparar a volição a um movimento metabólico do corpo, como o do intestino. Em seu ritmo normal, o intestino age por sua própria vontade, geralmente em equilíbrio, ou tolerância, com nossas disponibilidades de tempo. Contudo, quando vitimado por uma diarreia, impõe sua vontade de forma unilateral, imperando sobre todas as outras vontades, compromissos ou desejos humanos, como a afirmar, indelicadamente, sobre quem manda em quem agora. Comparativamente, essa pode ser a reação de uma pessoa, volitiva e emocionalmente deseducada, que não consegue manifestar uma posição de equilíbrio, quando sob forte pressão: descontrolada e rebelde, agindo “fora de si” para se impor sobre os demais elementos, sejam internos ou externos.
Diferentemente dos livros, a internet, mesmo em trabalhos de pesquisas, limita a capacidade de entendimento da leitura. Os anúncios rotativos e a oferta de hipertextos, com seus vínculos tentadores, desviam da rota lógica da pesquisa e quebram o entendimento do texto. Dessa maneira, o pesquisador na internet tende a ser um distraído coletor de manchetes, boiando na superfície do assunto, sem conseguir se concentrar. Há autores que afirmam que o Google criou a chance de maquiarmos inteligência, quando não a possuímos.
Outro agravante prejudicial ao desenvolvimento dos jovens vem do uso exagerado de redes sociais, como o Facebook ou o Twitter, por afastar do contato “olhos nos olhos”, essencial para a construção de relações sociais e desenvolvimento do caráter. Um jovem plugado fica em média mais de oito horas por dia em frente à telinha de computadores, smartphones, tablets ou tvs. Disso decorre um estado anestésico mental com dependência psicológica, além de sobrepeso e maior insegurança existencial. Um verdadeiro caso (ou caos) de saúde pública.
Diante de notícias que anunciam a venda recorde de tablets nesse último dia das crianças, devemos refletir sobre quais qualidades estamos cultivando em nossos descendentes e quais atrofiamos? Quais acessos lhes permitimos e superexposições lhes ofertamos? Será que daríamos uma emissora de TV para uma criança publicar livremente, em outras épocas? Que saúde futura terá a criança que passa várias horas por dia, parada diante de telas e sentada numa carteira escolar sem brincar?
“Bendito, bendito é aquele que semeia livros, livros a mão cheia e manda o povo pensar; o livro caindo na alma, é germe que faz a palma, é chuva que faz o mar.” Castro Alves.



Publicado no jornal Cinform de 20/10/2014 – Caderno Emprego

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Relógio: global e pontual ao mesmo tempo

Vimos no texto anterior – publicado em 29/09/14 - que o relógio representa a caminhada humana na busca de emancipar-se dos ciclos da natureza. Para uma nação, domínio tecnológico é sinônimo de soberania. Assim, construtores de relógios foram vistos como provedores de recursos estratégicos e inovadores. Eles foram os primeiros a aplicar conscientemente as teorias da mecânica e da física no fabrico de máquinas, ao envolver cientistas, como Galileu e Hooke, com artesãos e mecânicos. Ou seja, articulações iniciais do que hoje denominamos Pesquisa e Desenvolvimento – P&D. Portanto, fabricantes de relógios foram os primeiros produtores de instrumentos científicos.
Com efeito, há o caso de um relógio do século XVI, que demorou mais de 20 anos para ser construído, composto de mais de 1800 rodas dentadas feitas à mão, com a ajuda de um pioneiro torno mecânico. Também, há um relógio construído em 1380, em Salisbury, na Inglaterra, que é considerado o mais antigo relógio mecânico em funcionamento, confeccionado manualmente sem um único parafuso, já que a tecnologia para abertura de roscas em metal ainda era desconhecida.
Conflitos religiosos e convulsões políticas decorrentes da Reforma Protestante e da Guerra dos Trinta Anos dispersaram relojoeiros de toda a Europa para duas ilhas: a Suíça, cercada de montanhas, e a Inglaterra, cercada pelo mar.
Da Inglaterra, berço da Revolução Industrial, origina a especialização e a divisão do trabalho, que a torna exportadora de relógios, tendo alcançado a marca de 80 mil unidades, já em 1786. Em paralelo, na Suíça, nasce a precisão e a qualidade dos relógios definitivos, vistos como joias e obras de arte. Tradição, cujo epicentro dá-se em Genebra, para onde milhares de refugiados relojoeiros seguiram Calvino, autor do primeiro manual do cristianismo protestante.
Esse movimento parece inspirar o êxodo dos cientistas atômicos, exilados por perseguições nazifascistas, no século XX, rumo aos Estados Unidos. Em ambas as eras, muitos imigrantes com especialidades avançadas chegaram para fazer a diferença, difundindo uma nova cultura e gerando valor ao lugar, instalando o que chamamos, hoje, de Arranjo Produtivo Local – APL.
O sucesso suíço na fabricação de relógios vem a ser seriamente abalado na década de 1970, por conta do surgimento dos relógios digitais produzidos a preços baixos pelo Japão, Coréia e China. Marcas como Seiko e Citizen, aderem agressivamente nos pulsos dos consumidores como objetos acessíveis a todos.
Essa concorrência muda definitivamente a indústria suíça, obrigando o fechamento de fábricas, demissões em massa e concordatas. Enfim, o caos se implanta com vigor. Entre 1977 e 1983, a participação suíça no mercado mundial caiu de 43% para 15%. De líder para terceiro colocado em seis anos.
Sabemos como é difícil mudar paradigmas. É quase impossível crer que um fabricante suíço de relógios aceitaria abrir mão de sua tradição secular por imposições de concorrentes de qualidade e durabilidade inferiores. Contudo, duas grandes empresas resolveram deixar o orgulho de lado e se juntar para enfrentar o inimigo com as mesmas armas: automatizar a linha de produção, simplificar os mecanismos e substituir as pulseiras de aço por plástico.
O choque e as reações foram explosivos. Inicialmente, foram acusados pelos concorrentes locais, de destruir a reputação histórica do relógio suíço. Porém, se defenderam alegando que a qualidade dos produtos seria superior e que manteriam os mecanismos analógicos dos mostradores. E mais, decidiram reinventar o negócio, ao trocar a imagem de objeto eterno para sazonal. Em resumo, um artigo de moda, que pudesse ser mudado como se troca de roupa.
Assim, nasce a Swatch, em 1983, com o lançamento da primeira coleção Primavera/Verão, composta de modelos femininos e masculinos. Sucesso imediato entre os jovens. Desde 1992, a Swatch é a marca mais vendida no mundo, recolocando a Suíça no topo da indústria relojoeira.
Se não bastasse a metáfora do funcionamento do cosmo, as implicações geopolíticas, a aplicação de teorias científicas na inovação, as reordenações sociais e a emancipação do homem em relação à natureza; o relógio ainda influi diretamente na alma humana ao fundar o valor moral da pontualidade.



          Publicado no jornal Cinform de 13/10/2014 – Caderno Emprego

terça-feira, 7 de outubro de 2014

Entrevista Caderno SN - Sergipe Notícias


SN - O Senac em Sergipe é considerado uma referência nacional. Qual a razão dessa boa avaliação?

PE – A razão disso vem do comprometimento das nossas equipes com a missão do Senac. E mais, somos bastante austeros no trato das nossas contas, somos o primeiro Regional do Brasil a implantar o novo sistema de informática nacional, atuamos em todo o território de Sergipe, desenvolvemos integralmente aqui o Senac Pleno (uma plataforma de engajamento para alunos), somos comprometidos com nossos egressos na colocação no mercado de trabalho por meio do nosso Banco de Oportunidades. Trabalhamos com diálogo permanente entre a alta administração e o quadro de funcionários através dos Comitês de Gestão, Pedagógico e Socioambiental; e praticamos uma política de portas abertas a todos, com espírito inovador. Tudo isso, graças ao apoio dos nossos conselheiros e do nosso Presidente.


SN - Qual a importância da qualificação para a pessoa que deseja se inserir no mercado de trabalho?

PE – A cada dia que passa, maior se torna a importância da formação profissional para a ascensão social e a correspondente melhoria de renda. Todos os países que superaram o subdesenvolvimento, o fizeram por meio da Educação. Existe até um fenômeno econômico conhecido como “a maldição dos recursos naturais não renováveis”, que explica o porquê dos países mais bem providos de riquezas naturais serem todos subdesenvolvidos. Portanto, só acredito na melhoria da educação como saída para nosso Brasil, cujos indicadores educacionais são desastrosamente incompatíveis com os econômicos. Mas, falo em educação no sentido amplo, envolvendo a família e a comunidade, além da escola e dos poderes públicos: todos dando bons exemplos.


SN - Como o senhor avalia a receptividade dos trabalhadores formados pelo Senac pelo mercado sergipano?

PE – Muito boa. Mas, temos que melhorar sempre. As inovações tecnológicas promovem mudanças mais rápidas nos ambientes de trabalho do que nas ferramentas gerenciais e na academia, especialmente em alguns setores da economia. Isso, nos obriga a manter diálogo permanente com empresários e ofertantes de empregos para buscar feedback para nossas adequações. O nosso Banco de Oportunidades e a Sala do Empresário, são dispositivos que nos aproximam dos empregadores e nos permitem avaliar algumas oportunidades de melhorias para nossos cursos. De um modo geral, a maior dificuldade associada ao bom desempenho profissional decorre de problemas ligados a atitudes e comportamentos inadequados com a cultura empresarial e as regras de convívio social. Para minimizar essa carência criamos o Senac Pleno, um programa que oferece ricas experiências no trabalho em equipe e na disposição de fomentar uma postura mais colaborativa em nossos alunos.


SN – Na sua avaliação, quais as vantagens para os jovens que fazem cursos profissionalizantes?

PE – O curso técnico oportuniza acesso rápido a bons empregos. São muitos os jovens que saem desses cursos já disputados por empresas, até de outros Estados. No entanto, o jovem precisa se antecipar, isto é, fazer sua formação profissional para estar apto no momento que a oportunidade do emprego aparece. Isso exige espírito empreendedor porque aposta no futuro.


SN - O Senac tem planos de expansão das ações? O que o se pode esperar da instituição para os próximos anos?

PE – Hoje, além de nossa unidade mais tradicional, na av. Ivo do Prado, possuímos cinco escolas-anexas em Aracaju.  Mas, o aumento definitivo das instalações do Senac em Aracaju se dará com a construção da nova escola na avenida Maranhão, da Confeitaria-Escola Cacique Chá e do novo salão de beleza-escola. Além disso, todas nossas instalações próprias passam por reformas para garantir acessibilidade a pessoas com deficiência. O Senac possui também escolas em Itabaiana, Lagarto e Tobias Barreto. Estamos construindo novas unidades em Nossa Senhora da Glória e Estância.

Pretendemos, ainda, reforçar nossa atuação social com cursos gratuitos e mais atuação no interior sergipano, embora, em 2013, estivemos presentes em 90% dos municípios do Estado e cerca de 1% dos sergipanos foram nossos alunos em cursos gratuitos.


Publicado no jornal Correio de Sergipe - Caderno SN. Em 07/10/2014 

quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Entrevista: Senac de Sergipe vive os seus melhores dias


Senac de Sergipe vive os seus melhores dias                   

Há seis anos à frente do Departamento Regional do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac), em Sergipe, o pedagogo Paulo do Eirado Dias Filho imprime ritmo acelerado na administração da entidade, que vive os melhores momentos dos seus quase 70 anos de funcionamento em nosso Estado. Com propostas inovadoras e um portfólio de cursos totalmente diferenciados, o Senac tem ampliado o seu leque de atendimento à clientela, tanto na capital como no interior sergipano.
Em Aracaju, cinco novos pontos de apoio foram locados, especialmente em prédios de estabelecimentos de ensino que deixaram de funcionar, a fim de atender a sua enorme clientela com mais conforto e dignidade. A instituição também está realizando uma série de modificações no seu Centro de Formação Profissional (CFP), na avenida Ivo do Prado, 564, para dotá-lo de melhores condições de funcionamento.
De acordo com Paulo Eirado, o interior sergipano também é beneficiado com os cursos de formação profissional do Senac, já que a entidade possui CFPs nos municípios de Lagarto, Itabaiana e Tobias Barreto, que atendem várias cidades das regiões Sul, Centro Sul e Agreste de Sergipe. Para ampliar ainda mais o seu leque de atendimento no interior, novas unidades da instituição estão sendo construídas nos municípios de Estância e Nossa Senhora da Glória.

Entrevista
RF: Quando e em que cidade o senhor nasceu e quem são os seus pais?
PEDF: Nasci na cidade de Salvador (BA), no ano de 1957. Sou filho de Paulo do Eirado Dias (já falecido) e de Zélia Tereza de Almeida Dias, ambos baianos. Meu pai foi comerciante do setor lojista de discos e ela professora da Rede Estadual de Educação, já aposentada.

RF: Qual a sua formação profissional?
PEDF: Sou técnico em Mecânica pela antiga Escola Técnica Federal da Bahia. Após concluir o curso, ingressei em Engenharia Civil, na UFBA, mas não conclui os estudos. Paralelamente, fiz formação em Programação de Computadores na Faculdade de Administração da Bahia/Odebrecht e me formei em Pedagogia na Faculdade São Luís de França, em Sergipe e pós-graduação em Pedagogia Empresarial, na mesma faculdade.

RF: Como e onde o senhor começou a trabalhar?
PEDF: Com 15 anos de idade, comecei a ajudar meu pai nas suas atividades comerciais. Quando do seu falecimento, eu estava com 16 anos e fui trabalhar como vendedor de discos, procurando dar continuidade à atividade que ele exercia. Tal experiência precoce durou pouco mais de um ano. Após, ingressei na Faculdade de Engenharia e já no primeiro ano, comecei a trabalhar como Programador de Computador no Banco Econômico. A partir daí, trabalhei 23 anos na área de informática, tendo exercido importantes cargos nessa profissão em empresas como Banco Econômico, em Salvador e São Paulo, Caraíba Metais (BA), Propeg (SP) e Assembleia Legislativa de Sergipe.

RF: O senhor já trabalhou em alguma entidade do Sistema “S”?
PEDF: Sim. Tive a honra de exercer o cargo de Diretor Administrativo/Financeiro/Educacional do Sebrae (SE) durante seis anos.

RF: Em Organizações Não Governamentais (ONGs), o senhor chegou a atuar?
PEDF: Por determinados períodos desenvolvi atividades na Via Láctea (BA), Instituto Ingá-Poca, Instituto Social Micael (SE e PI), Associação Pedagógica Micael, Junior Achievement, Comissão de Produção Orgânica do Estado de Sergipe – CPOrg/SE, Instituto de Pesquisas Tecnológicas e Inovação – IPTI e Movimento competitivo Sergipe - MCS, estes últimos em Sergipe.

RF: Como é que o senhor chegou ao Senac de Sergipe?
PEDF: Ao encerrar meu mandato na Diretoria do Sebrae, em 2009, recebi o honroso convite do então presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo, Hugo Lima França, para ocupar a vaga de Diretor Regional do Senac, uma vez que esta integra o Sistema Fecomércio. Ingressei imediatamente na instituição, que tão bem me recebeu e tenho muita gratidão por poder desempenhar essa missão.

RF: Como é trabalhar no Senac?
PEDF: É uma entidade que tem uma folha de serviços prestados invejável. Nos seus quase 70 anos de existência, propiciou oportunidade de formação profissional a centenas de milhares de sergipanos, trabalhadores do comércio de bens, serviços, turismo e saúde. Gosto muito do desafio permanente das atividades do Senac e agradeço a equipe talentosa e disposta que encontrei na instituição; e que tem ampliado nesses cinco anos que compartilho da gestão.

RF: Quais são os principais cursos da grade curricular do Senac?
PEDF: Os Cursos Técnicos de carga horária acima de 800 horas/aula são os principais. Temos hoje, cerca de 70 turmas de diversas formações técnicas em andamento, com destaque para Rádio e TV, Logística, Recursos Humanos, Eventos, Enfermagem, Nutrição e muitos outros.

RF: Quais são os maiores parceiros do Senac, em termos de realização de cursos?
PEDF: Hoje, o Pronatec, do Governo Federal é o nosso principal demandante. O Governo do Estado, através de várias secretarias, a Fundat e as prefeituras do interior sergipano, são grandes e frequentes parceiros, levando cursos de formação profissional para as pessoas com pouca renda, objetivando melhorar o padrão de vida delas.

RF: Quais os cursos mais procurados pela clientela Senac?
PEDF: Os eixos de Hotelaria, Imagem Pessoal e Gestão possuem grandes demandas. Ou seja, Cursos de Cozinheiro, Salgadeiro, Cabeleireiro, Informática, dentre outros.

RF: O Curso de Informática do Senac continua sendo o carro-chefe da entidade?
PEDF: É a área mais procurada. Embora tenhamos cursos avançados, além de programação de computadores e games, os cursos básicos são os mais procurados. Entendemos que o Senac tem que ser o abrigo dos que precisam se qualificar para ter acesso ao emprego, especialmente o primeiro emprego formal, capaz de modificar para sempre o rumo do cidadão ao longo de sua vida.

RF: Os cursos de Garçom e Cozinheiro são muito procurados pela clientela Senac. O que é que motiva isso?
PEDF: O crescimento do turismo no Estado, a exigência crescente dos consumidores com relação a segurança alimentar e a qualidade dos serviços obrigam que mais trabalhadores, que lidam com alimentação, sejam profissionalizados. Daí a procura sempre ampliada pelos nossos cursos.

RF: O Salão de Beleza-escola tem atendido sua clientela a contento?
PEDF: Brevemente estaremos inaugurando o novo salão-escola nas instalações da avenida Ivo do Prado, 564. Será um espaço moderno, em conformidade com as normas mais exigentes de segurança sanitária e ambiental. A partir dessa inauguração, estaremos prontos a ofertar educação profissional de padrão mais elevado na área para nossa clientela.

RF: O principal CFP do Senac, na Ivo do Prado, parece que ficou pequeno para atender a demanda da sua clientela. É por isso que ele está sendo ampliado?
PEDF: De fato, são cinco instalações anexas que ampliam e dão mais conforto no atendimento ao público: antigo Colégio Brasília; Rua do Turista; antiga Escola Padrão, na rua Senador Rollemberg; Faculdade Atlântico, na Atalaia e antigo Colégio do Salvador, na avenida Ivo do Prado. O aumento definitivo das instalações do Senac em Aracaju se dará com a construção da nova escola na avenida Maranhão e da Confeitaria-Escola Cacique Chá. Além disso, todas nossas instalações próprias passam por reformas para garantir total acessibilidade a pessoas com deficiência. O Senac possui também CFPs em Itabaiana, Lagarto e Tobias Barreto. Estamos construindo novas unidades em Nossa Senhora da Glória e Estância.

RF: Quantos alunos são preparados para o setor terciário anualmente?
PEDF: No ano de 2013, 27 mil alunos concluíram seus cursos no Senac. Mas, nos orgulha informar, que mais de 20 mil alunos tiveram acesso aos nossos cursos gratuitamente. Isto é, mais de 1% da população de Sergipe pode estudar no Senac, no mesmo ano, sem precisar pagar por isso.

RF: Financeiramente como é que a entidade se encontra?
PEDF: A entidade tem uma política austera de controle do orçamento. Como resultado disso, temos saúde financeira que nos garante honrar todos os compromissos assumidos e permitir investimentos constantes em nossas instalações e equipamentos necessários para modernização tecnológica, acompanhando as mais exigentes tendências do mercado e da legislação.


Entrevista publicada na Revista Fecomércio SE, ago/2014 – nº 15

segunda-feira, 29 de setembro de 2014

O tempo em que relógio nem tinha os ponteiros

Por milênios, o sol e a lua foram os grandes relógios da humanidade. Os dias eram guiados pela luz e não havia atividade noturna habitual. A noite era ameaçadora por essência, fazendo com que os homens se recolhessem em abrigos à espera da claridade solar redentora.
 Enquanto os ciclos da natureza regiam a vida humana, as estações do ano e as fases da lua aprisionavam a todos nos seus longos ciclos. Portanto, se quisessem seguir seus próprios caminhos, emancipando-se dos astros, os seres humanos teriam que criar suas próprias medidas de tempo diurno e noturno em menores fatias.
Os primeiros relógios eram mostradores solares que projetavam a sombra com grande precisão sobre signos correspondentes às horas. Horas essas que diferiam das atuais, porque eram flexíveis em função da duração dos dias. Isto é, 12 horas de sol de um dia de inverno eram mais curtas que as mesmas 12 horas de um longo dia de verão.
Ainda assim, limitados aos dias de sol pleno, esses relógios foram os primeiros instrumentos de medição. Diz Daniel Boorstin, autor do livro “Os Descobridores”, que no tempo do imperador Valentiniano I (364-375), os soldados romanos eram instruídos a marchar “à média de 20 milhas em 5 horas de verão”.
Para saber as horas noturnas, o homem desenvolveu medições a partir da fluidez da água. Como essa podia ser aprisionada em qualquer pequena vasilha, um furo permitiria o gotejamento em ritmo constante e o nível decrescente indicava o tempo decorrido, em qualquer horário e lugar, assegurando uniformidade ao dispositivo.
Até a invenção do relógio de pêndulo, por volta do ano 1700, o mais preciso medidor de tempo foi o relógio de água. Para pequenas medidas de tempo, a ampulheta, com carga de areia, foi muito utilizada, inclusive para regular o tempo dos tribunos legislativos e judiciários romanos.
A partir do ano 1300, surgem os primeiros relógios mecânicos instalados em torres de igrejas com a finalidade de prestar serviço de utilidade pública, orientando os cidadãos pelo badalar dos sinos acionados automaticamente ou por meio de pequenos relógios de câmara que acordavam o “guardião do relógio” para tocar os sinos e, assim, despertar os sacerdotes para o cumprimento das obrigações religiosas.
Eram os primeiros despertadores, chamados com o curioso nome de “horologia excitatoria”. Como a humanidade era, em sua imensa maioria, iletrada, tais relógios eram desprovidos dos ponteiros e algarismos; e anunciavam as horas por meio do badalar de sinos.
Nessa época não se via as horas, apenas as ouvia. Além disso, todos os relógios eram, na verdade, cronômetros isolados, pois não estavam sincronizados entre si para soar a mesma hora em uníssono.
Curiosamente, dizem que quem primeiro colocou ponteiros em relógios foi o italiano Jacopo de Dondi, em 1344, recebendo por isso o título de Relojoeiro.
Mas foi à descoberta das leis do movimento pendular pelo cientista Galileu que permitiu o surgimento dos relógios de pêndulo e garantiu grande precisão a essas máquinas. Apenas três décadas após a morte dele, o erro médio dos melhores mecanismos de medição do tempo caíra de 15 minutos para 10 segundos por dia.
Contudo, o ciclo de navegações que se iniciava exigia o conhecimento da hora exata na leitura das estrelas para obter a correspondente localização na latitude e longitude, fundamental para a orientação dos navegadores. Nesse caso, o avançado relógio de pêndulo era incompatível com o balanço natural do mar, o que inviabilizava sua utilização.
Desse problema, surge o aperfeiçoamento dos mecanismos acionados por mola – os chamados relógios de corda -, que exigiam modernas tecnologias de fabricação mecânica e cálculos avançados do projeto do eixo fuso a fim de manter o ritmo constante, ainda que a mola reduzisse gradualmente a pressão pela descompressão natural.
     Tal solução tecnológica implicou em eficiência de guerra e soberania nacional, transformando relojoeiros em estratégicos artífices. A arte relojoeira inaugurou novos tempos ao emancipar o homem da natureza solar; assemelhar a noite ao dia, antes mesmo da iluminação artificial; e, acima de tudo, ensinar o promissor caminho da união da ciência com a tecnologia em prol da resolução de grandes problemas. Na próxima semana, abordaremos o tempo em que, novamente, os relógios não tinham ponteiros.



Publicado no jornal Cinform de 29/09/2014 – Caderno Emprego


quinta-feira, 18 de setembro de 2014

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Escotismo e empreendedorismo social

O escotismo, movimento civil criado pelo inglês Baden-Powell no início do século XX, atraiu centenas de milhões de jovens, de dezenas de países, às suas fileiras nessas décadas de feliz existência. Pessoalmente, fui privilegiado por ter me engajado nesse movimento no Grupo Escoteiro Antonio Vieira, integrado ao colégio jesuíta de mesmo nome, em Salvador-BA. À época, muito me ajudaram na formação do caráter e da coragem, as grandes aventuras no campo, incluindo a então desconhecida, Chapada Diamantina. Sou muito grato por ter recebido essa formação cidadã plena.
O escotismo sempre pautou sua práxis no respeito ecológico e nos valores humanos, regulada pela Lei do Escoteiro com seus dez artigos, que objetiva expressar um ideal de Ser Humano. É relevante dizer da prática pedagógica direcionada ao desenvolvimento: de habilidades de convivência e sobrevivência; dos conhecimentos sobre a natureza; da disciplina formadora do caráter; da construção da autonomia; do autocuidado com a saúde e; do respeito aos valores cívicos e morais.
Muitas das atuais recomendações de preservação ecológica já estavam pautadas nos procedimentos escoteiros há mais de 100 anos. Assim, as atividades de campo sempre foram realizadas com respeito às populações locais, à fauna e à flora. Além disso, o escoteiro tem espírito fraternal atuante e uma permanente disponibilidade de ajudar o próximo; e ainda, é amigo de todos e irmão dos demais escoteiros, independentemente de origem, classe social, credo, língua e etnia.
A capacidade de iniciativa, a cultura do associativismo e o cuidado para com os necessitados, acrescido da disposição de atuar ao ar-livre e em equipe (patrulhas), formam os pré-requisitos ideais para o trabalho social. São qualidades que, infelizmente, parece faltar na maioria dos jovens atuais, ocupados apenas mentalmente e desorientados sobre como agir no mundo, ampliando a exposição deles aos riscos.
Vivemos em um País sacudido pela violência e precário na infraestrutura de serviços ao cidadão de baixa e média renda. Agrava esse cenário a cultura tão comum em nossas paragens de buscar resolver problemas nacionais com soluções individuais, à moda de Macunaíma. Exemplos não faltam: transporte escolar para universitários, como se fossem crianças; segurança particular; plano de saúde privado; escola paga e; isolamento crescente (dos que podem) do contato com o povo.
Aos olhos dos que possuem espírito empreendedor, esse cenário caótico traz inúmeras oportunidades de realizações bastante recompensadoras. Aliás, entenda-se empreendedorismo como a capacidade de construir sonhos e não, necessariamente, montar empresas comerciais. Dessa maneira, aliar as qualidades do escoteiro às demandas sociais pode ser o foco para o engajamento de jovens brasileiros a nobres e envolventes causas de ecologia, prioritariamente, urbana. Soma-se a isso, a oportunidade de formar novos líderes, verdadeiramente conhecedores da realidade do lugar e dotados de caráter exemplar.
Com efeito, dotar de competências de gestão de projetos sociais os Escotistas, os Pioneiros e os Escoteiros Seniores, pode ser o caminho de avanços na prática escoteira do século XXI. Portanto, um atrativo a mais para o jovem tipicamente urbano contemporâneo. Dessa forma, não há que se abrir mão dos consagrados fundamentos do escotismo, mas sim, ampliar as ferramentas e os espaços de atuação civil desse educativo serviço voluntário. Essa é a proposta deste texto, especialmente para o Brasil, País de elevada concentração urbana, acarretando em que cerca de 85% da população ocupa apenas 1,5% do próprio território.
Quem sabe, hei de ver a minha velha Patrulha Búfalo desenvolvendo um projeto de vacinação de todos os cães do bairro, protagonizando essa ação articulada com o Poder Público, a comunidade e as faculdades de veterinária. Modelo de ação cooperada, de interesse público, integrando vários atores, executada no campo urbano e capacitante para o trabalho profissional. Esse exemplo é um típico projeto ganha-ganha, para o benefício de todos, especialmente, para o jovem que esteja Sempre Alerta para o bem.

Publicado no jornal Cinform de 15/09/2014 – Caderno Emprego


segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Que assim soja


 Os desafios brasileiros são inúmeros. A maior parte deles é de pleno conhecimento público, a exemplo da deficiente infraestrutura portuária. Recentemente, contudo, me deparei com mais um problema do nosso modelo econômico que, enquanto típico país em desenvolvimento, nos ameaça. Trata-se da chamada “maldição dos recursos naturais” ou “doença holandesa”. Um paradoxo econômico que atinge os países exportadores de commodities, especialmente os recursos naturais não renováveis como o petróleo e os minérios.
Há um debate em curso sobre o quanto a economia brasileira já sofre desse mal. A nossa pauta de exportações está recheada de commodities agrícolas e minerais, com promessas de exportação de petróleo, para breve. Estaria a nossa economia avessa ao crescimento, uma vez que o Produto Interno Bruto – PIB -, se mostra tímido demais, ou melhor, nem se mostra? Seria a supervalorização do Real, que provoca acelerada desindustrialização do País, fruto da exportação massiva de commodities primárias?
A chamada “maldição dos recursos naturais” surgiu a partir dos trabalhos de Sachs e Warner. Esses autores partiram de constatações de que países com abundância de recursos naturais tenderiam a apresentar uma menor taxa de crescimento do PIB que os demais. Assim, os países árabes, ícones na exportação de petróleo apresentaram uma taxa de crescimento médio do PIB per capita de 0,7% entre 1975 e 2005, metade da média mundial. Em oposição, países relativamente pobres em recursos naturais, como Japão, Hong Kong, Coréia, Singapura e Suíça experimentaram taxas de crescimento mais altas.
Segundo o Prêmio Nobel Joseph Stiglitz, são três os ingredientes principais associados a essa “maldição”: 1) países ricos em recursos naturais tendem a ter moedas mais fortes, o que não favorece outros tipos de exportações; 2) como a extração de recursos cria poucas oportunidades de ocupação, o desemprego aumenta; 3) a volatilidade dos preços dos recursos gera um crescimento instável, afetado pelos Bancos internacionais que investem, quando o preço das commodities sobe, e fogem, quando o valor cai.
Naturalmente, a economia brasileira supera com folga a de nossos vizinhos latinos e a de países africanos, igualmente exportadores de produtos primários. Semelhante à Rússia, a variedade de nossos ativos traz superior segurança sobre os países citados. Contudo, se não houver fomento ao empreendedorismo e à consequente diversificação produtiva, caminharemos a passos largos em direção a armadilha já criada por nossa reduzida pauta de exportações, composta basicamente por produtos baratos e intensivos.
Acrescente-se a isso, outro ingrediente para maior proteção: dar transparência do uso dos valores advindos das exportações e dos royalties, incluindo aí, a liberdade de imprensa e as redes sociais.
Dentre os países exportadores de petróleo, a Noruega é o que apresentou melhor solução para aplicar os petrodólares: criou um fundo petrolífero, a fim de capitalizar uma parte das receitas do petróleo para as gerações futuras e vinculou recursos obrigatórios para a Educação e a pesquisa.
Inspirado no modelo norueguês e consciente que um quilo de satélite artificial tem o mesmo preço que cem milhões de quilos de soja, o Brasil deve passar uma borracha em seus antigos ciclos de exportação e fazer do café uma nova receita: um ponto de encontro de ideias, um centro de partilha de informações e de convergência de todas as classes sociais e faixas etárias. Na diversidade está a chave da inovação e, apenas nessa, o segredo de gerar exportações de valores estratosféricos, emancipadoras econômica e socialmente.
A nossa diversidade cultural e étnica, aliada a elevada concentração urbana e o acesso fácil à internet, nos privilegia por termos ambientes tão favoráveis à inovação. Esse sim, um território único, a ser valorizado pelos próprios brasileiros por meio do empreendedorismo, da Educação, da cultura, do associativismo e da pesquisa. Pois, é das conversas de pequenos grupos nos cafés que pode surgir uma grande mudança no mundo e até, um novo jeitinho brasileiro. Que assim soja. 
                                                        
Publicado no Jornal Cinform em 01/09/2014 - Caderno Emprego


quinta-feira, 28 de agosto de 2014

O Senac comprometido com os novos tempos


A proposta do Senac neste próximos dias é desenvolver um trabalho diferenciado com muita inovação, criatividade e formação continuada do seu corpo docente, capacitando-o para que a qualidade de ensino seja sempre de excelência. Na capital sergipana, temos um CFP - Centro de Formação Profissional - e mais cinco anexos para atender com conforto os alunos. Todo o prédio da Av. Ivo do Prado passa por uma grande reforma e construção do moderno Salão de Beleza-Escola que será referência em tecnologia de imagem pessoal. Igualmente, a acessibilidade total das nossas instalações se torna realidade com o intuito de adequá-las à lei e dar maior autonomia e segurança às pessoas com deficiência. Um novo CFP, na Av. Maranhão, com uma moderna escola de Tecnologia da Informação e Produção Cultural, será inaugurado com inúmeros novos cursos. Da mesma forma, o tradicional Cacique Chá irá retomar o charme daquele local onde grandes personalidades sergipanas passaram e deixaram sua contribuição. Vamos reacender a memória de Aracaju e oportunizar novas capacitações nessa Confeitaria-escola.

Expandindo a presença no interior de Sergipe, o Senac está em Lagarto, Tobias Barreto, Itabaiana e, brevemente em Estância e Nossa Senhora da Glória. Bem como, em todo o Estado por meio da Unidade Móvel.

Com o Programa Senac de Gratuidade, o  Pronatec - Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego – e convênios com o Poder Público, a população sergipana tem cursos gratuitos em larga escala. Em 2013, mais de 1% da população de Sergipe estudou gratuitamente no nosso Senac e recebeu  Certificado, válido em todo Brasil. Contamos ainda, com a Plataforma de Engajamento - Senac Pleno, que tem por objetivo oferecer aos alunos mais que a formação obrigatória ou legal, por meio de vivências em atividades transversais.  A Confeitaria da Páscoa; o Festival de Música Digital; a Oficina Curta Senac Pleno; o Prêmio Pronatec-Empreendedor (3º lugar no Brasil), foram  alguns dos projetos exitosos desenvolvidos pelos alunos. Esse ano, teremos muitas novidades. Aguardem.

 O Senac também encaminha seus alunos para o mercado de trabalho através do Banco de Oportunidades com o intuito  de atender as demandas das empresas por bons profissionais. Nossa realização se dá após a entrega do diploma, ao vermos as positivas transformações ocorridas na vida pessoal e profissional dos nossos egressos que a excelente formação profissional propiciou.

Dessa forma, desejamos aos novos líderes, votos de grandes realizações na gestão do Sistema Fecomércio-Sesc-Senac, ao que toda Família Senac se une por meio do trabalho e do compromisso de honrar a nobre missão de nossas Instituições.

Publicado na Revista Fecomércio SE - Jun/14, nº 14