Os desafios
brasileiros são inúmeros. A maior parte deles é de pleno conhecimento público,
a exemplo da deficiente infraestrutura portuária. Recentemente, contudo, me
deparei com mais um problema do nosso modelo econômico que, enquanto típico país
em desenvolvimento, nos ameaça. Trata-se da chamada “maldição dos recursos
naturais” ou “doença holandesa”. Um paradoxo econômico que atinge os países
exportadores de commodities, especialmente os recursos naturais não renováveis
como o petróleo e os minérios.
Há um debate
em curso sobre o quanto a economia brasileira já sofre desse mal. A nossa pauta
de exportações está recheada de commodities agrícolas e minerais, com promessas
de exportação de petróleo, para breve. Estaria a nossa economia avessa ao
crescimento, uma vez que o Produto Interno Bruto – PIB -, se mostra tímido
demais, ou melhor, nem se mostra? Seria a supervalorização do Real, que provoca
acelerada desindustrialização do País, fruto da exportação massiva de
commodities primárias?
A chamada
“maldição dos recursos naturais” surgiu a partir dos trabalhos de Sachs e
Warner. Esses autores partiram de constatações de que países com abundância de
recursos naturais tenderiam a apresentar uma menor taxa de crescimento do PIB
que os demais. Assim, os países árabes, ícones na exportação de petróleo
apresentaram uma taxa de crescimento médio do PIB per capita de 0,7% entre 1975
e 2005, metade da média mundial. Em oposição, países relativamente pobres em
recursos naturais, como Japão, Hong Kong, Coréia, Singapura e Suíça
experimentaram taxas de crescimento mais altas.
Segundo o
Prêmio Nobel Joseph Stiglitz, são três os ingredientes principais associados a
essa “maldição”: 1) países ricos em recursos naturais tendem a ter moedas mais
fortes, o que não favorece outros tipos de exportações; 2) como a extração de
recursos cria poucas oportunidades de ocupação, o desemprego aumenta; 3) a
volatilidade dos preços dos recursos gera um crescimento instável, afetado
pelos Bancos internacionais que investem, quando o preço das commodities sobe,
e fogem, quando o valor cai.
Naturalmente,
a economia brasileira supera com folga a de nossos vizinhos latinos e a de
países africanos, igualmente exportadores de produtos primários. Semelhante à
Rússia, a variedade de nossos ativos traz superior segurança sobre os países
citados. Contudo, se não houver fomento ao empreendedorismo e à consequente
diversificação produtiva, caminharemos a passos largos em direção a armadilha
já criada por nossa reduzida pauta de exportações, composta basicamente por produtos
baratos e intensivos.
Acrescente-se
a isso, outro ingrediente para maior proteção: dar transparência do uso dos
valores advindos das exportações e dos royalties, incluindo aí, a liberdade de
imprensa e as redes sociais.
Dentre os
países exportadores de petróleo, a Noruega é o que apresentou melhor solução
para aplicar os petrodólares: criou um fundo petrolífero, a fim de capitalizar
uma parte das receitas do petróleo para as gerações futuras e vinculou recursos
obrigatórios para a Educação e a pesquisa.
Inspirado no
modelo norueguês e consciente que um quilo de satélite artificial tem o mesmo
preço que cem milhões de quilos de soja, o Brasil deve passar uma borracha em
seus antigos ciclos de exportação e fazer do café uma nova receita: um ponto de
encontro de ideias, um centro de partilha de informações e de convergência de
todas as classes sociais e faixas etárias. Na diversidade está a chave da
inovação e, apenas nessa, o segredo de gerar exportações de valores
estratosféricos, emancipadoras econômica e socialmente.
A nossa
diversidade cultural e étnica, aliada a elevada concentração urbana e o acesso
fácil à internet, nos privilegia por termos ambientes tão favoráveis à inovação.
Esse sim, um território único, a ser valorizado pelos próprios brasileiros por
meio do empreendedorismo, da Educação, da cultura, do associativismo e da
pesquisa. Pois, é das conversas de pequenos grupos nos cafés que pode surgir uma
grande mudança no mundo e até, um novo jeitinho brasileiro. Que assim
soja.
Publicado no Jornal Cinform em 01/09/2014 - Caderno Emprego
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