Disse o
historiador inglês Thomas Fuller, no século XVII, que “a dívida é a pior
pobreza”. Por certo, tal frase continua perfeitamente atualizada para o nosso
século.
No Brasil
não é diferente: pesquisas recentes afirmam que o brasileiro mantêm níveis de
endividamento muito elevados, pois 41% dos entrevistados estão, ou estiveram
com restrições ao crédito por inadimplência e 54% possuem dívidas que
comprometem a renda mensal com parcelas de cartões de crédito.
A pesquisa,
realizada em 2012, pelo Sindicato da Indústria da Construção Civil no Estado do
Paraná - Sinduscon/PR -, aponta dados preocupantes, porque 41% das famílias
declararam que a causa da inadimplência é decorrente de falta de planejamento,
ou seja, má administração das finanças, seguido por desemprego com 11%.
Nesse
cenário, economistas recomendam que se disponibilizem cursos de Educação Financeira
para todos, especialmente para os mais jovens. Essa capacitação deveria ser
ofertada pelas próprias instituições financeiras, juntamente a órgãos
governamentais, fomentando a cultura do “crédito responsável” e minimizando o
impacto perverso causado pela inadimplência de alguns que acarreta custo social
para muitos.
A politica
econômica adotada pelo Brasil, de fomentar o acesso ao crédito como forma de
manter a atividade produtiva vigorosa, é um modelo limitado, por promover
paralelamente o endividamento da população. Uma população endividada forma uma
sociedade cujo futuro está comprometido e, demonstra a pesquisa, a maioria dos
cidadãos se endividou sem a clareza necessária para fazer tal operação de longo
prazo. Grande parte desse comprometimento de rendas futuras surge estimulado
por compras impulsivas ou para saldar inadimplência de parentes, principalmente
por meio do crédito consignado dos aposentados.
Sob a ótica
econômica, dívidas longas contraídas para aquisição de bens de consumo implicam
em perda patrimonial para a família, sendo nefastas, portanto. Já as dívidas
relativas à compra da casa própria, por exemplo, são vistas como saudáveis por
promoverem uma forma de poupança.
Porém,
considerando o despreparo do consumidor relativo a operações financeiras e a
indução ao crédito feito por propagandas comerciais e governamentais, temos que
concordar com o autor Peter Senge, pesquisador de referência em técnicas de aprendizado
coletivo, quando afirma: “na ausência de um grande objetivo, a mediocridade
prevalece”. Isto é, sem um bom projeto para uso do capital de terceiro, todo
recurso será ameaçador, ainda mais com as abusivas taxas de juros locais.
Do ponto de
vista filosófico, todo empréstimo é uma operação baseada em relações de
confiança mútua. Assim, quem empresta disponibiliza recursos acumulados do seu
passado em favor do projeto de outro. Como projeto é algo “por fazer”, logo nos
remete ao futuro, e a todas as suas incertezas. Dessa maneira, uma operação de
crédito corresponde ao encontro do passado de um (financiador) com o futuro de
outro (tomador).
Como sabemos
que o futuro sempre envolve risco, por sua natureza incerta, entende-se a
solidariedade de quem concede o empréstimo, via análise de crédito, com a
capacidade de honrar o compromisso do tomador.
Com efeito,
endividar a população de menor renda para estimular o consumo pode render
dividendos políticos de curto prazo por gerar a sensação de melhoria do poder
aquisitivo e assim, disfarçar a pobreza. Contudo, poderá ser uma medida recessiva
a médio e longo prazo por “escravizar” o devedor e sua família com o comprometimento
de significativa parcela de rendas futuras. Isso assegurará a manutenção da
pobreza e trará intranquilidade para muitos brasileiros e brasileiras que
viverão a sensação de que “o dia que está por vir parece maior que o ano que
passou”.
Para iniciar
um bom curso de educação financeira sigamos a recomendação do poeta Vinicius de
Morais:
“Desejo, outrossim, que
você tenha dinheiro,
Porque é preciso ser prático.
E que pelo menos uma vez por ano
Coloque um pouco dele
Na sua frente e diga “Isso é meu”,
Só para que fique bem claro quem é o dono de quem.”
Publicado
no jornal Cinform de 17/11/2014 – Caderno Emprego
Publicado no jornal Coerente de 15/12/2014 – Edição 14
Publicado na revista TI&N n°21 - Dez/2014
Publicado em 04/02/2015 em http://www.administradores.com.br/artigos/economia-e-financas/endividamento-e-pobreza-disfarcada/84575/
Publicado no jornal Coerente de 15/12/2014 – Edição 14
Publicado na revista TI&N n°21 - Dez/2014
Publicado em 04/02/2015 em http://www.administradores.com.br/artigos/economia-e-financas/endividamento-e-pobreza-disfarcada/84575/
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