segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Conae 2014: Oportunidade perdida


Entre os dias 19 e 23 de novembro deste ano, aconteceu em Brasília a Conae 2014 – Conferência Nacional de Educação. Trata-se de um importante momento de debate sobre os destinos da combalida educação brasileira, reunindo 3500 delegados de todos os Estados do País, representando docentes, pais, gestores e alunos, das esferas pública e privada; além de observadores.
Pelo porte grandioso, a Conae se traduz em elevados gastos públicos, pois envolve hospedagens, traslados, refeições, passagens aéreas, locação de espaços e remuneração dos organizadores.
Isso significa que o suor brasileiro banca essa conta, aumentando, por certo, a responsabilidade dos delegados e a exigência de reciprocidade. Isto é, caberia aos delegados, no mínimo, a obrigação de pensar a educação levando em conta o nosso povo e seu contexto, real patrocinador do evento.
Lamentavelmente, isso não aconteceu, a priori. As plenárias dos diversos eixos temáticos, bem como a plenária final, foram palcos de torcidas ideológicas e acaloradas nas votações dos destaques.
Se, por um lado, isso parece saudável no debate democrático, lá se revelou um fracasso, à medida que buscou mais fragmentar que fortalecer o nosso envergonhado sistema educacional.
Lutar por concentrar mais recursos orçamentários foi o fundamento de muitos grupos organizados presentes. O discurso de buscar mais dinheiro para seu próprio nicho, ainda que a custa de destruir outros, não parece a melhor postura para quem se diz educador.
Faltou estatura a muitos delegados e até a uns tantos palestrantes também, ao distorcerem informações visando interesse pessoal e ao exercerem um olhar míope frente à realidade dos esquecidos brasileiros, especialmente, os mais necessitados dos serviços do Estado.
Não é novidade informar que nos indicadores de Educação Comparada, o Brasil se mostra sempre nos piores lugares. O Pisa (teste internacional de qualidade na educação), classifica o País assim: Em 2012, 65 países participaram do Pisa, quando em Matemática, o Brasil ficou no 58º lugar no ranking, com 391 pontos.  Na prova de Leitura, a nossa média foi de 410 pontos, o que levou a 55º posição. Em Ciências, o País ocupa a 59º colocação, com 405 pontos.
Frente a essa realidade tão discrepante com o nosso padrão econômico, devemos entender que a educação necessita da união de todos para a superação de sua insuficiência. Dessa forma, a disputa imatura de grupos pelos recursos alheios assegura a consolidação do desastre.
É um crime contra o cidadão impedir o acesso aos serviços prestados por uma Apae conveniada à Rede Pública, ou de um jovem de qualquer assentamento do MST a uma escola rural praticante da Pedagogia da Alternância, ou ainda, impedir o acesso a vagas compradas com recursos do Pronatec em boas escolas profissionalizantes.
  Recurso público só para o Serviço Público. Esse foi o mote cantado e festejado por muitos presentes na Conae, ignorando a verdadeira realidade dos brasileiros. Será que o Serviço Público possui condições de atendimento qualitativo e quantitativo aos que a ele recorre? Em quanto tempo terá?
Apostar nessa solução é ir na contramão da história dos bem sucedidos exemplos. Recurso público é para ser destinado a todos que dele verdadeiramente necessitem por meio de quem honesta e eficientemente realize bem o serviço ao cidadão.
Assim, é triste ver que muitos dos que se dizem representantes da inovação educacional sejam tão apegados a interesses próprios e mesquinhos, incapazes de pregar uma integração de soluções, na qual as melhores práticas servissem de modelos replicáveis. Deveria a Conae 2014 ser o teatro de operações da interação e integração de todos pelo salvamento da Educação brasileira, ambiente emblemático para a construção de um pacto nacional.
Considerando que o desejado pacto nacional pela Educação não ocorreu, resta crer que os legisladores e a Presidente Dilma terão a lucidez que o momento exige na construção do futuro do Brasil. Afinal, o futuro está diretamente relacionado com a qualidade e o acesso ofertados a nossos jovens e crianças. De nada valerão os dez pontos percentuais do PIB ou os royalties do pré-sal se os caminhos da educação não estiverem em mãos certas.



Publicado no jornal Cinform de 01/12/2014 – Caderno Emprego

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