Entre os
dias 19 e 23 de novembro deste ano, aconteceu em Brasília a Conae 2014 –
Conferência Nacional de Educação. Trata-se de um importante momento de debate
sobre os destinos da combalida educação brasileira, reunindo 3500 delegados de
todos os Estados do País, representando docentes, pais, gestores e alunos, das
esferas pública e privada; além de observadores.
Pelo porte
grandioso, a Conae se traduz em elevados gastos públicos, pois envolve
hospedagens, traslados, refeições, passagens aéreas, locação de espaços e remuneração
dos organizadores.
Isso
significa que o suor brasileiro banca essa conta, aumentando, por certo, a
responsabilidade dos delegados e a exigência de reciprocidade. Isto é, caberia
aos delegados, no mínimo, a obrigação de pensar a educação levando em conta o
nosso povo e seu contexto, real patrocinador do evento.
Lamentavelmente,
isso não aconteceu, a priori. As plenárias dos diversos eixos temáticos, bem
como a plenária final, foram palcos de torcidas ideológicas e acaloradas nas
votações dos destaques.
Se, por um
lado, isso parece saudável no debate democrático, lá se revelou um fracasso, à
medida que buscou mais fragmentar que fortalecer o nosso envergonhado sistema
educacional.
Lutar por concentrar
mais recursos orçamentários foi o fundamento de muitos grupos organizados
presentes. O discurso de buscar mais dinheiro para seu próprio nicho, ainda que
a custa de destruir outros, não parece a melhor postura para quem se diz
educador.
Faltou estatura
a muitos delegados e até a uns tantos palestrantes também, ao distorcerem
informações visando interesse pessoal e ao exercerem um olhar míope frente à
realidade dos esquecidos brasileiros, especialmente, os mais necessitados dos
serviços do Estado.
Não é
novidade informar que nos indicadores de Educação Comparada, o Brasil se mostra
sempre nos piores lugares. O Pisa (teste internacional de qualidade na
educação), classifica o País assim: Em 2012, 65 países participaram do Pisa,
quando em Matemática, o Brasil ficou no 58º lugar no ranking, com 391 pontos.
Na prova de Leitura, a nossa média foi de 410 pontos, o que levou a 55º
posição. Em Ciências, o País ocupa a 59º colocação, com 405 pontos.
Frente a
essa realidade tão discrepante com o nosso padrão econômico, devemos entender
que a educação necessita da união de todos para a superação de sua
insuficiência. Dessa forma, a disputa imatura de grupos pelos recursos alheios
assegura a consolidação do desastre.
É um crime
contra o cidadão impedir o acesso aos serviços prestados por uma Apae
conveniada à Rede Pública, ou de um jovem de qualquer assentamento do MST a uma
escola rural praticante da Pedagogia da Alternância, ou ainda, impedir o acesso
a vagas compradas com recursos do Pronatec em boas escolas profissionalizantes.
Recurso público só para o Serviço Público.
Esse foi o mote cantado e festejado por muitos presentes na Conae, ignorando a
verdadeira realidade dos brasileiros. Será que o Serviço Público possui
condições de atendimento qualitativo e quantitativo aos que a ele recorre? Em
quanto tempo terá?
Apostar
nessa solução é ir na contramão da história dos bem sucedidos exemplos. Recurso
público é para ser destinado a todos que dele verdadeiramente necessitem por
meio de quem honesta e eficientemente realize bem o serviço ao cidadão.
Assim, é
triste ver que muitos dos que se dizem representantes da inovação educacional
sejam tão apegados a interesses próprios e mesquinhos, incapazes de pregar uma
integração de soluções, na qual as melhores práticas servissem de modelos
replicáveis. Deveria a Conae 2014 ser o teatro de operações da interação e
integração de todos pelo salvamento da Educação brasileira, ambiente
emblemático para a construção de um pacto nacional.
Considerando
que o desejado pacto nacional pela Educação não ocorreu, resta crer que os
legisladores e a Presidente Dilma terão a lucidez que o momento exige na
construção do futuro do Brasil. Afinal, o futuro está diretamente relacionado
com a qualidade e o acesso ofertados a nossos jovens e crianças. De nada
valerão os dez pontos percentuais do PIB ou os royalties do pré-sal se os
caminhos da educação não estiverem em mãos certas.
Publicado
no jornal Cinform de 01/12/2014 – Caderno Emprego
Nenhum comentário:
Postar um comentário