Durante a
ECO-92, no Rio de Janeiro, a ioguina indiana Dadi Janki, hoje com 98 anos,
recebeu da ONU o título de Guardiã do Planeta por seu trabalho em prol de
mentes mais livres e pacíficas, declarando no seu pronunciamento: “Porque tudo
o que acontece neste mundo começa antes no coração das pessoas”.
Enaltecer as
coisas do coração (ou cordiais) no mundo dos negócios e da educação soa
destoante nesse universo de estética hiperintelectual. Mas, essa reduzida
cosmovisão está gerando prejuízos na avaliação de tendências e,
consequentemente, na tomada de decisões de grandes executivos e de formuladores
de políticas educacionais.
Recentemente,
uma famosa cervejaria europeia, desiludida com as avaliações cartesianas
resultantes de pesquisas de marketing, que não apontavam as reais causas da
queda das vendas, resolveu incumbir um grupo de antropólogos de visitar bares
para descobrir a razão do declínio. Após dezenas de horas de vídeos, milhares
de fotografias e páginas de anotações nas cadernetas de campo, executivos juntaram-se
aos antropólogos para, debruçados sobre os dados brutos, buscarem alguns padrões
legíveis de explicação.
Os porquês
logo surgiram em meio a subjetividades invisíveis aos padrões de pesquisas
comuns. Os brindes “tamanho único”, distribuídos pela Cia., a tensão constante
sofrida pelas garçonetes assediadas pelos clientes e, a falta de uma abordagem
educativa para donos de bares e seus colaboradores, foram motivações para a
perda de espaço comercial da cerveja. Assim, criar “escolas” para treinar
garçons e donos de bares no domínio dos produtos, personalizar brindes “sob
medida” e pagar táxi para as garçonetes voltarem para casa após expediente
noturno, garantiram a retomada do crescimento contínuo das vendas. Fruto do
olhar pelo coração.
De forma
semelhante, a Lego, tradicional fábrica de brinquedos, contratou equipes de
ciências humanas para, por meio da prática da fenomenologia, entender as reais
motivações de seus clientes, pais e crianças ao brincarem com seus kits. O
resultado dessa abordagem fez a empresa voltar a crescer e sair da crise que se
envolveu há cerca de dez anos, quando houve uma perda de conexão dos antigos
clientes com os novos produtos da marca, mais frios e simples que os
tradicionais. A pesquisa revelou que muitas crianças brincavam com Lego para
fugir de seus excessivos compromissos e para desenvolver novas habilidades,
contrariamente ao que se imaginava: que lhes faltavam tempo e interesse.
O que é o fenômeno brincar,
a experiência das crianças ao brincar e onde a Lego se encaixaria nessas
necessidades? A resposta implicou no comprometimento da marca com a criação de
significado nos seus produtos e no que eles representam no campo afetivo.
Novamente, o coração mostrou o caminho onde a ciência exata vacilou.
Ao formar o vínculo
emocional do aluno com o assunto abordado pelo educador, a aprendizagem ocorre
com profundidade, seja esse impulso de atração ou de oposição ao tema. É o que
demonstra a história a seguir:
Numa escola
pública, estava ocorrendo uma situação inusitada:
Uma turma de
meninas de 12 anos que usavam batom, todos os dias beijavam o espelho para
remover o excesso do batom. O diretor andava bastante aborrecido, porque o
zelador tinha um trabalho enorme para limpar o espelho no final do dia! Mas,
como sempre, na tarde seguinte, lá estavam as mesmas marcas de batom...
Um dia, o
diretor juntou todas as meninas no banheiro e explicou pacientemente que era
muito complicado limpar o espelho com todas aquelas marcas que elas faziam. Fez
uma palestra de uma hora. No dia seguinte, as marcas de batom no banheiro,
reapareceram...
No outro
dia, o diretor reuniu novamente todas as meninas junto com o zelador no
banheiro e pediu ao zelador para demonstrar a dificuldade do trabalho. O
zelador imediatamente pegou um pano, molhou bem molhado no vaso
sanitário e passou no espelho. Nunca mais aparecerem marcas no espelho!
Pelo visto, foi com a razão e o coração que Jung, discípulo de
Freud, afirmou: “A ciência não é imune à concepção inconsciente do mundo”.
Publicado no Jornal Cinform em 02/06/2014 - Caderno Emprego
Publicado na revista
TI&N nº 18, de jun/2014
As maiores invenções de sucesso nasceram sem a visualização dos olhos e sim no olhar do coração. Fruto do olhar pelo coração onde a ciência exata não explica. Assim deve ser o Saber Escolar com o sabor da aprendizagem significativa.
ResponderExcluirEsse é o "espírito da coisa". Sabemos tudo demais, mas não amamos o que sabemos.
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