Tomamos
emprestada do brilhante Luis Fernando Verissímo, a frase título deste texto.
Afinal, ela cai como uma luva para demonstrar o efeito que a arte produz nos
resultados da educação regular e em outros inúmeros momentos cotidianos.
A arte é
libertadora da alma humana. Ela nos permite errar saudavelmente e saborear
pitadas de nossas próprias imperfeições sem maiores cobranças. Assim, podemos
reconhecer na prática artística o caráter terapêutico que nos proporciona. É
certo que ninguém sem domínio de um instrumento musical ou de um pincel, vá se
cobrar uma performance exemplar no uso desses, mesmo sendo uma pessoa extremamente
perfeccionista, lá no seu ambiente de trabalho. Daí, o resultado salutar que o
fazer artístico ou dos trabalhos manuais produz nos seus praticantes amadores.
Dentro do
trabalho escolar, a atividade artística se torna aliada, de primeira hora, da aprendizagem
propedêutica (conhecimento básico das disciplinas), pois abre espaço afetivo
para recepcionar novos conhecimentos e amplia as estruturas cognitivas para
abstrações mais complexas dos alunos.
O nome maior
das letras alemãs, Goethe, nos ensinou que “em toda parte nós aprendemos de
quem amamos” pois, “de resto, abomino tudo aquilo que me instrui sem aumentar e
estimular imediatamente a minha atividade” afinal, “depois de todos os nossos
estudos, adquirimos somente aquilo que pomos em prática”. Ou seja, tal qual uma
fechadura de banheiro, o nosso acesso à aprendizagem, também só pode ser aberto
por dentro. Portanto, a afetividade é a chave que disponibiliza a cognição; e a
prática é o que faz o conhecimento se fixar para sempre. Cabe ao educador convidar
o aluno a girar sua fechadura de “ocupado” para “livre”.
Podemos ver
na imagem do ser humano duas polaridades opostas em suas atividades anímicas: o
pensar e o querer. O pensar é a expressão de nossa consciência, se realiza em
um ambiente de pleno silêncio, baixíssimo metabolismo e ausência de movimentos
internos. Inversamente, a nossa vontade se manifesta de forma exemplar em
nossas vísceras, órgãos disformes e autônomos, de ação inconsciente e
involuntária. Isto é, agem de acordo com seus próprios impulsos e ritmos,
representando a vontade em sua manifestação bruta. Intermediando esses pólos
opostos do pensar (cognitivo) e do querer (volitivo) está o sistema ritmíco,
composto, principalmente, por coração e pulmões. Seu funcionamento equilibra as
forças antagônicas dos demais polos pelo caminho dos sentimentos (emotivo).
Com base
nessa visão, o caminho da educação integral passa por essas três esferas da
alma humana. Rudolf Steiner, criador da Pedagogia Waldorf, ensina que os
processos do pensamento são intolerantes com repetições pois, ao pensarmos
algo, imediatamente buscamos um novo pensamento a partir daquele, e assim
sucessivamente. Opostamente, a vontade deve ser educada por processos
repetitivos para que se forme um hábito ou uma habilidade necessária. Aprender como
dirigir um carro, na teoria não deve demorar mais do que alguns minutos de
pensamento. Porém, a aquisição da segurança na condução prática do veículo
depende de muitos dias de exercícios para o domínio mínimo aceitável. Então
como compatibilizar a necessidade de repetições para aquisição de habilidades
com o afoito “pensar”? Através da prática de atividades artísticas.
Tal resposta
veio do próprio Steiner no seu livro A arte da educação vol.I: “Por que o
elemento artístico atua tão especialmente sobre a formação da vontade? Primeiro,
porque o exercício consiste da repetição, e segundo, porque a pessoa sente um
prazer sempre renovado pelo que aprendeu em matéria de arte. Aprecia-se o
artístico sempre novamente, e não apenas da primeira vez. O elemento artístico
tem já por si a propriedade de alegrar o homem não só uma vez, mas sempre de
novo. Daí a relação entre nossas intenções pedagógicas e o elemento artístico”.
Caso lhe
recomendem fazer uma obra de arte durante os estudos para um concurso. Não
pergunte, - Poesia numa hora dessas? Faça, pode ser a chave do seu melhor
desempenho.
Publicado no Jornal Cinform em 09/06/2014 - Caderno Emprego
Boa noite!
ResponderExcluirParabéns pelo post. Gostaria de saber qual a obra de Goethe que você retirou essas frases.
Obrigado.
Cara Ana Carla,
ExcluirObrigado por suas palavras e leitura do post.
Goethe, além do legado na literatura e poesia, deixou importantes obras no campo das Ciências Naturais, Botânica, Zoologia e nos estudos das cores.
As frases que utilizei nos texto foram de diversas fontes, de forma que o encadeamento de ideias foi construção minha. Mas vamos lá:
"em toda parte nós aprendemos de quem amamos": http://www.spell.org.br/documentos/download/7470
"de resto, abomino ..." Está no prefácio do livro "Da utilidade e dos inconvenientes da história para a vida" de Nietzsche.
"depois de todos os nossos estudos...":
http://www.recantodasletras.com.br/pensamentos/4343188
Sou, particularmente, um admirador de Goethe. Por isso tenho diversas frases atribuídas a ele, bem como admiro sua metodologia científica (goetheanismo) para observação de fenômenos naturais. Nem toda citação que apresento nestes textos tem caráter científico.
Em sites como http://pensador.uol.com.br/ há centenas de frases de Goethe.
Estou à disposição para mais informações.
Grande abraço,