O Governo
Federal anunciou esses dias o lançamento do Programa Nacional de Acesso ao
Ensino Técnico e Emprego - Pronatec 2.0 -, elevando o status atual de Programa
de Governo para Programa de Estado. Em outras palavras, tornar-se-á objeto de
duradoura e estável Lei, assegurando sua permanência com mais vigor e
independência aos movimentos eleitorais.
Considerando
o desempenho do Pronatec, desde sua criação em 2011, vê-se assegurado o pleno
êxito no atingimento da meta de oito milhões de matrículas em cursos
profissionalizantes gratuitos, até o final de 2014. Também, merece destaque a
qualidade desses cursos, já que são ofertados pelo “Sistema S” (Senac, Senai,
Senat, Senar), institutos federais, escolas profissionalizantes estaduais e faculdades
particulares de melhor conceito na avaliação do Enade.
São mais que
justificáveis os motivos para a renovação e ampliação desse Programa: os
investimentos em educação no Brasil se mostram insuficientes para os desafios
da moderna Economia. Infelizmente, a produtividade do nosso trabalhador é sofrível
quando comparada à de países mais ricos e, uma das causas, é a baixa qualidade da
escola combinada aos poucos anos de frequência do aluno. Assim, além de dispormos
de uma escola que, em geral, não relaciona o conteúdo curricular com a aplicação
desse mesmo saber no cotidiano, ela, ainda parece ser um elemento acessório no
contexto socioeconômico, pois carece de pertencimento e sentido de prioridade
no modelo mental dos brasileiros.
Mas, isso
vai mudar. Temos que acreditar e fazer por onde. Imaginemos, num sonho, que
todos os brasileiros fossem estudantes. Os trabalhadores estudassem
sistematicamente e os empresários também. Os funcionários públicos estudantes, dessem
exemplos de melhores práticas e, principalmente, os professores, que também
seriam alunos cativos, aprimorando e vivificando seu labor. Segundo a Pedagogia
Waldorf, quando o professor se mostra estudioso, influencia automática e positivamente
seus alunos e, por isso recomenda que o docente lecione na mesma turma, do
primeiro ao oitavo ano do Ensino Fundamental, em um desafio que o obriga a
crescer junto com seus alunos.
Com efeito, o
Brasil com duzentos milhões de estudantes, faria uma revolução capaz de se
reinventar em médio prazo, sem conflitos, onde todos sairiam ganhando, desde
que, essa Educação não seguisse ideais platônicos. Como assim? Historicamente,
o trabalho sempre foi visto como algo degradante e sinônimo de submissão ou
pobreza. Platão, no século V a.C., mesmo sendo reconhecido como um dos maiores
pensadores da história, abominava o trabalho manual. Desse modo, ele entendia
que os escravos iriam para o inferno, juntamente com os artistas plásticos e todos
aqueles que pertencessem à nata da sociedade, mas que desenvolvessem atividades
com as mãos, a exemplo de esculturas ou pinturas. Platão valorizava apenas o
trabalho mental, os ideais, a oratória e as projeções irrealizáveis. De tal
modo, esse filósofo se traduz em utopias e paixões inatingíveis, quando propõe que
devemos amar apenas os ideais.
Em paralelo,
essa imagem platônica compõe o cenário de uma escola em que os conteúdos
cognitivos não chegam às mãos dos estudantes, permanecendo como ideais
irrealizáveis em suas cabeças. Portanto, qualquer coincidência é mera
semelhança mesmo.
Contra isso,
a práxis educacional deve equilibrar teoria e prática sistematicamente, o que
fará brilhar a participação dos alunos e, acima de tudo, trará significância para
o conhecimento. Essa composição mais harmoniosa é o que se vê costumeiramente
na Educação Profissional, ao formar o elo do desenvolvimento de habilidades com
conhecimentos.
O Pronatec
provê, para além dos reconhecidos benefícios sociais e econômicos, um sutil e
importante ganho pedagógico para os alunos de cursos técnicos concomitantes à
escola regular: ao ofertar o “aprender a fazer” e o “aprender a conviver”, o
Pronatec combate a educação platônica (ou bancária na visão freiriana). Afinal,
como Heródoto, contemporâneo de Platão disse: “educar não é encher um balde, é
acender um fogo”.
Publicado no Jornal Cinform em 23/06/2014 - Caderno Emprego
Acender o fogo do saber exige sabedoria que só é concebida quando amamos, reinventamos e buscamos cotinuamente aplicar os Pilares da Educação.
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