A noção de progresso está diretamente relacionada à ação dos
empreendedores. Estes são os responsáveis pelas mudanças estruturais, inclusive
as mais profundas socialmente, abrindo as estradas por onde a humanidade
caminhará. Ou, nas palavras de Nicolau Maquiavel: “os homens trilham quase
sempre estradas já percorridas”. Assim, diferentemente da imagem de pessoa
gananciosa ou capitalista radical, o empreendedor é um artista, um criador. É
aquele que está sempre em busca de realizar sonhos e nunca desiste. Estes
sonhos podem se realizar em diversos campos da atuação humana, como artes, negócios,
ciências sociais, tecnologia, economia ou política, dentre outros.
Ao longo da história recente, a primeira grande onda de empreendedorismo
surge em torno de 1850, perdurando até 1914, quando explode a I Guerra Mundial.
Nesse curto período, a realidade se transformou com a gênese do mundo moderno.
Em 1856, a Siemens lança o dínamo, um revolucionário gerador de energia
elétrica.
Já, em 1911, surge a válvula eletrônica, pré-requisito para o
acontecimento da televisão e demais eletrônicos. Entre esses eventos, surgem a
máquina de escrever, o automóvel, o avião, a lâmpada elétrica, as drogas
sintéticas, o rádio, os tratores, o bonde urbano, fotografia colorida, o motor
de combustão interna, a cirurgia asséptica, o fonógrafo, o refrigerador e
muitas outras invenções que nos fizeram modernos. Por certo, esse foi o tempo
em que a humanidade mais se espantou com suas próprias realizações.
No período entre guerras, de 1914 a 1945, acontece um apagão nos
processos inovadores, quando, além da crise mundial decorrente das guerras e do
desarranjo econômico, ocorre um mergulho nos processos gerenciais. Isto é, uma
introspecção do fenômeno empresarial, que resulta no culto à grande empresa, vista
como redentora dos problemas econômicos e sociais e, modelo ideal de
desenvolvimento saudável, apesar da forte aliança que mantem com governos e
sindicatos. Dessa forma, a pequena empresa passa a ser mal vista nesses tempos,
simbolizando um negócio precário.
Após a Segunda Guerra, as grandes empresas encarnam o modelo Luís
XIV – “o Estado sou Eu” –, redefinindo rumos econômicos e sociais às nações.
Célebre é a controvertida frase atribuída a Charles Wilson, ex-presidente da
GM: “o que é bom para a General Motors é bom para o País”, que vem a ser emblemática
dessa relação incestuosa do Estado com a grande empresa, ainda hoje, muito
presente, inclusive no Brasil.
Ao raiar da década de 1980, ressurge o empreendedorismo com força
total, ameaçando a grande empresa e o modelo impositivo da economia de escala.
A substituição de átomos por bits cria novas oportunidades que favorecem ao
empreendedorismo “de garagem”. Inúmeras pequenas empresas surgem na nova onda
da economia do conhecimento, muito mais favorável à gestão desburocratizada da
pequena empresa do que a da grande corporação.
Por ser nossa contemporânea, essa segunda grande onda
empreendedora assistimos ao vivo e a cores. Na realidade, estamos imersos nela
quando “navegamos” na internet, usamos nossos potentes aparelhos celulares,
fazemos videoconferência até dentro de um ônibus urbano ou, quando nos
submetemos a cirurgias realizadas por precisos robôs. Aquelas garagens de 1980
para cá, ocupadas por estudiosos empreendedores, gestaram as marcas mais
valiosas de hoje: Google, Microsoft, HP, Apple e outras.
Essas ondas empreendedoras globais, como imensos tsunamis, causaram
um fenômeno histórico revolucionário: arrastaram o eixo do Ocidente mais ao ocidente
ainda. Ou seja, elas deslocaram o epicentro ocidental da Europa para a América
do Norte, região que viveu subordinada aos europeus por séculos. Paralelamente,
o Brasil se reconhece brasileiro, encontrando seu caminho como nação,
exatamente na entressafra potencial europeia – o período entre guerras mundiais
–, lançando seu manifesto artístico empreendedor na famosa Semana de 22, incubadora
da alma nacional.
Quanto mais faltar incentivo ao empreendedorismo, mais se cria
espaço para o antagônico clientelismo. Para você, isso faz sentido?
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Publicado no Jornal Cinform em 12/05/2014 - Caderno Emprego
Publicado na revista TI&N nº 24 - jun/2015
Publicado na revista TI&N nº 24 - jun/2015
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