segunda-feira, 22 de julho de 2013

Enquanto Seu Lobo não vem

 
Bordado de Cida Dias
     Era uma vez, um gênio chamado Albert Einstein, que nos contou o seguinte: “Se quiser que os seus filhos sejam brilhantes, leia contos de fadas para eles. Se quiser que sejam ainda mais brilhantes, leia ainda mais contos de fadas”.

Para sabermos o porquê disso, devemos entender a natureza anímica do ser humano. Não à toa, o termo latino “anima”, significa “alma” e dele derivam as expressões “animal”, “anímico” e “animado”, por exemplo. Então, seriam os animais dotados de alma? Por certo, sim.

A alma é responsável pelo comportamento, isto é, pela animação característica de cada espécie. Assim, cada lebre compartilha uma alma comum às demais lebres. O mesmo acontece com lobos, avestruzes, tatus ou leões. Essa alma característica de cada espécie silvestre determina o comportamento típico de todos os seus indivíduos, criando grande previsibilidade de como agirão diante de uma dada situação.

Caçar à noite, hibernar no frio, entrar no cio na primavera, construir tocas, emboscar, etc., são hábitos determinados para a espécie, contra os quais não é possível reagir.

De forma diversa, está o ser humano, “bicho” emancipado da natureza e dotado de grande pluralidade comportamental. Há os que fazem castidade, os que preferem trabalhar à noite, os que vivem no frio inóspito das altitudes ou no calor desértico. Essa independência ao natural nos faz dotados de todos os comportamentos dos animais, além de outros exclusivamente humanos.

Dessa forma, é possível ver em homens a agressividade de um tigre, a capacidade de fazer emboscadas de uma onça, a dissimulação mimética do camaleão, o oportunismo de uma hiena, a fidelidade dos pinguins, a covardia de um preá e muitos outros comportamentos dos animais.

Já o inverso não acontece. Não espere compaixão, solidariedade e empatia de uma coruja ou de um jacaré. Para confirmar essa assimetria entre humanos e animais, Goethe, autor maior da língua alemã, afirmou: “Se os macacos chegassem a experimentar tédio, poderiam tornar-se gente”.

 Quantas vezes nos pegamos a comparar pessoas com animais? Dizer que fulano é um leão para trabalhar, que beltrano tem uma visão de águia ou que cicrana é uma jararaca. São metáforas que nos auxiliam a descrever imagens bem simbólicas das pessoas. Aliás, o próprio zodíaco é composto por vários animais representando os signos.    

Ainda no século XVIII, Goethe realizou, com visão poética, pesquisas no campo das ciências naturais que o levou a desenvolver uma metodologia científica inovadora, inspirada na observação das qualidades intrínsecas aos fenômenos naturais. Disso, concluiu o poeta: “o reino animal é apenas o animal mais evoluído – o homem – despedaçado”.

Esses animais latentes na alma humana são narrados sob a forma de contos. Há indícios de que os temas permanecem inalterados desde 25 mil anos a.C. Por isso, devemos respeitar a riqueza espiritual que os contos possuem. Segundo Jung, é nos contos de fadas onde melhor se pode estudar a “anatomia comparada da psique”.

Essa é a função dos contos de fadas na Educação. Transmitir verdades universais, fáceis de serem assimiladas e acolhidas pelas crianças pequenas que veem o mundo com o mesmo olhar fantasioso e imaginativo dos mais belos contos. Ainda que alguns nos pareçam cruéis, eles são adorados pelos pequenos, que não cansam de nos pedir que lhes repita exaustivamente a estória preferida, exatamente da mesma forma.

Pois, contos de fadas povoados por reis e princesas, por lobos e bruxas, formam a rica ponte entre o imaginário da criança e a realidade exterior acessível nos primeiros anos de vida. Os Irmãos Grimm reuniram um belo acervo de contos, alguns editados com puro rigor pedagógico que são muito usados em jardins de infância de escolas Waldorf.

Agora, se você duvida que sapos viram príncipes ou que bruxas existam, é melhor dar uma boa olhada no mundo ao seu redor, discretamente, ... enquanto Seu Lobo não vem. 
                                                       .

Publicado no jornal Cinform em 22/07/2013 - Caderno Emprego 
          Publicado no jornal Coerente em 16/02/2014 - Educação pág. 13




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