Passei vinte e nove meses num navio
E vinte e nove dias na prisão
E aos vinte e nove, com o retorno de Saturno
Decidi começar a viver.
Com esses versos esotéricos, a banda Legião Urbana revelou uma
grande sabedoria - o retorno de Saturno à mesma posição no zodíaco ocorre a
cada vinte e nove anos - e fez oposição a outra famosa melodia, da década de
1970, que dizia: “Não confie em ninguém com mais de trinta anos”. Mas o essas
idades têm de importante?
Estudos biográficos humanos ensinam que, até cerca dos trinta
anos, é possível a revelação de talentos natos. Isto é, após essa idade, os
dons naturais não mais surtirão efeitos, caso não tenham sido trabalhados antes.
Pessoas que aprenderam sozinhas a tocar violão, dançar, jogar futebol,
pintar quadros ou a praticar outras artes de forma espontânea e vocacionada,
certamente, fizeram quando jovens e pegaram carona no talento natural que
possuíam. Aos que já passaram dos trinta anos, resta-lhes a chance de realizar
a mesma coisa, porém, pelo caminho do esforço e perseverança, semelhante ao
jovem que necessita aprender algo para o qual não possui nenhuma afinidade
nata.
Antes dos trinta anos, as pessoas são mais audaciosas e
desconhecem impossibilidades convencionais, como nos exemplos apresentados a
seguir, extraídos do livro Abundância – O Futuro é Melhor do que Você Imagina -,
de P. Diamandis e S. Kotler.
No início da década de 1960, foi lançado o programa espacial
Apollo, com pouquíssima tecnologia disponível. Quase tudo teve de ser inventado
em paralelo aos lançamentos dos foguetes. Se credita o sucesso do programa ao
fato de que os engenheiros responsáveis eram muito jovens para saber que
estavam tentando o impossível. Os engenheiros que nos levaram à Lua tinham no
máximo trinta anos.
Alguns anos mais tarde, outros jovens promoveram uma revolução no
campo da informática ao desenvolver os microcomputadores e os sistemas
operacionais amigáveis, popularizando o acesso ao mundo digital e as
aplicações, até então, inacessível aos mortais e às pequenas empresas.
A partir da década de 1990, jovens inovadores promovem a revolução
“pontocom”. A internet ganha uma linguagem própria, interativa e democrática,
que disponibiliza a todos o status de autor, tornando a comunicação difusa e
igualitária a todos, dentro da rede. É a chamada web 2.0, “terra” das redes
sociais e dos sítios de livre publicação, como o YouTube ou os blogs.
Em 2004, Jared Cohen, 24 anos, universitário americano, estava disposto
a conhecer o Irã e estabelecer amizade com jovens locais, em plena época de
conflito com os Estados Unidos. Conseguiu, com dificuldade óbvia, um visto de
entrada e para lá viajou. É uma longa e curiosa história, mas suficiente para
fazer, desse corajoso viajante, um dos homens mais conhecedores de redes
sociais do mundo, sendo hoje, diretor de Ideias da Google.
Ele fez muitos amigos, a maioria jovens. Na época, o Irã possuía
dois terços da população com menos de trinta anos, o que criava uma barreira
digital para os mais idosos, que não tinham domínio algum sobre as censuradas
mídias digitais.
Um interessante episódio acontece quando Cohen encontra com meia
dúzia de jovens em uma esquina, encostados na parede, usando explicitamente os
celulares.
Perguntou a um rapaz o que estava acontecendo e foi informado que
todo mundo vinha usar o Bluetooth para acessar a internet.
“Vocês não têm medo de serem presos?”, perguntou Cohen.
O rapaz fez um sinal de não com a cabeça.
“Ninguém com mais de trinta anos sabe o que é Bluetooth”.
Porém, nem tudo é vantagem para os jovens, pois, mesmo quando, aos
mais talentosos, a vida dá presentes que os transformam em grandes técnicos ou
artistas, ainda lhes faltam saturnos.
Só dos trinta em diante, é possível viver a recompensa da
maturidade. Maturidade essa que permitiu, a partir dessa idade, a presença do
Cristo, igualmente Homem, entre nós.
Publicado no jornal Cinform em 05/08/2013 - Caderno Emprego
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