Está em tramitação no legislativo, um
projeto de unificação dos currículos da Educação Básica do País. Os defensores
da ideia alegam que o currículo diferenciado, como se encontra, potencializa as
desigualdades regionais, além de não permitir alinhar a formação dos
professores com o material didático e conteúdos de cada disciplina. Já os
contrários, afirmam que essa unificação engessará, ainda mais, o trabalho do
professor e não respeitará as características regionais, fazendo da educação um
produto de interesse de minorias dominantes que banalizam a identidade local.
Analisando os fatos, verificamos que
está em moda aplicar testes comparativos da Educação Básica entre vários
países, a exemplo do famoso Pisa - Program for International Student Assessment
-, que coloca o Brasil entre as dez piores notas, em uma lista de mais de 60
países. Nesse Pisa, nosso desempenho foi simplesmente vergonhoso em todas as
participações.
Em uma época de acelerado processo de
globalização e mudanças, inclusive as de endereços, é natural e saudável a
criação de parâmetros educacionais que permitam a mobilidade de famílias dentro
ou fora do País, sem maiores prejuízos à formação escolar dos filhos. Assim, a
aproximação entre currículos e conteúdos em linguagem, matemática e ciências
deve ser bem-vinda. Ademais, essas disciplinas possibilitam conhecimentos universais
básicos, que permitirão novas aquisições mais complexas e abstratas.
No mundo atual, existem dois grandes
produtores de currículos: a Unesco e a OCDE – Organização para a Cooperação e
Desenvolvimento Econômico. De modo geral, todos os países se alinham em uma ou
outra dessas fontes, pois são também as grandes financiadoras da educação,
liberando recursos aos que aderem às soluções propostas por elas. É natural,
portanto, que o financiador padronize os projetos de educação, implante, avalie
a conformidade e o desempenho, onde quer que seja a implantação.
Tal cenário favorece excessivamente a
padronização da educação escolar, tornando-a um produto de consumo
comoditizado, assemelhado ao minério de ferro ou à carne de frango. E, por
falar em commodities, sabemos o quanto o Brasil é bom nesse “campo”. Somos líderes
mundiais em várias delas, mas não devemos estar satisfeitos com isso, pois sabemos
tratar de bens de baixo valor agregado e pouca diferenciação, tornando o menor
preço o principal motivo da escolha. Conquanto toda commodity é igual entre si.
No capitalismo da Revolução
Industrial, Henry Ford tornou-se um ícone ao aperfeiçoar a linha de montagem dos
famosos automóveis dele. Tamanha obsessão por produtividade e eficiência, o fez
reduzir custos, inacreditavelmente, chegando à década de 1920 com a Ford sendo
responsável por um terço de todos os automóveis produzidos no mundo.
Porém, tal performance industrial tanto
o remeteu ao ápice do modelo como também o levou a perder a sensibilidade
quanto ao mercado consumidor. Esse afastamento do cliente foi bem caracterizado
com a frase que lhe é atribuída: “o americano pode comprar o carro de qualquer cor,
desde que seja preto!”. Sob a ótica da eficiência, ele estava coberto de razão,
pois pintar os carros de uma única cor reduz custos de produção. Mas, não era
mais isso que o consumidor queria, fazendo a Ford perder posições.
De forma pragmática, devemos
considerar a commodity como algo inferior quando somos capazes de superá-la. Ou
seja, se exportássemos locomotivas ou navios, então não deveríamos exportar
minério de ferro. Todavia, quando nosso produto é inferior ao da commodity,
esta deve ser a nossa referência mínima inicial. Se não exportamos escolas,
professores, material didático ou gestores escolares, como fazemos com o
futebol, então estamos abaixo das commodities do setor. Que tal recorrermos a elas?
Enquanto estamos no conforto egocêntrico
das ideologias e perfeccionismos, nossas crianças estão crescendo sem poder
esperar o tempo ideal dos carros coloridos, quando nem fabricamos os pretos. Escolha,
Brasil!
Publicado no jornal Cinform em 15/07/2013 - Caderno Emprego
Publicado em 24/11/2015 no site http://www.administradores.com.br/artigos/cotidiano/desde-que-seja-preto/91819/
Publicado em 24/11/2015 no site http://www.administradores.com.br/artigos/cotidiano/desde-que-seja-preto/91819/
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