Todos os dias, escutamos o clamor
coletivo dos brasileiros em busca de superação das deficiências da nossa Educação.
Interesses diversos tentam se apropriar da veste de “salvador da pátria” quando
propõem soluções para esse cenário de precariedade. Infelizmente, muitas dessas
soluções não passam de interesses corporativos diretos que olham exclusivamente
para uma classe de atores da educação; ou ainda, os interesses mercadológicos
travestidos de pedagógicos. Quaisquer desses são pontos de vista por demais
limitados e unidirecionais, incapazes de diagnosticar com precisão a realidade
complexa da formação educacional de uma criança no ritmo e idade ideais.
Não devemos ver com bons olhos a
ansiedade de gestores da Educação em antecipar a alfabetização para menos de
sete anos de idade, acreditando que assim conseguirão completar o processo de
letramento das crianças até os 8 anos, estabelecido recentemente como meta
nacional. Por quê? Ao observarmos o desenvolvimento de uma criança, vemos que o
amadurecimento neurológico segue um ritmo biológico natural que não dá saltos e
nem é passível de aceleração sob nosso comando. Disso decorre que a
alfabetização só será satisfatória e saudável se encontrar o ambiente
intelectual propício. Isto é, nos ensina Piaget, a criança deve possuir
acomodação cognitiva suficiente para assimilar informações abstratas e
simbólicas, que convencionamos como as letras e os algarismos.
Uma criança sem a devida maturidade
neurológica e que venha a ser submetida a esforços intelectuais será, por
certo, uma vítima da escola. Exigir dela aquilo que ela não pode alcançar é uma
violência contra a criança, até então saudável, porém, agora submetida a um
dilema – ou se adapta rapidamente deslocando forças de outras áreas
(prioritárias) do seu metabolismo para o intelecto, comprometendo, assim, a
saúde física; ou não responderá a contento com o desafio da intelectualização
precoce e será vítima de “bullying” ou outros fatores prejudiciais à autoestima,
adoecendo a alma. Ambas as situações lesionarão a integridade de uma pessoa que
não possuía qualquer “atraso” ou preguiça, mas apenas seu ritmo natural
adequado e, talvez, deficiência de forças para responder a esse injusto desafio
e sair-se bem, como alguns outros conseguem.
Hipoteticamente, se dispomos de uma
sala de alfabetização com alunos de 6 anos de idade, da qual somente metade chega
ao final do ano com o desempenho de leitura desejado, certamente, teremos expectativas
frustradas. Indaga-se: caso, essa mesma turma iniciasse esse processo escolar
com o mesmo método e professor, agora com 5 anos de idade, teríamos um
resultado superior ao da outra turma no final do ano? É lógico que não. Então,
ao anteciparmos o processo de alfabetização na escola, bem como o ingresso ao
ensino fundamental com seis anos, podemos estar dando um tiro no próprio pé.
A dificuldade só aumentará na
aplicação do método com alunos mais novos e o número de crianças imaturas
neurologicamente para a alfabetização será incrementado, obviamente. É a escola
estreitando a boca do funil, em busca de um modelo idealizado por adultos,
apesar das crianças.
Crer que ganharemos um ano a mais para
alfabetizar até os oito anos de idade, antecipando o letramento, pode ser à
custa de produzirmos uma legião de excluídos, frutos de um modelo escolar
perverso. Por certo, todo educador atento vê os danos que o fracasso escolar
imprime na personalidade daqueles que viveram essa situação.
Para avaliarmos a maturidade de
crianças para alfabetização, existem ferramentas psicopedagógicas bem
interessantes, como os kits desenvolvidos pelo pesquisador português, Dr.
Rafael Pereira, de fácil aplicação. Ou, outro sinal mais simples, adotado
mundialmente pela Pedagogia Waldorf: a troca dos dentes de leite por
permanentes, sinalizando que o corpo físico está plasmado pela criança até na
sua substancia mais dura – o esmalte dentário, liberando assim, forças para o “pensar”.
Publicado no jornal Cinform em 08/07/2013 - Caderno Emprego
Publicado no jornal Coerente - Ano I, ed. 1ª, em 16/09/2013
Publicado no jornal Cinform em 08/07/2013 - Caderno Emprego
Publicado no jornal Coerente - Ano I, ed. 1ª, em 16/09/2013
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