Vivemos
a era do intelecto. Nos dias atuais, a exigência de uma formação intelectual se
tornou pressuposto de sucesso no universo do trabalho e das profissões. Modo
geral, somos extremamente estimulados na escola e na sociedade para o
desenvolvimento cognitivo da memória e da capacidade intelectual.
Valorizamos
tão demasiadamente a atividade cerebral, que, por vezes, alguns autores teimam
em reduzir o ser humano a um cérebro isolado. No máximo, esses adoradores da
massa cinzenta devem ver os demais órgãos como satélites que orbitam em torno
de um cérebro. Seriam estes os neoencefálocentristas?
Diferentemente
da imagem de provedor do futuro, ou de fonte do porvir, nosso caríssimo cérebro
funciona muito mais semelhantemente a um espelho retrovisor do que a um farol
que ilumina nosso próximo passo. Explicando melhor: o pensar é fruto de nossas
experiências e aprendizagens já realizadas, ou seja, ele vive e se alimenta do
passado. Por isso, para sermos bons profissionais, temos que possuir um estoque
de conhecimentos adquiridos por muitos anos na escola e por meio das atividades
laborais. Assim, é o nosso passado, que nos faz bons pensadores e usuários das
nobres funções cerebrais.
Costumo
dizer que se o nosso tão valorizado pensar nos orientasse com segurança para o
futuro, acertaríamos o resultado das próximas loterias com a mesma facilidade
que acertamos os números de quinas já sorteadas. Além disso, prever o futuro é
tão inacessível a nossa cognição que atribuímos isso - em pleno terceiro
milênio - a fatores místicos ou mágicos.
Com
efeito, esse mundo da supervalorização das atividades cerebrais e do acervo de
informações e conhecimentos pretéritos pode ser responsável pela inviabilidade
do nosso futuro. Sabemos tudo, mas erramos muito na nossa conduta. Então, saber
não é fazer. Enquanto superestimamos o conhecimento sem a sua coerente
aplicação no mundo, nos orgulharemos de nossas conquistas teóricas avançando
para o abismo da realidade órfã. Ou seja: um discurso bonito por fora e
decomposto por dentro.
A
humanidade, impulsionada por essa onda de intelectualidade, vive no presente a
inédita sensação de acreditar que o futuro poderá ser pior que o passado.
Trata-se da desesperança coletiva inovadora e infeliz. Enquanto apenas
pensamos, ainda que positivamente, sem agirmos, não poderemos ser felizes e
equilibrados. Pior que isso, é quando temos um pensamento negativo e agimos
para sua realização, a exemplo da vigorosa indústria bélica.
Devemos,
portanto, investir na formação de uma nova escola, que desenvolva seus alunos
integralmente por meio da educação do pensar, das atitudes e da vontade. Isso
pode ser conquistado, estimulando o empreendedorismo e a cultura da cooperação.
Cumpre-se, desse modo, três pilares da educação do Século XXI, propostos pela
Unesco: aprender a aprender, aprender a fazer e aprender a conviver.
Se
temos conhecimento sobre a erosão dos solos, o envenenamento das águas, a
poluição do ar, a distribuição de renda, os serviços de saúde, as escolas, a
segurança pública e a riqueza produzida no mundo, então, somos
irreversivelmente responsáveis pelo futuro do planeta.
Não
temos mais o direito à indecisão, senão viveremos o paradoxo do Asno de
Buridan, que na dúvida entre comer um monte de feno e assim matar a fome ou
beber uma gamela de água e matar a sede, olhava um, olhava outro e acabou
morrendo, na dúvida de qual necessidade atender primeiro. Enfim, de tanto
pensar morreu um burro, diz o ditado.
Creio
que vivemos um novo antropocentrismo, no qual o homem é o centro do mundo que o
cerca. Um antropocentrismo moderno, sem a pretensão de se sobrepor a Deus e,
também, desprovido da vaidade de estar no topo da complexidade biológica da
Terra, mas sim por termos conquistado tamanha capacidade de intervenção sobre o
planeta que nos responsabiliza definitivamente sobre o próprio destino. É
preciso decidir e agir, sem tanto pensar.
Publicado no jornal Cinform em 02/04/2012 –
Caderno Emprego
Publicado na revista
Tecnologia da Informação & Negócios nº 07/2012
Publicado em 02/02/2015 em http://www.administradores.com.br/artigos/cotidiano/de-tanto-pensar-morreu-um-mundo/84519/
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