A Finlândia, país nórdico, com pouco mais de 5 milhões de
habitantes é o exemplo mais bem sucedido de educação regular, conforme
comprovam resultados comparativos do exame internacional pisa, aplicado em um
grupo de cerca de 65 países para avaliar o desempenho dos alunos em Ciências,
Matemática e Linguagem. Nesse mesmo teste, o Brasil tem ficado sempre entre as
piores notas, ao lado de nações africanas e de países como, Cazaquistão,
Panamá, Peru e outras.
Hoje, a Finlândia colhe os frutos de um trabalho iniciado ainda na
década de 1970, quando efetuou amplas reformas na educação e perpetuou esse
processo ao longo de 30 anos. Aliás, só é possível consolidar um projeto em
educação, se houver visão em longo prazo e um pacto social que assegure
continuidade de ações. Nos últimos 40 anos, a Finlândia passou de país
eminentemente agrário e industrial para uma moderna economia do conhecimento.
Lá está a sede da Nokia, maior fabricante de celulares do mundo.
Mas qual a fórmula para esse sucesso? Há alguns meses, esteve no
Brasil o Professor Doutor Pasi Sahlberg, especialista em educação, ex-assessor
do Ministério da Educação da Finlândia, que proferiu uma palestra apresentando
os quatro paradoxos da educação de seu país.
Primeiro paradoxo: “Less is more” (menos é mais) – Educação de
qualidade não significa grandes volumes de aulas, tarefas e exercícios. Isso,
na visão do Dr. Sahlberg, pode provocar exaustão e queda de rendimento dos
alunos. Conhecimento não é sinônimo de educação.
Segundo paradoxo: “More learning with less testing” (aprende-se
mais com menos avaliações) – O tempo gasto com avaliações é deslocado para
ações educativas mais proveitosas e menos estressantes, inclusive para o
professor. As avaliações devem ter caráter mediador, isto é, não
classificatório. Não devem servir para rotular um aluno, mas sim para orientar
as ações do professor na superação das deficiências de ensino-aprendizagem.
Terceiro paradoxo: “Equity through diversity” (igualdade na
diversidade) – A chegada de inúmeros imigrantes para o país enriquece a
educação e o desenvolvimento de hábitos de convivência respeitosa e trocas de
experiências.
Quarto paradoxo: “The better a high school graduate is, the more
likely she wants to become a teacher” (Quanto melhor é uma estudante ao
finalizar o Ensino Médio, maior o desejo desta de se tornar professora) – De
acordo com dados daquele país, cerca de 25% dos formandos do ensino médio
querem ser professores. A profissão é valorizada financeira e socialmente. Os
professores são reconhecidos pela sociedade como muito importantes para o
futuro da nação, ficando em segundo lugar entre todas as profissões, perdendo
apenas para os policiais. Assim, os melhores alunos podem ser os melhores
professores.
Lá, diferentemente da maioria dos países avaliados, apenas metade
das crianças até seis anos está na escola, já que a pré-escola é voluntária. E,
muito acertadamente, a alfabetização só inicia aos sete anos de idade com a
frequência escolar obrigatória até os 16 anos. Saliente-se que o professor é o
principal pilar desse modelo educacional invejável, sendo valorizado e
preparado para a função. Todos possuem mestrado.
Devemos refletir sobre as mudanças que realizamos na sofrida
educação brasileira, se é que de fato elas possuem algum mérito qualitativo.
Antecipar a alfabetização, aumentar a carga horária, ampliar a quantidade de
dias letivos, estimular a competição do Enem ou vestibular e outras podem ser a
contramão da verdadeira educação. Será falta de paixão?
Curiosamente, a Finlândia tem uma história de amor com a educação
que remonta ao século 17. Naquela época, o arcebispo luterano Johannes Gezelius
determinou que nenhum homem que não soubesse ler poderia se casar. Sua
motivação era fazer avançar a reforma de Martinho Lutero, que propunha uma
aproximação maior dos fiéis com Deus a partir da leitura pessoal da Bíblia.
Assim, a paixão que movia um finlandês por uma dama, também o levava à escola
para aprender a ler.
Publicado no jornal Cinform em 19/03/2012 –
Caderno Emprego
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