Durante
a Cúpula das Américas de 2009 em Trinidad e Tobago, ocorreu, como se esperava,
um permanente confronto ideológico entre alguns dirigentes latinoamericanos e
Barack Obama, representante máximo do emblemático Estados Unidos. Contudo,
próximo do final, o Presidente da Costa Rica e Prêmio Nobel da Paz, Óscar
Arias, discursa convidando a todos para uma reflexão sobre a quem devemos
responsabilizar pelo fracasso latinoamericano.
A
seguir, alguns trechos do seu pronunciamento: “Tenho a impressão de que cada
vez que os países caribenhos e latinoamericanos se reúnem com o presidente dos
Estados Unidos da América é para pedir-lhe coisas ou para reclamar coisas.
Quase sempre, é para culpar os Estados Unidos de nossos males passados,
presentes e futuros. Não creio que isso seja de todo justo”.
Veja
mais: “Não podemos esquecer que a América Latina teve universidades antes que
os Estados Unidos criassem Harvard e William & Mary, que são as primeiras
universidades desse país. Não podemos esquecer que nesse continente, como
no mundo inteiro, pelo menos até 1750 todos os americanos eram mais
ou menos iguais: todos eram pobres. Ao aparecer a Revolução
Industrial na Inglaterra, outros países sobem nesse vagão: Alemanha, França,
Estados Unidos, Canadá, Austrália, Nova Zelândia e aqui a Revolução Industrial
passou pela América Latina como um cometa, e não nos demos conta. Certamente
perdemos a oportunidade.
Há
50 anos, o México era mais rico que Portugal. Em 1950, um país como o Brasil
tinha uma renda per capita mais elevada que o da Coreia do Sul. Há 60 anos,
Honduras tinha mais riqueza per capita que Cingapura, e hoje Cingapura, em
questão de 35 a 40 anos, tornou-se um país com $40.000 de renda anual por
habitante. Bem, algo nós fizemos mal, os latinoamericanos.
Que
fizemos de errado? Nem posso enumerar todas as coisas que fizemos mal. Para
começar, temos uma escolaridade de 7 anos. Essa é a escolaridade média da
América Latina. e não é o caso da maioria dos países asiáticos. Certamente
não é o caso de países como Estados Unidos e Canadá, com a melhor educação do
mundo, similar a dos europeus. De cada 10 estudantes que ingressam no nível
secundário na América Latina, em alguns países, só um termina esse nível
secundário.
Como
disse esta manhã, não pode ser que a América Latina gaste $50.000 milhões em
armas e soldados. Eu me pergunto: quem é o nosso inimigo? Nosso inimigo,
presidente Correa, desta desigualdade que o Sr. aponta com muita razão, é a
falta de educação; é o analfabetismo; é que não gastamos na saúde de nosso
povo; que não criamos a infraestrutura necessária, os caminhos, as estradas,
os portos, os aeroportos; que não estamos dedicando os recursos necessários
para deter a degradação do meio ambiente; é a desigualdade que temos que
nos envergonhar realmente; é produto, entre muitas outras coisas,
certamente, de que não estamos educando nossos filhos e nossas filhas.
Vá
alguém a uma universidade latinoamericana e parece, no entanto que estamos nos anos
sessenta, setenta ou oitenta. Parece que nos esquecemos de que em 9 de novembro
de 1989 aconteceu algo de muito importante, ao cair o Muro de Berlim, e que o
mundo mudou. Temos que aceitar que este é um mundo diferente, e nisso,
francamente, penso que os acadêmicos, que toda gente pensante, que todos
os economistas, que todos os historiadores, quase concordam que o século XXI é
um século dos asiáticos não dos latinoamericanos. E eu, lamentavelmente,
concordo com eles. Porque enquanto nós continuamos discutindo ideologias,
continuamos discutindo sobre todos os "ismos" (qual é o melhor?
Capitalismo, socialismo, comunismo, liberalismo, neoliberalismo,
socialcristianismo...) os asiáticos encontraram um "ismo" muito
realista para o século XXI e o final do século XX, que é o pragmatismo”.
Publicado no jornal Cinform em 05/03/2012 –
Caderno Emprego
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