Uma
autêntica inversão de valores já se anuncia há algum tempo e consolida-se mais
e mais: é a velocidade superior das dinâmicas sociais sobre as dinâmicas
corporativas e institucionais. Há anos, as instituições ditavam os passos que a
sociedade obedientemente seguia.
Em
pouco tempo, a sociedade, municiada por tecnologias da informação e da
comunicação, e organizada em redes sociais, passa a protagonizar o rumo ao
futuro, levando muitas empresas e governos à instabilidade de suas gestões.
Esse
fenômeno começou no final dos anos 70, com o advento do computador pessoal –
PC. Nos Estados Unidos, centro dessa revolução, toda a estrutura educacional
foi literalmente atropelada pela febre autodidata dos usuários de recursos de
informática. Alvin Toffler, em seu livro “Riqueza Revolucionária”, descreve: “Esse
evento começou em 1977, e aconteceu de uma forma bastante incomum. Na época,
para todos os efeitos práticos, não havia computadores pessoais no planeta. Por
volta de 2003, entretanto, somente nos Estados Unidos havia 190 milhões de PCs.
Isso foi surpreendente. Porém, mais surpreendente foi o fato de que mais de 150
milhões de americanos sabiam como usá-los. E mais espantoso, foi como eles
aprenderam a fazer isso.
Os
PCs, desde que os primeiros Altair 8800 e Sol 20 apareceram, têm sido
dispositivos temperamentais e muito mais teimosos e complicados de usar do que
qualquer outra utilidade doméstica. Eles tinham teclas, disquetes, softwares
(um conceito que poucos americanos conheciam), manuais e um estranho
vocabulário de comando DOS.
Então,
como milhões de pessoas – metade da nação – dominaram essa máquina de grande
complexidade? Como elas aprenderam a
fazer isso?
Bem,
sabemos como NÃO aprenderam. A esmagadora maioria, especialmente nos primeiros
tempos, não foi à escola para aprender a usar o PC. Na verdade, com raras
exceções, esses novos usuários tiveram pouca ou nenhuma instrução formal.
O
aprendizado começava quando iam a uma loja (...). O que acontecia em seguida
era uma busca frenética por alguém – vizinho, amigo, colega, conhecido, etc –
que pudesse ajudar. Qualquer um que soubesse um pouco mais do que ele sobre
como usar um computador. Um guru, descobriu-se, era alguém que comprara um
computador uma semana antes”.
E
conclui Toffler: “Em seguida, uma verdadeira torrente de informações sobre PCs
espalhou-se pela sociedade americana, criando uma experiência de aprendizagem
da qual milhões participam”.
A
partir dessa narrativa histórica, percebemos um movimento espontâneo de
ensino-aprendizagem nascido das interações pessoais, que provocou uma
transformação cultural, econômica e social em curtíssimo espaço de tempo.
E
onde estavam as escolas nesse período? Onde estavam as empresas nesse
período? Naturalmente, esse processo de
aprendizado progressivo não foi controlado ou organizado por uma pessoa ou
instituição. E como ninguém recebia pelo trabalho ou atividade que realizava,
teve início um imenso processo social – que passou despercebido por boa parte
dos educadores e economistas. Apenas muitos anos mais tarde as empresas
começaram a treinar grandes números de usuários para operarem seus PCs.
O
exemplo americano é apenas o começo de um processo histórico universal, aliado
ao destino humano de formação do livre arbítrio, no qual as pessoas tendem a
fazer suas escolhas de dentro para fora, isto é, o poder do marketing de massa
e da indução de desejos de consumo começa a ser amenizado. As redes sociais da
internet influenciarão cada vez mais as decisões de compras entre consumidores
empoderados e, assim, deverão ser acompanhadas de perto pelas corporações e
governos para balizarem suas estratégias mais vitais.
Aos
empresários, fica o recado de que há de se rever práticas comerciais
urgentemente. E isso é apenas o começo.
Publicado no jornal Cinform em 16/04/2012 –
Caderno Emprego
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