segunda-feira, 16 de abril de 2012

A sociedade à frente das corporações



     Uma autêntica inversão de valores já se anuncia há algum tempo e consolida-se mais e mais: é a velocidade superior das dinâmicas sociais sobre as dinâmicas corporativas e institucionais. Há anos, as instituições ditavam os passos que a sociedade obedientemente seguia.

     Em pouco tempo, a sociedade, municiada por tecnologias da informação e da comunicação, e organizada em redes sociais, passa a protagonizar o rumo ao futuro, levando muitas empresas e governos à instabilidade de suas gestões.
Esse fenômeno começou no final dos anos 70, com o advento do computador pessoal – PC. Nos Estados Unidos, centro dessa revolução, toda a estrutura educacional foi literalmente atropelada pela febre autodidata dos usuários de recursos de informática. Alvin Toffler, em seu livro “Riqueza Revolucionária”,  descreve: “Esse evento começou em 1977, e aconteceu de uma forma bastante incomum. Na época, para todos os efeitos práticos, não havia computadores pessoais no planeta. Por volta de 2003, entretanto, somente nos Estados Unidos havia 190 milhões de PCs. Isso foi surpreendente. Porém, mais surpreendente foi o fato de que mais de 150 milhões de americanos sabiam como usá-los. E mais espantoso, foi como eles aprenderam a fazer isso.

     Os PCs, desde que os primeiros Altair 8800 e Sol 20 apareceram, têm sido dispositivos temperamentais e muito mais teimosos e complicados de usar do que qualquer outra utilidade doméstica. Eles tinham teclas, disquetes, softwares (um conceito que poucos americanos conheciam), manuais e um estranho vocabulário de comando DOS.
Então, como milhões de pessoas – metade da nação – dominaram essa máquina de grande complexidade?  Como elas aprenderam a fazer isso?

     Bem, sabemos como NÃO aprenderam. A esmagadora maioria, especialmente nos primeiros tempos, não foi à escola para aprender a usar o PC. Na verdade, com raras exceções, esses novos usuários tiveram pouca ou nenhuma instrução formal.

     O aprendizado começava quando iam a uma loja (...). O que acontecia em seguida era uma busca frenética por alguém – vizinho, amigo, colega, conhecido, etc – que pudesse ajudar. Qualquer um que soubesse um pouco mais do que ele sobre como usar um computador. Um guru, descobriu-se, era alguém que comprara um computador uma semana antes”.

     E conclui Toffler: “Em seguida, uma verdadeira torrente de informações sobre PCs espalhou-se pela sociedade americana, criando uma experiência de aprendizagem da qual milhões participam”.

     A partir dessa narrativa histórica, percebemos um movimento espontâneo de ensino-aprendizagem nascido das interações pessoais, que provocou uma transformação cultural, econômica e social em curtíssimo espaço de tempo.

     E onde estavam as escolas nesse período? Onde estavam as empresas nesse período?  Naturalmente, esse processo de aprendizado progressivo não foi controlado ou organizado por uma pessoa ou instituição. E como ninguém recebia pelo trabalho ou atividade que realizava, teve início um imenso processo social – que passou despercebido por boa parte dos educadores e economistas. Apenas muitos anos mais tarde as empresas começaram a treinar grandes números de usuários para operarem seus PCs.

     O exemplo americano é apenas o começo de um processo histórico universal, aliado ao destino humano de formação do livre arbítrio, no qual as pessoas tendem a fazer suas escolhas de dentro para fora, isto é, o poder do marketing de massa e da indução de desejos de consumo começa a ser amenizado. As redes sociais da internet influenciarão cada vez mais as decisões de compras entre consumidores empoderados e, assim, deverão ser acompanhadas de perto pelas corporações e governos para balizarem suas estratégias mais vitais.

     Aos empresários, fica o recado de que há de se rever práticas comerciais urgentemente. E isso é apenas o começo.





Publicado no jornal Cinform em 16/04/2012 – Caderno Emprego



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