segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Simplicidade voluntária

O título deste artigo nos remete a um modo de vida defendido pelo pesquisador norte americano Duane Elgin. Autor do livro de mesmo título, Elgin propõe um estilo de vida exteriormente simples, mas interiormente rico. Assim, garante ser a melhor maneira de respeitar a atual sociedade, que mantém padrões de consumo e desejos incompatíveis com o suporte do planeta e com a própria felicidade. Aliás, isso é o que revela uma pesquisa sobre o grau de felicidade das pessoas que iguala vaqueiros masai do Quênia aos multimilionários americanos.

     Muito interessante a abordagem do livro, embora portadora de um tom alarmista. Mas, também, capaz de oferecer soluções em que eventuais perdas materiais, são plenamente recompensadas com o crescimento da interioridade das pessoas. Desenvolver vida interior é uma experiência riquíssima, assegura o autor.

     Diante de uma mesma cena, duas pessoas quaisquer possuem vivências muito distintas. Por exemplo, ao olhar simultaneamente para a Lua, a moça enamorada vê uma imagem bem diferente daquela vista pelo ex-astronauta Edgar Mitchell, integrante da Apollo XIV, que lá pisou em 1971, e hoje, defende a simplicidade voluntária. Isso porque, diante de um mesmo cenário, temos a nossa compreensão limitada pela capacidade interior. Dessa forma, podemos afirmar que o mundo tem o tamanho da nossa interioridade. Isto é, o mundo é diretamente proporcional à sabedoria de cada um.

     Isso também disse o poeta Gilberto Gil, em sua música Parabolicamará: Antes mundo era pequeno / Porque Terra era grande / Hoje mundo é muito grande / Porque Terra é pequena. Nesses versos, foi muito feliz o compositor, ao comparar o tamanho do planeta (exterioridade) com o tamanho do mundo (interioridade) e a inversão ocorrida ao longo do tempo.

     Com efeito, valorizar o imenso mundo interior, é estar sintonizado com a realidade presente. Segundo Elgin, na década de 1970, esse movimento era uma subcultura que sensibilizava pouquíssimas pessoas. A mesma pesquisa, realizada em 2009, aponta que cerca de 20% dos americanos são aderentes a esse estilo de vida, o que demonstra um vertiginoso crescimento e uma tendência já consolidada.

     De acordo com a Pesquisa de Simplicidade Voluntária, a motivação mais comum para se adotá-la é viver de modo a integrar e equilibrar os aspectos interiores e não materiais da existência com os aspectos exteriores e materiais. Assim, ensina o pesquisador: “Ao contrário dos mitos da mídia, o consumismo propicia vidas de sacrifício, enquanto a simplicidade proporciona vidas de oportunidade”.

     Simplificar a vida é renunciar ao apelo de consumo excessivo e se libertar dele. É investir mais tempo e energia em atividades comuns com cônjuges, filhos e amigos. É buscar autenticidade entre o que pensa e o que faz. É ser coerente nos planos pessoais de longo e curto prazo. É estar mais intimamente ligado à Terra e à natureza. É melhorar a qualidade da alimentação, fugindo dos produtos altamente industrializados. É ser solidário e indignar-se com a pobreza extrema e as injustiças sociais. É estabelecer padrões de igualdade de direitos entre papéis masculinos e femininos. É reconhecer a individualidade como o grande valor, que faz de cada ser humano um ser único, independentemente de aparências ou limitações. É ver o universo como um ser vivo e mutante, em contraposição à imagem de um relógio, perfeitamente previsível.

     O mundo parece sair de um paradigma racionalista e mecânico para um novo paradigma integral e orgânico. Assim, indicam os conceitos científicos e espirituais que convergem para uma nova perspectiva que vê o universo como um tipo único de sistema vivo. Aparentemente, essa aproximação se dá, primeiro sob a ótica da ciência, depois, de acordo com as tradições mundiais de sabedoria. 

     Portanto, optar por bens duráveis, que permitam manutenções e reciclar tudo que seja possível é o que nos ensina um antigo ditado americano: “use, esgote, aproveite ou passe sem”.

  

         Publicado no jornal Cinform em 04/11/2013 - Caderno Emprego

2 comentários:

  1. É sempre necessário alertar sobre os perigos da ansiedade capitalista e dos males do consumismo. Vivas à simplicidade que rima com felicidade.

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