O título deste artigo nos remete a um modo de vida defendido pelo
pesquisador norte americano Duane Elgin. Autor do livro de mesmo título, Elgin
propõe um estilo de vida exteriormente simples, mas interiormente rico. Assim,
garante ser a melhor maneira de respeitar a atual sociedade, que mantém padrões
de consumo e desejos incompatíveis com o suporte do planeta e com a própria
felicidade. Aliás, isso é o que revela uma pesquisa sobre o grau de felicidade
das pessoas que iguala vaqueiros masai do Quênia aos multimilionários
americanos.
Muito interessante a abordagem do livro, embora portadora de um
tom alarmista. Mas, também, capaz de oferecer soluções em que eventuais perdas
materiais, são plenamente recompensadas com o crescimento da interioridade das
pessoas. Desenvolver vida interior é uma experiência riquíssima, assegura o
autor.
Diante de uma mesma cena, duas pessoas quaisquer possuem vivências
muito distintas. Por exemplo, ao olhar simultaneamente para a Lua, a moça
enamorada vê uma imagem bem diferente daquela vista pelo ex-astronauta Edgar
Mitchell, integrante da Apollo XIV, que lá pisou em 1971, e hoje, defende a
simplicidade voluntária. Isso porque, diante de um mesmo cenário, temos a nossa
compreensão limitada pela capacidade interior. Dessa forma, podemos afirmar que
o mundo tem o tamanho da nossa interioridade. Isto é, o mundo é diretamente
proporcional à sabedoria de cada um.
Isso também disse o poeta Gilberto Gil, em sua música
Parabolicamará: Antes mundo era pequeno / Porque Terra era grande / Hoje mundo
é muito grande / Porque Terra é pequena. Nesses versos, foi muito feliz o
compositor, ao comparar o tamanho do planeta (exterioridade) com o tamanho do
mundo (interioridade) e a inversão ocorrida ao longo do tempo.
Com efeito, valorizar o imenso mundo interior, é estar sintonizado
com a realidade presente. Segundo Elgin, na década de 1970, esse movimento era
uma subcultura que sensibilizava pouquíssimas pessoas. A mesma pesquisa,
realizada em 2009, aponta que cerca de 20% dos americanos são aderentes a esse
estilo de vida, o que demonstra um vertiginoso crescimento e uma tendência já consolidada.
De acordo com a Pesquisa de Simplicidade Voluntária, a motivação
mais comum para se adotá-la é viver de modo a integrar e equilibrar os aspectos
interiores e não materiais da existência com os aspectos exteriores e
materiais. Assim, ensina o pesquisador: “Ao contrário dos mitos da mídia, o
consumismo propicia vidas de sacrifício, enquanto a simplicidade proporciona
vidas de oportunidade”.
Simplificar a vida é renunciar ao apelo de consumo excessivo e se libertar
dele. É investir mais tempo e energia em atividades comuns com cônjuges, filhos
e amigos. É buscar autenticidade entre o que pensa e o que faz. É ser coerente nos
planos pessoais de longo e curto prazo. É estar mais intimamente ligado à Terra
e à natureza. É melhorar a qualidade da alimentação, fugindo dos produtos
altamente industrializados. É ser solidário e indignar-se com a pobreza extrema
e as injustiças sociais. É estabelecer padrões de igualdade de direitos entre
papéis masculinos e femininos. É reconhecer a individualidade como o grande
valor, que faz de cada ser humano um ser único, independentemente de aparências
ou limitações. É ver o universo como um ser vivo e mutante, em contraposição à
imagem de um relógio, perfeitamente previsível.
O mundo parece sair de um paradigma racionalista e mecânico para
um novo paradigma integral e orgânico. Assim, indicam os conceitos científicos
e espirituais que convergem para uma nova perspectiva que vê o universo como um
tipo único de sistema vivo. Aparentemente, essa aproximação se dá, primeiro sob
a ótica da ciência, depois, de acordo com as tradições mundiais de
sabedoria.
Portanto, optar por bens duráveis, que permitam manutenções e
reciclar tudo que seja possível é o que nos ensina um antigo ditado americano:
“use, esgote, aproveite ou passe sem”.
Publicado no jornal Cinform em 04/11/2013 - Caderno Emprego
É sempre necessário alertar sobre os perigos da ansiedade capitalista e dos males do consumismo. Vivas à simplicidade que rima com felicidade.
ResponderExcluirComentário poético. Ético.
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