O astronauta é o ser humano plenamente dependente da tecnologia
para a própria sobrevivência. Qualquer falha de procedimento ou dos
equipamentos pode implicar inevitável fatalidade. É um ser tecnodependente por
excelência, vivente em uma natureza inabitável e, portanto, totalmente
vulnerável.
O desenvolvimento da tecnologia aeroespacial se confunde com o
próprio transcorrer do século XX, desde Santos Dumont com seu artefato “mais
pesado que o ar” até o Space Shuttler, ônibus espacial da NASA – Agência
Espacial Norte Americana. Porém, é impossível determinar com certeza quando o
homem tentou voar pela primeira vez. Existem indícios de tentativas na China no
século V a.C., porém, sob o aspecto tecnológico, Arquimedes (séc. III a.C.),
formulou o princípio do empuxo, que sustenta – literalmente -, toda a aeronáutica
e astronáutica.
No século XV, Leonardo da Vinci fez projetos interessantes,
inclusive protótipos de helicópteros. Mas, foi o padre brasileiro Bartolomeu de
Gusmão, em 1709, o primeiro a construir um balão, que chamou de “Passarola” e,
nele voou, pioneiro.
Essa corrida histórica revela o impulso humano de criar sua
própria natureza (artificial), se afastando do ambiente natural. A 12 de Abril
de 1961, Yuri Gagarin tornou-se o primeiro homem a ir ao espaço, quando completou
uma órbita terrestre e, acima da atmosfera, anunciou ao mundo a cor do Planeta:
"A Terra é Azul!". Afinal, saber a cor do planeta é abstrair-se dele,
isto é, vê-lo de fora.
Reforça esse feito, a louca e incessante busca pela soberania
humana no universo retratada em missão posterior pelo cosmonauta soviético
Titow, ao declarar publicamente que, flutuando em longínquos espaços, não viu
Deus. E, a partir disso, se propôs a testemunhar a favor do ateísmo científico.
Por outro lado, Neil Armstrong, primeiro homem a pisar no solo
lunar, em 1969, disse a famosa frase: “É um pequeno passo para um homem, mas um
passo gigante para a humanidade” que revela a prometida perfeição tecnológica
atingida. De fato, em tecnologia somos perfeitos, pois, já mandamos missões a
outros planetas: Voyager I e II, naves não tripuladas que saíram do sistema
solar, após visitar Júpiter, Saturno, Urano e Netuno, numa viagem que durante
12 anos enviou a Terra milhares de fotografias singulares. Até o Brasil possui
astronauta e lança foguetes. Mas, se em tecnologia a palavra-chave é perfeição,
no social é exclusão e no ambiental é erosão, ainda, infelizmente.
Sob a ótica da qualidade de vida, parece não haver remédio para os
astronautas. Apenas 3%, no máximo, do peso de um foguete correspondem ao módulo
habitável e equipamentos da missão. O resto é combustível e motores,
principalmente. Dessa forma, é um paradoxo crer que conquistar o espaço é estar
comprimido dentro de uma cápsula, se alimentando de pílulas por vários dias.
Com efeito, a dependência tecnológica se faz presente também em
terra firme. Peritos afirmam que o maior perigo de uma guerra nuclear seria a
destruição do fornecimento de eletricidade e da rede de informática, acarretando a ruptura de toda
forma de comunicação e transações financeiras eletrônicas. Poucos transportes
funcionariam sem sistemas GPS, eletricidade e petróleo, atestando a
vulnerabilidade do modelo civilizatório atual.
Por volta de 1970 podemos ter dado um passo fatídico, passando de
uma era em que a maioria dos seres humanos era capaz de cuidar de si mesmo, em
caso de emergência, para uma em que apenas um pequeno punhado de indivíduos o
consegue fazer. Essa é a imagem que fazemos de nosso planeta Terra, nave-mãe
onde somos todos astronautas, igualmente tecnodependentes.
Por fim, se foi necessário
sair da Terra para vê-la de fora e afirmar que ela é azul, então, penso que o
mesmo terá que acontecer para vermos Deus. O que não ocorreu, para felicidade
do ingênuo astronauta soviético e de toda a humanidade, pois, nesse sentido,
significa que estamos bem unidos a Deus.
Publicado no jornal Cinform em 21/10/2013 - Caderno Emprego
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