São inegáveis as contribuições que a Roma imperial legou ao mundo.
Muitas de nossas bases na política, no direito, na administração e nos Governos
espelham a origem romana. Porém, se no campo das ciências humanas tanto
herdamos, o mesmo não se pode falar sobre ciência e tecnologia.
Conta a história que Gaius Plinius Cecilius Secundus, conhecido
como Plínio, o Velho, italiano nascido em 23 d.C., foi um comandante naval,
escritor, naturalista, filósofo e autor de uma enciclopédia composta de 37
volumes que, dentre vários assuntos, um em particular, nos chama bastante a
atenção.
Plínio conta a história de um ourives que trouxe um prato de
jantar incomum à corte do imperador Tibério. Aquele prato era espantoso, feito
de um metal novo, bem leve, quase tão brilhante quanto a prata. O ourives
contou que o extraíra da argila comum, usando uma técnica secreta, cuja fórmula
somente ele e os deuses conheciam.
O metal era o alumínio, nessa altura, mais raro que o ouro. Conta o
autor, que o imperador mandou decapitar o ourives ao invés de recompensa-lo.
Por certo, Tibério, possuidor de tesouros em ouro e prata, temeu por suas perdas
caso esse novo metal surgisse e desvalorizasse os demais.
O resultado dessa história é que por dezoito séculos a humanidade não
conheceu os benefícios do alumínio, metal extremamente abundante na natureza,
mas exigente em tecnologia para seu aproveitamento.
Infelizmente, esse não foi um fato isolado. Com efeito, a ciência
romana era atrasada. Havia uma impressionante falta de interesse pela ciência e
pela tecnologia. Sabe-se, por exemplo, que Herão, de Alexandria, inventou uma
espécie de motor a vapor no século I d.C. Designado eolípila, consistia numa
esfera oca montada de forma que pudesse girar em dois tubos ocos que forneciam
vapor de um caldeirão por baixo. Poderia ter servido para desempenhar trabalho
útil, mas aparentemente, foi tratado como um brinquedo divertido.
Por causa disso, outros dezesseis séculos se passaram até a
máquina a vapor revolucionar o mundo. Assim, durante vários séculos, o
transporte de homens e cartas era feito em lombo de cavalos. O poder do vapor
poderia ter resolvido alguns dos mais incômodos problemas do império: a
lentidão das comunicações.
Quinhentos anos após a implantação do império romano, os mesmos
graves problemas de distribuição de alimentos persistiam. As revoltas de
populações famintas eram contidas pela força militar, pois era mais fácil transportar
soldados que alimentos de uma região para outra.
O nosso sangue latino parece arrastar esse DNA da tecnofobia. Embora,
nenhuma universidade brasileira figure no ranking das 200 melhores do mundo,
ainda assim, acreditamos que possuímos excelentes universidades.
Na educação básica, os latino-americanos estão muito satisfeitos
com seus sistemas educacionais públicos, entre 85% (Costa Rica) e 72%
(Paraguai), com os demais países entre esses extremos. Comparativamente, só 66%
dos alemães e 67% dos americanos dizem o mesmo. Há algo de muito errado nisso.
“Os latino-americanos, em geral, estão mais satisfeitos com sua
educação pública do que os resultados dos exames internacionais justificam.
Estão satisfeitos sem fundamento”, disse Eduardo Lora, o economista do BID que
coordenou os estudos.
Atualmente, 57% dos universitários da América Latina fazem cursos
da área de ciências sociais e apenas, 16% cursam engenharia e tecnologia. São
três psicólogos para cada engenheiro. Três filósofos para cada físico e três
licenciados em história para cada cientista da computação. Muitos recursos
econômicos e financeiros para pesquisar o passado e pouco para exercer as
carreiras vinculadas às inovações do futuro.
Falar dessa ilusão latino-americana é fácil, pois não se exigem
doutrinas, utopias ou dogmas. Os números falam por si, nas avaliações
internacionais de educação comparada, nas matrículas universitárias ou no
número de patentes registradas.
Publicado no jornal Cinform em 07/10/2013 - Caderno Emprego
Publicado na revista TI&N em
10/2013 – nº 015
Professor parabéns pela postagem! Gostaria de saber se tem algum artigo ou se recomenda um que tenha acesso, sobre a ESTÉTICA Waldorf É que preciso escrever sobre e não consigo nenhum material que me ajude. Houve uma colocação durante minha apresentação (Monografia CFPW) e uma colega relatou que achava um absurdo tudo ter a mesma "forma" nas escolas Waldorf pelo mundo, que havia conhecido uma na Inglaterra e outra na África e que tudo era semelhante, como uma franquia. Achei sem propósito sua colocação e decidi escrever sobre.
ResponderExcluirCaro Professor.
ExcluirObrigado por sua oportuna participação. Vou tentar explicar aqui sobre a unidade pedagógica Waldorf, "semelhante a uma franquia", de maneira simples mas, essencial.
A Pedagogia Waldorf, desenvolve as crianças a partir de arquétipos universais, isto é, princípios comuns a todos os humanos. Por isso, não se distingue a criança inglesa da baiana ou asiática.
Goethe, inspirador da PW, afirmou que "as leis gerais são muito poucas, as metamorfoses é que são infinitas". Assim, quando se trabalha o essencial, este pode se expressar livremente conforme a cultura local e a época histórica, sem conflito.
Dessa forma, o ser humano tem uma história evolucionista comum e uma biografia da espécie genérica (puberdade aos 13/14 anos, troca de dentes aos 7 anos, maturidade neurológica, maturidade, velhice, etc).
Independentemente de local ou região, ao longo da história o homem caminhou proximamente no uso de tecnologias, lã, argila, metais, pólvora, bússola, navios, comércio, tributação, dentre outras coisas, inclusive nas artes em geral. Essas tecnologias revelam o nível de consciência humana no planeta em uma dada época. A PW se baseia em que o ser humano repete no desenvolvimento individual a evolução da própria humanidade, então uma criança atual de 5 anos espelha o nível de consciência de um adulto pré-histórico, daí, trabalhar com lã ou argila pode ser um grande desafio nessa idade. E assim sucessivamente, até chegar (com segurança e domínio pleno) às modernas tecnologias no ensino médio.
Penso que essa questão vai além de um fenômeno Waldorf, é uma fundamentação edificada em profundo respeito ao essencial do ser humano e suas causas. De qualquer forma, o currículo waldorf é livre, cabendo às escolas adequar o que entendam como típico da região, porém, reconheço que não é fácil mudar, porquanto seja tão bem elaborado, profundo e válido em qualquer lugar.
Qualquer criança deve desenvolver harmoniosamente o pensar, o sentir e o agir. Pilares a serem educados por meio do trabalho pedagógico presente em todas as atividades escolares waldorf, com a finalidade de formar mais do que cabeças: pessoas autenticas e coerentes, inteligentes, talentosas e com caráter.
Enfim, educação de verdade não é modismo nem commodity, é o acumulo respeitoso de todo nosso passado comum até os dias atuais.
Procure algo mais pesquisando artigos científicos do prof. Valdemar Setzer, o site www.sab.org.br e escolamicaelaju.blogspot.com.br
No mais, estou à disposição para ajuda-lo nessa pesquisa. Você mora em Aracaju ou próximo?
Um grande abraço,
Percebi depois que a pergunta foi formulada por Tatiana. Portanto minhas desculpas por ter respondido no gênero masculino. Obrigado.
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