O uso de metáforas enriquece nossa percepção sobre os mais
diversos temas. Assim, falar em “céu da boca”, ao invés de palato, pode
facilitar a imagem anatômica dessa parte bucal. Muitos fizeram uso de metáforas
para ampliar a compreensão de suas mensagens, por vezes combinadas a parábolas ou
a contos com mensagens morais, além dos poemas, é claro, que “adoçam” ao nos
dizer que “minha vida era um palco iluminado”.
Com as organizações empresariais não é diferente. Para melhor
entender o complexo funcionamento das pessoas jurídicas, o professor de
Administração Gareth Morgan, na década de 1980, elaborou uma relação de oito
diferentes imagens para caracterizar a forma como as empresas atuavam em seus
ambientes internos e externos. Para Morgan, essas metáforas são uma maneira de
pensar e ver as organizações sob os seguintes ângulos: a empresa como máquina,
organismo vivo, cérebro, cultura, sistema político, prisão psíquica, fluxo e
transformação, e instrumento de dominação.
Para nosso texto, as duas primeiras imagens são as mais significativas
e contraditórias: a imagem de máquina e a orgânica. A associação da imagem de
máquina às organizações é imediata quando vista pelas teorias clássicas da
administração, inspiradas nos “princípios da administração científica” de
Taylor e seus fundamentos derivados do paradigma mecanicista formulado por
Descartes e Newton no século XVII, molde da sociedade ocidental. Ou seja, a
empresa deve ser “uma máquina de ganhar dinheiro”, com controle e eficiência,
na qual os homens são partes do “rolo compressor”.
Contrariamente, a imagem orgânica nos permite projetar
organizações sustentáveis, posto que, partem do mesmo princípio comum. Acresça a
isso, que na moderna economia baseada no conhecimento, há grandes ganhos de produtividade,
aprendizagem contínua, aquisição de novas habilidades para desenvolvimento de
tecnologias, formação de redes, valorização das relações, além de outros
requisitos que fazem do “capital intelectual” e do “aprendizado das
organizações”, novos fundamentos da administração que espelham propriedades típicas
dos sistemas biológicos abertos.
Com efeito, se buscamos controle e domínio pleno sobre o objeto,
então somente uma máquina nos permitirá isso. Como consequência, porém, não
podemos esperar de uma máquina adaptações flexíveis para o aprendizado e para a
evolução. Assim, não há dúvidas de que empresas administradas de maneira
puramente mecânica não têm condições de sobreviver no ambiente econômico atual,
complexo, orientado para o conhecimento e sujeito a mudanças rápidas. Ensina
Fritjof Capra no livro “As conexões ocultas”.
Muitos administradores sentem ameaças à própria credibilidade quando
não usam modelos matemáticos e práticas científicas clássicas para demonstrar
teses. Por vezes, recorrem a fundamentos da ciência do século XVII buscando
segurança metodológica. A isso, William Bygrave, físico que se tornou estudioso
das organizações, apelidou, com propriedade, de “inveja da física”, por ser essa
a disciplina típica do modelo científico tradicional, ainda que inadequado para
as ciências sociais e humanas.
Mas “nem tudo são flores” no uso das figuras de linguagem, já que
conforme o interlocutor, o significado pode ficar comprometido se levado ao “pé
da letra”. Conforme o fato a seguir: Era uma vez, um jovem bandido que foi pego
em flagrante praticando um furto. A população revoltada conteve o meliante com
alguns mais exaltados querendo iniciar um linchamento.
Diante dos ânimos mais coléricos, um corajoso sacerdote interferiu,
e tomando a frente do ladrão, gritou para os populares ensandecidos:
- Atire a primeira pedra quem nunca errou!
- Um senhor que estava bem próximo, aparentando 70 anos,
imediatamente jogou uma pedra acertando de raspão a cabeça do delinquente.
Com veemência, o sacerdote perguntou ao idoso: - O senhor nunca
errou?
- Assim, dessa distância, não! Foi a triste resposta.
Publicado no Jornal Cinform em 18/11/2013 - Caderno Emprego
Publicado na revista
TI&N nº 16, de dez/2013
Muito interessante a mensagem e recheada de fundamentação teórica.
ResponderExcluirMetáforas e metáforas...
Parabéns!!!
Roberto Santos - Editora Senac Ceará
Obrigado pelo comentário, amigo.
ExcluirPaulo, muito bom mesmo. Gerenciar é muitas vezes, buscar o equilíbrio através da simbiose da contradição. saudações !!!
ResponderExcluirRossana Masstalerz
Massas Terelina - Piauí
Oi amiga, obrigado pela leitura e comentário. Abç.
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