segunda-feira, 18 de julho de 2011

Os quatro temperamentos humanos – Parte II



     O conhecimento sobre os temperamentos humanos tem uma grande aplicabilidade nas empresas, escolas, times desportistas, movimentos populares, tratamentos terapêuticos, dentre outros. Ainda no século 16, a Companhia de Jesus selecionava seus missionários de acordo com o perfil mais adequado à atividade dos jesuítas na Província do Brasil.


Assim, um relatório elaborado pelo Padre Provincial Pedro Rodrigues no ano de 1598 retrata os 163 jesuítas presentes em nossa terra com a seguinte compleição: 142 coléricos, um melancólico, 10 fleumáticos e 10 indefinidos. Tal prevalência de coléricos está registrada nos relatórios seguintes até o ano de 1660. Por óbvia e antropofágica razão, creio.


Igrejas evangélicas muito bem se utilizam desse conhecimento para orientar seus fiéis na busca de melhores relacionamentos conjugais, familiares e laborais. Nas suas páginas na internet encontramos farto material sobre o tema.


No século 20, além de Rudolf Steiner – criador da Pedagogia Waldorf, Carl Gustav Jung, psicólogo discípulo de Freud, apresentou estudos contemplando os 4 ‘tipos psicológicos’. Mas foi o psicólogo americano William Moulton Marston, nos anos 30, quem deu outra roupagem aos temperamentos, visando sua direta aplicação nas empresas, ao definir a construção de gráficos que apresentam pontos de maior e menor expressão dos temperamentos individuais, permitindo, deste modo, atenuar ou fortalecer as características desejáveis à boa performance do trabalhador ou do empregador. 


 De acordo com Marston, os padrões comportamentais se dividem em dominância, influência, estabilidade e conformidade, diretamente associáveis aos temperamentos colérico, sanguíneo, fleumático e melancólico, nesta mesma ordem. Certamente para um vendedor, por exemplo, será de grande utilidade ter algum conhecimento sobre características comportamentais para auxiliar seu trabalho.


Ao abordar um cliente colérico, é de se esperar que ele se mostre arrogante e pouco disposto a ouvi-lo. Caso o cliente agora seja do tipo melancólico, ele poderá pedir informações em tal nível de detalhe que dificulte a obtenção de respostas. Já com um cliente sanguíneo, a tendência é que ele falará muito e desejará soluções rápidas devido a sua tradicional impaciência para com rotinas e processos. Finalmente, ao atender um cliente fleumático, o desafio do incansável vendedor será fazê-lo se sentir seguro do que lhe é oferecido e depois conseguir a rápida decisão de efetuar a compra.


Estes exemplos são emblemáticos, porém, demonstram os padrões de comportamentos esperados. Certamente, será muito mais fácil para um vendedor que consiga diagnosticar o temperamento típico do comprador, realizar uma venda mais célere e satisfatória para ambos.


Outras características potenciais para melhorar o desempenho no trabalho resultam de temperamentos combinados na mesma pessoa: o colérico/sanguíneo possui talento nato para a liderança. Igualmente, o melancólico/fleumático se sairá muito bem quando o assunto for análise. A combinação sanguíneo/fleumático oferecerá muita habilidade para o relacionamento.


Contrariamente se deve evitar a formação de duplas de alta interação compostas por sanguíneo e melancólico, bem como, colérico e fleumático. São os opositores naturais.

Para organizar salas de aulas, melhor será manter como vizinhos de carteiras jovens de temperamentos semelhantes. Esta proximidade neutralizará predomínios de um sobre o outro, ao aumentar o respeito entre eles e reduzir o bullying. O objetivo deve ser sempre a combinação do tipo ganha-ganha. 


Tudo que está apresentado aqui é uma pequena mostra sobre como os temperamentos humanos podem ajudar nas organizações. Ressalte-se, porém, que não existe temperamento puro ou homogêneo. Além disso, jamais se deve utilizar esse conhecimento para rotular pessoas ou se mostrar superior a elas. Não existe temperamento melhor ou pior, pois cada qual possui vantagens e patologias típicas.


O ser humano pode, em verdade, se emancipar de todas as forças de comportamentos, não se subordinando a nenhuma delas por meio de sua vontade. Além disso, nosso temperamento muda ao longo da vida: na infância somos mais sanguíneos, na adolescência tendemos a coléricos, na fase adulta há mais melancolia e na velhice, a fleuma típica.


Alguns outros fatores que influenciam nos padrões comportamentais são: posição na constelação familiar - primogênito, etc -, signo zodiacal, gênero e biotipo. Portanto, sejamos humildes e procuremos percorrer um longo caminho em busca de si próprio, antes de julgarmos o próximo. Enfim, “conhece-te a ti mesmo e conhecerás o universo e os deuses”. 

(continua)



Publicado no jornal Cinform em 18/07/2011 – Caderno Emprego

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