A ciência moderna nos trouxe desenvolvimento e grandes avanços em vários campos do conhecimento humano. Devemos ser muito gratos à ciência e à tecnologia pelos benefícios concedidos à humanidade. Mas esta mesma ciência redentora nos trouxe a inviabilidade do modelo de desenvolvimento atual que destrói os recursos ambientais e ignora as questões sociais.
Certamente,
estamos em
uma encruzilhada. Ridicularizamos e rompemos com antigos
conhecimentos, em nome do novo. Enquanto, simultaneamente, não vislumbramos a
possibilidade de nossa própria sobrevivência a partir da promessa decepcionante
que abraçamos. Portanto, devemos nos abrir para o novo paradigma que se
anuncia, o da pluralidade de visões, porém, convergentes para a compreensão
singular do ser humano.
Goethe -
cientista e poeta alemão – disse: “as leis gerais são muito poucas, suas
metamorfoses é que são infinitas”. São, portanto, essas leis gerais que devemos
buscar conhecer para nos garantir sabedoria na escolha de nossas opções de
futuro sustentável.
Dentre essas
leis gerais, existe uma que divide tudo a partir de quatro elementos básicos:
terra, água, ar e fogo. Erroneamente, temos a tendência a achar que se tratava
de uma antiga tabela periódica da química. Não, absolutamente. Estes quatro
elementos refletem estados qualitativos das coisas e não quantitativos.
Assim,
podemos associar os elementos: terra aos sólidos, água aos líquidos, ar aos
gases e, por último, o fogo correspondendo ao calor gerado ou adicionado nas
transformações de estados físicos e nas combinações químicas. Algo errado
nisso? Certamente não. Então, por que desconsiderar essa metáfora tão rica ao
nosso conhecimento científico?
Ocorre que
por trás dessa visão qualitativa das coisas há um perfeito espelhamento da
natureza humana. Com base nisso, Hipócrates (460 – 377 a .C) – considerado o pai
da medicina – relacionou diretamente os quatro elementos aos temperamentos
humanos (melancólico, fleumático, sanguíneo e colérico) para, assim, tratar com
mais efetividade seus pacientes. Bem mais tarde, Rudolf Steiner (1861 – 1925),
filósofo austríaco, concebe a Antroposofia, ao reunir estes conhecimentos
elementares à metodologia científica de Goethe numa cosmovisão que enobrece a
existência do ser humano na Terra, ao tempo que também o responsabiliza pela
evolução planetária.
Com efeito,
para além dos quatro temperamentos, Rudolf Steiner associa os mesmos quatro
elementos aos reinos da natureza, às estações do ano, à origem do cosmo e à
constituição do ser humano dotado de corpo físico, vida, alma e espírito, numa
imagem que chamou de tetramembração.
Sabemos que
o termo temperamento remete a outros derivados do mesmo radical semântico, a
exemplo de tempero, temperatura, têmpera e tempo (no sentido de clima, ex.
tempo chuvoso, etc.). A todas essas palavras relacionamos automaticamente uma
escala de graduação, visto não existir uma única temperatura, nem um único
tempero, nem uma só têmpera ou um só tempo. Esse mesmo raciocínio se aplica aos
temperamentos humanos: nas pessoas não existe exclusividade ou ausência de
qualquer temperamento, mas, sempre uma mistura dos quatro com o predomínio de
um deles.
Quanto aos
quatro temperamentos, fazemos as seguintes associações: melancólico,
fleumático, sanguíneo e colérico, com respectivamente, terra, água, ar e fogo.
Cada um destes temperamentos possui características peculiares que certamente
vemos presentes na maioria das pessoas que conhecemos.
Ao
melancólico, por exemplo, associamos atitudes introspectivas, pensamentos
pessimistas e muito comprometimento com tudo que se envolve. Já aos coléricos
se associa o rompante típico do sujeito de pavio curto, que quer porque quer,
sendo assim grande realizador também. O sanguíneo é leve, amigável, sedutor,
geralmente superficial e influenciável. Com o fleumático as coisas estão sempre
bem, desde que esteja de barriga cheia, nada o perturba, é estável e grande
amigo.
Essas
características humanas são de extrema importância para a educação e para as
organizações econômicas. A partir dos temperamentos associamos trabalhos ideais
para cada pessoa, melhorando assim, a satisfação do trabalhador, seu sucesso
profissional e o da empresa. Também é possível montar equipes mais harmoniosas
e duradouras quando os temperamentos se complementam. Em escolas que adotam a
pedagogia Waldorf, a sala de aula é organizada levando-se em conta os
temperamentos dos alunos para reduzir atritos e indisciplinas, além de aumentar
a empatia.
Esse
empolgante assunto não pode ser esgotado aqui. Desta forma, os próximos artigos
detalharão mais sobre o tema e sua vinculação ao trabalho e à educação.
(continua)
Publicado no jornal Cinform 04/07/2011
– Caderno Emprego
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