Dentre os atuais homens
mais ricos do mundo aparecem destacadamente os grandes condutores dos negócios
em tecnologia da informação e comunicação. Dentre estes, o mais tradicional e
emblemático é certamente o Sr. Bill Gates, dono da Microsoft e símbolo da
popularização do computador. Embora saibamos ser seu grande mérito de natureza
mais comercial que tecnológica, haja
vista que existem sistemas superiores em estabilidade e qualidade que os seus,
porém, a indiscutível superioridade econômica da Microsoft a faz detentora de
esmagadora porção do grande parque de sistemas em computadores pessoais.
A popularidade dos
computadores cresceu exponencialmente nos últimos anos, especialmente após o
advento da internet que libertou o computador de si mesmo, tornando-o acima de
tudo um instrumento de comunicação. O presidente da SUN Microsystem, grande
fabricante americana de computadores, já profetizava há mais de 12 anos com a
seguinte frase: “o computador é a rede”,
reforçando a tendência que se anunciava de que o computador isolado seria um
instrumento extremamente limitado e restrito a aplicativos profissionais,
distante portanto, de utilidade para o grande público.
Hoje, por conta desta popularização
dos computadores, existe mais de 1,7 bilhões de internautas no planeta. Número assustador por si só, já que é
maior que a população de qualquer nação, inclusive da China. O mais grave
porém, é que estima-se que dez por cento deste internautas são viciados em
internet, fenômeno que especialistas consideram um “problema psiquiátrico” já
inerente à saúde pública. Afinal, 170 milhões de pessoas com distúrbios é quase
o mesmo que o total de brasileiros vivos e, pior, brevemente superior.
A doentia fixação pela
rede foi diagnosticada como “distúrbio de adição à internet” e o vício é
chamado de “internet-dependência” ou “internet-compulsão”. As vítimas deste
distúrbio manifestam alterações de comportamento afetando sua vida familiar,
social e profissional. Apresentam, ainda, um severo nível de estresse, perda da
auto-estima e afastamento do mundo real. Esse desinteresse pela vida familiar e
pelo casamento já fez surgir até grupos de apoio a “cyberviúvas”, ou seja,
esposas de viciados em internet.
No mundo do computador não
só a internet é a vilã. Também, os jogos eletrônicos produzem grandes mazelas,
principalmente entre os mais jovens. São inúmeras as famílias que possuem
filhos e filhas pré-adolescentes ou adolescentes que mergulham horas seguidas
no computador para jogar ou navegar em sites de relacionamento em conversas
intermináveis com amigos virtuais mais afetivos que os reais, ainda que possa
ser a mesma pessoa. Talvez, devido a timidez a relação seja mais fácil na rede
que na escola, por exemplo.
Pedagogicamente falando,
os jogos eletrônicos de ação são ferramentas adestradoras, isto é,
condicionadoras de respostas automatizadas. Sua fundamentação provém da teoria
de Skinner, que demonstra ser possível “educar” através de estímulos que levam
a reações recompensadas, quando bem correspondidas, ou punidas, quando
frustradas. Esse é o processo de adestramento de animais em geral, seja para
cães policiais ou para elefantes de circos. Aliás, a opinião pública
crescentemente repugna os condicionamentos que agridem a natureza do animal,
coibindo sua participação em circos e até em tradicionais touradas espanholas.
Entendo que um jovem
submetido a horas de jogos de ação contra um computador ou mesmo outro jogador
remoto, está sendo submetido a um processo de desumanização, já que seu
desempenho será tanto melhor quanto mais rápida e impensada for sua reação ao
estímulo. Para sermos imediatos num jogo assim, faz-se necessário agir da forma
mais próxima possível do arco-reflexo, isto é: abrir mão da análise, da
crítica, dos julgamentos, dos freios, da moralidade, da compaixão, dentre
outras faculdades mais nobres e diferenciadas do ser humano, para assim,
responder prontamente ao estímulo no mesmo nível da máquina. Erroneamente,
muitos vêem nessa destreza indicadores de desenvolvimento da inteligência,
quando se dá exatamente o contrário.
Diante do cenário
apresentado, no qual a tecnologia está impactando decisivamente na cultura,
tenho duas perguntas que me inquietam: Por que denominamos de “usuários”
igualmente os que fazem uso de drogas e os que fazem uso de computadores? E,
por que se rejeita hoje, o condicionamento de animais e se admira o de
crianças?
Se esse avanço tecnológico
atual provocou a pujante riqueza econômica de alguns homens que com seus inventos
recriam a condição humana na Terra, creio que o próximo homem mais rico do
mundo será aquele que inventar a fórmula redentora para muitas famílias e
educadores, que irá tirar as crianças e jovens da dependência maléfica do
computador, humanizando-os.
Publicado no jornal Cinform
16/08/2010 – Caderno Emprego
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