Imaginemos a seguinte
cena: um antepassado nosso observando as estrelas dez mil anos atrás.
Certamente, a aprendizagem obtida pela observação dos corpos celestes serve de
base para muitos dos conhecimentos científicos e tecnológicos atuais.
Naturalmente que há, hoje, uma grossa camada de conhecimentos e conceitos que
seriam impossíveis à época do nosso contemplativo tataravô em questão. O que regia
seus conhecimentos, porém, estava subordinado às mesmas leis gerais presentes
nos grandes avanços tecnológicos do século XXI.
A primeira noção adquirida
pela observação celeste é o ritmo do tempo. O carrossel das estrelas fixas
fornece informações absolutamente precisas do tempo cronológico. Podemos
afirmar que o movimento dos astros é um referencial absoluto para nosso
proveito terrestre, e como tal, toda referência absoluta é uma lei geral.
Pela observação da posição
das estrelas podemos saber com segurança total a hora exata no local onde
estamos. Disso resulta um conceito derivado do tempo cronológico e
profundamente enraizado no ser humano: a noção de passado, presente e futuro.
Percebemos aqui que somos dependentes do tempo e sabiamente a natureza humana é
dotada de instrumentos de leitura para tal passado, presente e futuro.
Para lidar com o passado
somos dotados do pensar. Isto mesmo, o pensar, a intelectualidade, a memória e
a cognição, tão valorizados nos tempos modernos, são nossos agentes de ligação
com o passado, senão vejamos: nós só pensamos para trás, só pensamos a partir do
que sabemos, isto é, aquilo que já está devidamente aprendido e registrado na
memória. Para frente, nosso pensar será meramente especulativo e não seremos
capazes de prever o futuro a partir de nossos cérebros. Certamente muitos
dirão: e o planejamento não é “pensar” o futuro? Não. O planejamento é um guia
para nossas ações e elas farão o tal futuro acontecer, como veremos adiante. Se
alguém crer que é capaz de pensar o futuro, então lhe peça que informe o
resultado da loteria federal da próxima semana e também o resultado da mesma
loteria da semana passada. A diferença entre as duas respostas nos dará com
precisão para onde nosso pensar está apto.
Opostamente ao nosso
pensar estão as nossas ações. Assim, o nosso querer ou a nossa volição é o
instrumento de ligação que temos com o futuro. Desta forma, conclui-se que o
futuro é construído a partir de nossas ações. O futuro nasce a cada dia como
conseqüência de nossos atos. Se for necessário dar um exemplo esclarecedor,
pergunte ao reticente ouvinte: é possível mudar o passado? Certamente a
resposta será não. Mas também, certamente ouviremos que é possível mudar o
futuro. E mudanças serão sempre resultados exclusivos de ações conseqüentes da
vontade de uma ou mais pessoas. Como não podemos mudar algo errado do passado,
só nos resta o perdão.
E o presente? Que
instrumento a natureza nos deu para sua leitura? O “sentir”, isto é, o sistema
emocional humano. São as emoções harmoniosas que nos fazem estar aqui e agora.
Quando estamos emocionalmente desestabilizados perdemos a capacidade de ler o
presente. Ficamos desequilibrados e perdemos o famoso “simancol”. Tal
desequilíbrio pode nos remeter ao passado, um remorso por exemplo. Ou ainda,
somos remetidos pro futuro como quando temos uma grande preocupação (pré-ocupação).
Em ambos os casos ficamos comprometidos no nosso desempenho social. O sentir
humano é o veiculo das nossas interações sociais e da nossa convivência.
Voltando ao nosso
inspirado antepassado, outra lição que ele nos deixou como conseqüência da sua
capacidade de aprender com os astros, advém da mesma lei geral. É a capacidade
de reconhecer o espaço geográfico tridimensional a partir da leitura dessas
mesmas estrelas. Tal aprendizado permitiu ao homem a aventura de se deslocar
pelo planeta e dominar os mares. Como vimos o espaço coincidentemente com o
tempo está dividido em três: profundidade, largura e altura.
Obviamente, já que são
frutos de uma mesma lei geral podemos então, por analogia, associar que o
pensar está diretamente ligado a profundidade. A largura (o horizontal) está
vinculada ao sentir e, conseqüentemente, ao espaço social. Por fim, a altura (o
vertical) corresponde ao querer, agir contra a lei da gravidade.
Esta imagem aqui
apresentada serve de orientação para a educação integral dos seres humanos.
Precisamos educar nas escolas as grandes funções humanas: o pensar, o sentir e
o agir. Na mesma ordem estão três dos quatro pilares da educação propostos por
E. Morin: aprender a aprender, aprender a conviver e aprender a fazer. Ou
ainda, o desenvolvimento de competências: conhecimentos, atitudes e
habilidades, também respectivamente.
Generalizando, podemos
afirmar que a escola de hoje adora trabalhar o pensar - o aprender a aprender;
vacila no desenvolvimento do sentir – o aprender a conviver; e repele a
educação da volição – o aprender a fazer.
Mas, como sempre concluo
meus textos com uma mensagem otimista, indico aos educadores e pais que
conheçam a Pedagogia Waldorf. Por meio
desta, eles verão como é possível educar todas essas macro funções do ser
humano de forma equilibrada e efetiva, desvinculada de modismos. Educação para
todo tempo e espaço.
Publicado no jornal Cinform
17/05/2010 – Caderno Emprego
Publicado no Boletim da
Sociedade Antroposófica nº 064/2011
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