segunda-feira, 17 de maio de 2010

Porque educar o pensar, o sentir e o agir



Imaginemos a seguinte cena: um antepassado nosso observando as estrelas dez mil anos atrás. Certamente, a aprendizagem obtida pela observação dos corpos celestes serve de base para muitos dos conhecimentos científicos e tecnológicos atuais. Naturalmente que há, hoje, uma grossa camada de conhecimentos e conceitos que seriam impossíveis à época do nosso contemplativo tataravô em questão. O que regia seus conhecimentos, porém, estava subordinado às mesmas leis gerais presentes nos grandes avanços tecnológicos do século XXI.


A primeira noção adquirida pela observação celeste é o ritmo do tempo. O carrossel das estrelas fixas fornece informações absolutamente precisas do tempo cronológico. Podemos afirmar que o movimento dos astros é um referencial absoluto para nosso proveito terrestre, e como tal, toda referência absoluta é uma lei geral.


Pela observação da posição das estrelas podemos saber com segurança total a hora exata no local onde estamos. Disso resulta um conceito derivado do tempo cronológico e profundamente enraizado no ser humano: a noção de passado, presente e futuro. Percebemos aqui que somos dependentes do tempo e sabiamente a natureza humana é dotada de instrumentos de leitura para tal passado, presente e futuro.


Para lidar com o passado somos dotados do pensar. Isto mesmo, o pensar, a intelectualidade, a memória e a cognição, tão valorizados nos tempos modernos, são nossos agentes de ligação com o passado, senão vejamos: nós só pensamos para trás, só pensamos a partir do que sabemos, isto é, aquilo que já está devidamente aprendido e registrado na memória. Para frente, nosso pensar será meramente especulativo e não seremos capazes de prever o futuro a partir de nossos cérebros. Certamente muitos dirão: e o planejamento não é “pensar” o futuro? Não. O planejamento é um guia para nossas ações e elas farão o tal futuro acontecer, como veremos adiante. Se alguém crer que é capaz de pensar o futuro, então lhe peça que informe o resultado da loteria federal da próxima semana e também o resultado da mesma loteria da semana passada. A diferença entre as duas respostas nos dará com precisão para onde nosso pensar está apto.


Opostamente ao nosso pensar estão as nossas ações. Assim, o nosso querer ou a nossa volição é o instrumento de ligação que temos com o futuro. Desta forma, conclui-se que o futuro é construído a partir de nossas ações. O futuro nasce a cada dia como conseqüência de nossos atos. Se for necessário dar um exemplo esclarecedor, pergunte ao reticente ouvinte: é possível mudar o passado? Certamente a resposta será não. Mas também, certamente ouviremos que é possível mudar o futuro. E mudanças serão sempre resultados exclusivos de ações conseqüentes da vontade de uma ou mais pessoas. Como não podemos mudar algo errado do passado, só nos resta o perdão.


E o presente? Que instrumento a natureza nos deu para sua leitura? O “sentir”, isto é, o sistema emocional humano. São as emoções harmoniosas que nos fazem estar aqui e agora. Quando estamos emocionalmente desestabilizados perdemos a capacidade de ler o presente. Ficamos desequilibrados e perdemos o famoso “simancol”. Tal desequilíbrio pode nos remeter ao passado, um remorso por exemplo. Ou ainda, somos remetidos pro futuro como quando temos uma grande preocupação (pré-ocupação). Em ambos os casos ficamos comprometidos no nosso desempenho social. O sentir humano é o veiculo das nossas interações sociais e da nossa convivência.


Voltando ao nosso inspirado antepassado, outra lição que ele nos deixou como conseqüência da sua capacidade de aprender com os astros, advém da mesma lei geral. É a capacidade de reconhecer o espaço geográfico tridimensional a partir da leitura dessas mesmas estrelas. Tal aprendizado permitiu ao homem a aventura de se deslocar pelo planeta e dominar os mares. Como vimos o espaço coincidentemente com o tempo está dividido em três: profundidade, largura e altura.


Obviamente, já que são frutos de uma mesma lei geral podemos então, por analogia, associar que o pensar está diretamente ligado a profundidade. A largura (o horizontal) está vinculada ao sentir e, conseqüentemente, ao espaço social. Por fim, a altura (o vertical) corresponde ao querer, agir contra a lei da gravidade.


Esta imagem aqui apresentada serve de orientação para a educação integral dos seres humanos. Precisamos educar nas escolas as grandes funções humanas: o pensar, o sentir e o agir. Na mesma ordem estão três dos quatro pilares da educação propostos por E. Morin: aprender a aprender, aprender a conviver e aprender a fazer. Ou ainda, o desenvolvimento de competências: conhecimentos, atitudes e habilidades, também respectivamente.


Generalizando, podemos afirmar que a escola de hoje adora trabalhar o pensar - o aprender a aprender; vacila no desenvolvimento do sentir – o aprender a conviver; e repele a educação da volição – o aprender a fazer.


Mas, como sempre concluo meus textos com uma mensagem otimista, indico aos educadores e pais que conheçam a Pedagogia Waldorf.  Por meio desta, eles verão como é possível educar todas essas macro funções do ser humano de forma equilibrada e efetiva, desvinculada de modismos. Educação para todo tempo e espaço.       

      


Publicado no jornal Cinform 17/05/2010 – Caderno Emprego
Publicado no Boletim da Sociedade Antroposófica nº 064/2011

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