Neste mês de abril se
divulgou mais uma interessante pesquisa do Comitê Gestor da Internet no Brasil
(CGI-Br) sobre o uso das tecnologias da informação e da comunicação, conhecidas
por TICs. Trata-se da quinta pesquisa anual, reveladora, portanto, da realidade
brasileira de hoje e de suas tendências.
Não há grandes
surpresas nesta nova pesquisa. Sabemos que a popularização do computador e dos
instrumentos de comunicação é real e crescente. Hoje, tornou-se tão comum o uso
da internet que até programas voltados para pessoas de baixa renda são
disponibilizados, alguns até exclusivamente, na grande rede, a exemplo do
Prouni, Enem e Minha Casa Minha Vida. Mas vale destacar o seguinte: pela
primeira vez o número de usuários brasileiros de computadores em casa (48%)
supera o número de usuários de lan houses (45%), no acesso a internet. Tais
indicadores não se aplicam ao nordeste brasileiro, onde a proporção dos
usuários da internet é de 29% em casa, para 63% em lan houses. Também,
nacionalmente, 72% dos internautas com renda de até 1 salário mínimo são
clientes de lan houses. Enquanto isso, os telecentros respondem por apenas 4%
destes.
Os computadores
são máquinas que exigem maior capacidade cognitiva que as meramente mecânicas.
Seus usuários, conseqüentemente, terão maior poder de explorar as
potencialidades informáticas quanto maior for seu nível de conhecimento. Falo
de conhecimento propriamente dito, e não de habilidades. O computador é uma
extensão do cérebro humano, enquanto máquinas mecânicas como o liquidificador
ou a empilhadeira são prolongamentos alavancados do nosso corpo físico. Vejo
que muitos usam o computador com muita habilidade e pouco conhecimento,
certamente, por estarem presos às limitações impostas pelo software, que
reduzem a infinitude do computador a um conjunto pobre de menus.
A educação formal
deve nos dar a possibilidade de pensar com mais elasticidade e abstração.
Dispor de vários códigos de representação mental como o alfabeto, os numerais,
uma vasta iconografia e imagens mitológicas ou arquetípicas nos ajudarão nesta
tarefa, pois, ampliam nossa capacidade de explicitar e internalizar
conhecimentos. Como vemos, dominar mais de um idioma, estudar filosofia e
praticar artes são meios ampliadores de nossa capacidade de compreensão do
mundo atual e de seu desenvolvimento tecnológico, posto que, ambos estão
perfeitamente imbricados e associados à essência da própria natureza humana.
Quanto mais conseguirmos explicitar e codificar conhecimentos mais
conseguiremos ampliar o uso do computador como ferramenta tecnológica.
Digo isso porque,
infelizmente a realidade escolar brasileira é dramática. Desnecessário se faz
detalhar sobre isso, todas as pesquisas e artigos sobre o tema são assombrosos.
O fato é que com a grande atração que os computadores exercem sobre os jovens,
principalmente, temos na internet uma possibilidade de ampliação do
conhecimento das populações mais excluídas desde que: a) desenvolvam-se
conteúdos bons e adequados ao nível de escolaridade (não basta ser gratuito),
já que para um usuário de internet de pouca ou nenhuma capacidade de leitura a
rede oferta apenas jogos, erotismo e algum lazer. Nada mais. b) haja mediação
para o uso adequado destas tecnologias. O mediador agirá pedagogicamente,
orientando o usuário na escolha e navegação de serviços disponíveis na rede.
Uma transferência de conhecimento tácito e explícito que só é possível numa
relação pessoal de proximidade.
Nesse cenário é
que vejo um futuro duradouro para as lan houses. Esses empreendimentos precisam
diferenciar sua atuação para não concorrerem tão diretamente com os crescentes
computadores domésticos. Para isso, é recomendável o associativismo das lans,
há associações na Grande Aracaju e Estância; a formalização do negócio, já que
existem novas e vantajosas modalidades como a de Empreendedor Individual;
representar produtos web, via credenciamento de algumas empresas ou cursos; e
profissionalizar-se para mediar os usuários nos serviços e produtos que ofertam.
Sergipe é
pioneiro no trabalho de organizar e profissionalizar as lan houses, sendo
referência nacional neste assunto, inclusive no sistema S. Eu, pessoalmente, já
apresentei as sugestões a seguir em vários momentos de destaque, a exemplo da
Fundação Getúlio Vargas (RJ) juntamente com a Mozilla Foundation (EUA), Campus
Party Brasil de 2009 e 2010, Audiência Pública na Câmara Federal em 2010 e
diversos outros eventos estaduais, inclusive no Pará.
São quatro pilares que
apresento, didaticamente, de nichos de mercado para a especialização das lan
houses: 1) Serviços públicos – São inúmeros os serviços disponíveis na
internet. Imposto de renda, boletins de ocorrência, solicitação de título de
eleitor, CIC/CPF, PROCON, etc. Ou seja, uma significativa parcela de serviços
realizados pelo CEAC poderia ser feitos também em lan houses credenciadas. 2)
Comércio eletrônico - Toda lan house pode tornar-se uma loja sem estoque,
comercializando desde eletrônicos até material escolar, evitando-se as
insuportáveis e tradicionais filas, além de poderem se especializar na venda de
passagens aéreas, rodoviárias e pacotes turísticos. 3) Educação - A educação a
distância (EaD) cresce em ritmo superior à modalidade presencial. Há lan house
que de tanto vender curso a distância de uma faculdade de Santos, virou posto
avançado dessa mesma faculdade. Neste quesito, o município de Estância tem o
melhor exemplo brasileiro de educação formal em lan houses, em parceria com a
escola pública, em um serviço mediado por empreendedores capacitados. 4)
Suporte social - Redes sociais, emails, apoio a usuários idosos ou com
deficiência, pesquisas, lazer, entretenimento disponível a baixo custo, dentre
outros.
Para todos os
pilares acima, tenho conhecimento de exemplos em pleno funcionamento, em
Salvador, Manaus, Natal, além de Sergipe, que demonstram a viabilidade do que
vislumbro. Assim, convido todas as lan houses sergipanas a procurarem o SENAC
para melhor detalhamento deste assunto.
Acredito que as
lan houses podem ser empreendimentos comerciais lucrativos e ainda prestarem um
relevante serviço de interesse social para a construção de um Brasil
economicamente democrático e justo, onde a micro empresa seja protagonista.
Publicado no jornal Cinform
19/04/2010 – Caderno Emprego
Publicado no Jornal do
Comércio / SE – Editorial mar/2010
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