Ao analisarmos as palavras
economia e ecologia percebemos de imediato que ambas nascem a partir do mesmo
radical grego oikos (eco) que significa casa. Assim, economia, ou oikos nomos, é a ordem ou a organização
da casa, e ecologia, ou oikos logos,
é o estudo da casa. De imediato vemos que a abrangência da ecologia é superior
ao da economia porque encarrega-se de compreender o todo, já a economia,
prende-se a compreensão de um conjunto de regras. De fato, embora estes termos
devam ser tão próximos nas suas aplicações quanto na grafia, lamentavelmente o
que temos é um preocupante afastamento das suas ações e compreensões pelo homem.
O desenvolvimento
econômico está ancorado no desenvolvimento tecnológico, assim, a tecnologia
alavanca o trabalho humano gerando mais riqueza, o que nos leva a crer,
erroneamente, que o desenvolvimento tecnológico é sinônimo de desenvolvimento
humano, resultando numa evolução capenga. Nosso capacidade de criar e
implementar aparatos tecnológicos é a própria perfeição: mandamos jipes para
Marte e o guiamos a partir de nossos centros aeroespaciais para que cumpram
suas missões e retornem à Terra na hora e local exatos. Nesse segmento do
desenvolvimento nós realmente surpreendemos, superamos nossas próprias
expectativas. Porém, muitas vezes não conseguimos deliberar pacificamente em
uma reunião de um pequeno condomínio de seis apartamentos o novo horário de
funcionamento da portaria, ou mesmo, adotar medidas de combate ao desperdício
de água, por exemplo. Que desenvolvimento é esse? Todas as ações acima envolvem
a economia e, contraditoriamente, parece mais fácil mandar o jipe para o espaço
que fazer um acordo com o vizinho.
O termo sustentabilidade
nos obriga a ampliar nossa visão do trabalho humano e suas conseqüências sobre
a economia, a sociedade e o meio-ambiente. Este é o tripé que deve ser
contemplado positivamente nas ações do desenvolvimento humano. A atividade
econômica deve produzir excedentes e riquezas se, e somente se, a sociedade for
beneficiada nas gerações atuais e futuras, e o ambiente não sofrer degradação,
isto é, tiver suporte para tal atividade. E aqui começa o desencontro entre os modelos
econômicos e ecológicos vigentes.
A economia tradicional
considera que os suportes ambientais são inesgotáveis e assim, podemos crescer
com nossas atividades transformadoras indefinidamente, sem levar em conta a
descapitalização do planeta através do capital natural que esgotamos hoje,
usurpando gerações futuras. Além disso, a escassez agrega valor econômico aos
bens. Deste modo a poluição de uma praia, antes acessível a todos gratuitamente
pode ser interessante do ponto de vista econômico, pois, nos obrigará a pagar
para ter acesso a outra praia mais distante através de sedutores pacotes de
viagem. Esta visão da economia respalda-se na utópica idéia do modo perpétuo ao
adotar leis da física newtoniana de duzentos anos atrás, inválida para
legitimar a complexa relação de atores presentes nos sistema humanos atuais.
Por estes motivos, a divergência entre a economia e o planeta só tende a
aumentar enquanto acreditarmos que crescimento econômico é gerador de bem estar
social.
De acordo com o economista
Hugo Penteado, autor do livro “Ecoeconomia: Uma nova abordagem, nosso futuro
comum”, as razões para o conflito são muito simples, pois a economia possui
três características que a definem:
1) Linear (extrai, produz, consome, descarta
num ciclo exagerado de extenso desperdício e ineficiência e o mito do
jogar fora ou deixar os países mais avançados exportar sujeira, produção suja e
viver de exportação de bens e recursos às custas de ecossistemas ainda
existentes no mundo em desenvolvimento, tudo isso a custo zero),
2)
infinita (produz crescimento exponencial contínuo de coisas, alimentos,
pessoas, etc.) e
3)
degenerativa (introduz materiais degenerativos nos ecossistemas como
transgênicos, queima de combustíveis fósseis, compostos químicos, metais
pesados, etc.).
No
entanto, a natureza e o planeta, sistema maior do qual a economia e nossa
sociedade é um subsistema dependente , é justamente o oposto:
1)
circular (reaproveita tudo com um ciclo fechado em si mesmo e uma
solução é a economia reaproveitar tudo ao máximo e parar de fazer de
conta que é um sistema aberto),
2)
finita (a finitude territorialmente é óbvia demais embora a infantilidade dos
economistas tente negar que sobre um território finito não há problema alguma
acumular um estoque crescente de carros, casas, coisas, poluição de todos
os tipos, cacarecos e pessoas nem buscar uma demanda infinita por energia,
quando já desperdiçamos mais da metade da energia disponível para nosso consumo
desnecessário) e
3)
regenerativa (a água é um bom exemplo, porque não só poluímos a água, como
usamos além da sua capacidade de reposição e vários países estão caminhando
para esgotamento de estoques hídricos simplesmente porque extraem mais do que
os aquíferos recebem e bons exemplos dessa atrocidade são os Estados Unidos e a
China, mas Brasil vai pelo mesmo caminho ao destruir o Cerrado e a Amazônia).
Usemos
a ciência e a tecnologia aliadas a responsabilidade que temos sobre o planeta e
a sociedade para juntos construirmos uma ética do século XXI que, perdoem o
trocadilho, a economia faça eco na ecologia e vice-versa.
Publicado no jornal Cinform
25/01/2010 – Caderno Emprego
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