segunda-feira, 23 de novembro de 2009

O empreendedorismo e a educação empreendedora

 

     Durante muito tempo associou-se o termo empreendedorismo à atividade comercial. Vem do economista Richard Cantillon (1680-1734) a definição de empreendedores para aqueles indivíduos que compravam produtos por um preço certo para vender por preço incerto. Isto é, eram obrigados a agregar valor ao produto para minimizar os riscos que assumiam e assim empreendiam mudanças. Mais adiante, outro economista famoso vem contribuir com nova definição para o termo empreendedorismo: Schumpeter (1883-1950) foi quem deu projeção ao tema, associando definitivamente o empreendedor ao conceito de inovação, apontando-o como o elemento que dispara e explica o desenvolvimento econômico.

     A definição que vigora hoje com maior propriedade é a de Filion, citado por Fernando Dolabela autor do livro O Segredo de Luíza, a qual consiste em  conceituar o empreendedor como alguém que “imagina, desenvolve e realiza visões”. Deste modo, as definições anteriores refletem apenas características do comportamento empreendedor, a exemplo de disposição para correr riscos calculados e de ser inovador e criativo, focando apenas sua repercussão na atividade econômica. Na atual definição, o empreendedor é visto como agente de mudanças em todas as áreas da atividade humana, seja na economia, na sociedade, na política, na educação, nas artes, na diplomacia ou em quaisquer outras. Deste modo, consideram-se igualmente empreendedoras as personalidades de Gandhi, Luther King, Juscelino Kubitschek, Barão de Mauá, Thomas Edison, Irmã Dulce, Delmiro Gouveia, Paulo Freire, Marco Pólo, Assis Chateaubriand, Orlando Villas-Boas e do Infante D. Henrique. Exemplos, já falecidos, que atuaram em campos tão diversos quanto importantes para o desenvolvimento humano e que deixaram marcas profundas no rastro de suas ações transformadoras.


     A atitude empreendedora extrapola, portanto, o âmbito empresarial e desliza para todas as atividades humanas. Para Louis Jacques Filion – Regente da Cadeira de Empreendedorismo HEC, The University of Montreal Business School, “mesmo que exista uma espécie de euforia em torno do empreendedorismo, não se trata, a meu ver, de uma moda, mas de uma evolução e de uma transformação profunda de conceber o ser humano que tirou seus fundamentos do pensamento liberal”.


     Ser empreendedor significa possuir atitudes e comportamentos como praticar a visão de longo prazo, planejar e monitorar sistematicamente, ter autoconfiança, liderar, correr riscos calculados, persistir, inovar, persuadir, ter iniciativa, formar redes de contatos, dentre outras características. Adquiri-las é comprovadamente possível através de programas de capacitação, especialmente aqueles originários de Harvard Business School (USA), e disseminados através do PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) da ONU, disponibilizados no Brasil via SEBRAE.



      Educação empreendedora.

     O Brasil é um país de empreendedores. Todas as pesquisas mundiais nos colocam entre as nações mais empreendedoras do mundo. O povo brasileiro possui umas das maiores riquezas que se pode desejar: o espírito empreendedor. Porém, esta riqueza por si só não é suficiente para a geração de valor econômico, precisa de conhecimento. O paradigma do trabalho está mudando em uma velocidade sem precedente na história da civilização humana. A exigência de conhecimentos, a velocidade e quantidade de informações obrigam o homem a, mais que possuir um saber cognitivo elevado, ser capaz de agir a todo instante diante de situações novas e inesperadas, às quais sua melhor performance virá da capacidade de criar e improvisar, elaborando de imediato um novo saber. Superar obstáculos, enfrentar desafios, criar novas respostas, isto é aprender a aprender.


     Este novo ambiente econômico exige do trabalhador a capacidade de responder por assuntos cada vez mais complexos e por quantidades de conhecimentos crescentes e desordenados. A convivência com esta situação requer a formação de redes de relacionamentos e o desenvolvimento de uma cultura de cooperação e colaboração, haja vista que sozinhos não somos capazes de responder à grandeza do desafio do trabalho atual. Assim, educar para o associativismo é aprender a conviver.


      Sabemos que uma das qualidades do empreendedor é a capacidade de construir sonhos. Para que esse processo aconteça, faz-se necessário metamorfosear o pensar presente na cabeça e no agir, simbolizado pelas mãos. Tal ligação revela a arte e a presença do sentir humano. Portanto, a escola deve educar o pensar, o sentir e o agir equilibradamente para o desenvolvimento de pessoas saudáveis, autônomas e socialmente construtivas. Educação empreendedora é aprender a fazer.   


            Busquemos por uma escola que ofereça a seus alunos a elevação da auto-estima, que os faça acreditar em si e na realização de seus sonhos, que os faça reconhecer os seus limites sem, contudo, deixar de ousar, que lhes apresente a sociedade como uma rede que permita a conexão de infinitos relacionamentos, que os emancipe dos abusos do mercado e das manobras oportunistas de governos. Para que empreendam a própria vida com independência. O resultado maior que a educação pode propiciar aos que saem da escola para atuar no mundo é aprender a ser.


     Recorremos aos quatro pilares da educação, apontados no Relatório Jacques Delors: “Educação: Um Tesouro a Descobrir”, MEC/UNESCO, que aponta os fundamentos para a educação no século XXI. Só a educação nos dá direito à verdadeira liberdade.



Publicado no jornal Cinform 23/11/2009 – Caderno Emprego

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