Durante muito tempo associou-se o termo empreendedorismo à
atividade comercial. Vem do economista Richard Cantillon (1680-1734) a
definição de empreendedores para aqueles indivíduos que compravam produtos por
um preço certo para vender por preço incerto. Isto é, eram obrigados a agregar
valor ao produto para minimizar os riscos que assumiam e assim empreendiam
mudanças. Mais adiante, outro economista famoso vem contribuir com nova
definição para o termo empreendedorismo: Schumpeter (1883-1950) foi quem deu projeção
ao tema, associando definitivamente o empreendedor ao conceito de inovação,
apontando-o como o elemento que dispara e explica o desenvolvimento econômico.
A definição que vigora hoje com maior propriedade é a de Filion,
citado por Fernando Dolabela autor do livro O Segredo de Luíza, a qual consiste
em conceituar o empreendedor como alguém
que “imagina, desenvolve e realiza visões”. Deste modo, as definições
anteriores refletem apenas características do comportamento empreendedor, a
exemplo de disposição para correr riscos calculados e de ser inovador e
criativo, focando apenas sua repercussão na atividade econômica. Na atual
definição, o empreendedor é visto como agente de mudanças em todas as áreas da
atividade humana, seja na economia, na sociedade, na política, na educação, nas
artes, na diplomacia ou em quaisquer outras. Deste modo, consideram-se
igualmente empreendedoras as personalidades de Gandhi, Luther King, Juscelino
Kubitschek, Barão de Mauá, Thomas Edison, Irmã Dulce, Delmiro Gouveia, Paulo
Freire, Marco Pólo, Assis Chateaubriand, Orlando Villas-Boas e do Infante D.
Henrique. Exemplos, já falecidos, que atuaram em campos tão diversos quanto
importantes para o desenvolvimento humano e que deixaram marcas profundas no
rastro de suas ações transformadoras.
A atitude empreendedora extrapola, portanto, o âmbito empresarial
e desliza para todas as atividades humanas. Para Louis Jacques Filion – Regente
da Cadeira de Empreendedorismo HEC, The University of Montreal Business School,
“mesmo que exista uma espécie de euforia em torno do empreendedorismo, não se
trata, a meu ver, de uma moda, mas de uma evolução e de uma transformação
profunda de conceber o ser humano que tirou seus fundamentos do pensamento
liberal”.
Ser empreendedor significa possuir atitudes e comportamentos como
praticar a visão de longo prazo, planejar e monitorar sistematicamente, ter
autoconfiança, liderar, correr riscos calculados, persistir, inovar, persuadir,
ter iniciativa, formar redes de contatos, dentre outras características.
Adquiri-las é comprovadamente possível através de programas de capacitação,
especialmente aqueles originários de Harvard Business School (USA), e
disseminados através do PNUD (Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento) da ONU, disponibilizados no Brasil via SEBRAE.
Educação empreendedora.
O Brasil é um país de empreendedores. Todas as pesquisas mundiais
nos colocam entre as nações mais empreendedoras do mundo. O povo brasileiro
possui umas das maiores riquezas que se pode desejar: o espírito empreendedor.
Porém, esta riqueza por si só não é suficiente para a geração de valor
econômico, precisa de conhecimento. O paradigma do trabalho está mudando em uma
velocidade sem precedente na história da civilização humana. A exigência de
conhecimentos, a velocidade e quantidade de informações obrigam o homem a, mais
que possuir um saber cognitivo elevado, ser capaz de agir a todo instante
diante de situações novas e inesperadas, às quais sua melhor performance virá
da capacidade de criar e improvisar, elaborando de imediato um novo saber.
Superar obstáculos, enfrentar desafios, criar novas respostas, isto é aprender a aprender.
Este novo ambiente econômico exige do trabalhador a capacidade de
responder por assuntos cada vez mais complexos e por quantidades de
conhecimentos crescentes e desordenados. A convivência com esta situação requer
a formação de redes de relacionamentos e o desenvolvimento de uma cultura de
cooperação e colaboração, haja vista que sozinhos não somos capazes de
responder à grandeza do desafio do trabalho atual. Assim, educar para o
associativismo é aprender a conviver.
Sabemos que uma das qualidades do empreendedor é a capacidade de
construir sonhos. Para que esse processo aconteça, faz-se necessário
metamorfosear o pensar presente na cabeça e no agir, simbolizado pelas mãos.
Tal ligação revela a arte e a presença do sentir humano. Portanto, a escola
deve educar o pensar, o sentir e o agir equilibradamente para o desenvolvimento
de pessoas saudáveis, autônomas e socialmente construtivas. Educação
empreendedora é aprender a fazer.
Busquemos
por uma escola que ofereça a seus alunos a elevação da auto-estima, que os faça
acreditar em si e na realização de seus sonhos, que os faça reconhecer os seus
limites sem, contudo, deixar de ousar, que lhes apresente a sociedade como uma
rede que permita a conexão de infinitos relacionamentos, que os emancipe dos
abusos do mercado e das manobras oportunistas de governos. Para que empreendam
a própria vida com independência. O resultado maior que a educação pode
propiciar aos que saem da escola para atuar no mundo é aprender a ser.
Recorremos aos quatro pilares da educação, apontados no Relatório
Jacques Delors: “Educação: Um Tesouro a Descobrir”, MEC/UNESCO, que aponta os
fundamentos para a educação no século XXI. Só a educação nos dá direito à
verdadeira liberdade.
Publicado no jornal Cinform
23/11/2009 – Caderno Emprego
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