“Conhecer não é
suficiente, deve ser aplicado.
Querer não é
suficiente, deve ser feito”. Goethe.
Nos meus tempos de
criança, várias vezes assisti o desenho animado “Os Jetsons”. Ali, o futuro se
mostrava altamente cibernético e biônico.
Até os cachorros usavam patins à jato, tipo aeroespaciais. Esse seriado
sinalizou a imagem do amanhã para muitos, como eu, que amava inocentemente as
conquistas da revolução industrial e apostava num inesgotável aprimoramento
físico-mecânico.
Hoje, olhando para trás,
vejo que o futuro que se realizou é constituído pela pluralidade, pela fusão de
conhecimentos, pelas metáforas insuperáveis, pela visão sistêmica/orgânica e
pela interdisciplinaridade. Inversamente à monocultura mecânica do desenho
animado.
Do ponto de vista técnico,
a robótica não avançou na velocidade esperada porque se somos perfeitos no
campo da mecânica e conseguimos milagres na eletrônica, o mesmo não podemos
dizer do software. Em programação de computadores nós apenas engatinhamos e os
desafios para a programação de um robô são os grandes obstáculos atuais. Os
robôs industriais, aqueles das montadoras de automóveis, ainda são
exageradamente limitados e limitantes na medida que não aceitam qualquer
alteração na linha de montagem fora do que foram programados. Assim, o robô só
age com a sua reconhecida precisão superior se todo o seu entorno também for
rigidamente preciso. Um aparente contra-senso à tendência de flexibilização da
indústria pós-fordista. Num robô, a mecânica é o corpo físico, a energia é a
vitalidade e o software é a alma. Assim, o que caracteriza um robô é a
possibilidade de alterar seu comportamento ou funcionamento sem mexer em um único
parafuso ou dispositivo do seu corpo, apenas substituindo sua alma, ou seja, a
sua programação.
É nesse contexto de hoje
que exalto a robótica como instrumento educacional. A construção de um robô
exige o desenvolvimento de conhecimentos e habilidades necessárias ao moderno
mundo do trabalho, quais sejam: intimidade e compreensão do ambiente
computacional, criatividade e autoria de soluções, desenvolvimento da
colaboração e cooperação (quando se trabalha em equipe, conforme é
recomendado), aceitação e superação dos erros honestos através da aprendizagem
que eles nos proporcionam e a descoberta da existência de múltiplas soluções
reais para problemas reais, diferindo das situações ideais com solução única,
tão presente nos currículos e práticas escolares.
As principais teorias
educacionais norteadoras do modelo educacional da robótica provêm de Piaget e
Vygotsky. O construtivismo de Piaget se reconfigura como construcionismo a
partir das contribuições do seu discípulo Seymour Papert, Diretor do Instituto de
Tecnologia de Massassuchets - MIT (EUA), ao afirmar que a aprendizagem se dá
pela motivação e inteligência somadas à ação frente a uma interessante
problematização. Já a pedagogia de Vygotsky pressupõe que a aprendizagem é
fundamentalmente uma experiência social de interação pela linguagem e pela
ação.
Por que se aprende tanto
construindo robôs? Para tal pergunta, apresentamos as seguintes respostas: 1) A
construção de um robô exige um contexto, isto é, o ambiente onde o robô
funcionará, que definirá seu ótimo design físico-funcional. Uma proximidade com
a engenharia e outras ciências exatas, além da possibilidade de usar materiais
reciclados. 2) Suas fontes de suprimentos, a energia (eletricidade, petróleo,
solar, etc) e o software (download, upload) a partir de um computador. Um
espaço rico para as ciências biológicas, ambientais e sociais. 3) A animação,
isto é, a dinâmica dos movimentos será conduzida por programação de computador,
cujo design deve dialogar com a forma física construída para o melhor funcionamento.
Um mergulho de corpo inteiro na lógica em um ambiente real, longe, portanto, da
virtualidade ilusória do computador.
Pergunto: Que disciplina
curricular é suficiente para atender todos os itens acima? Penso que
individualmente nenhuma. Então vamos
inverter a pergunta: Que disciplina escolar fica excluída de todos estes itens
acima? Também nenhuma, acredito.
Então concluímos que a
natureza interdisciplinar é intrínseca à robótica. Impossível construir coletivamente sem o
exercício da comunicação e da linguagem. Também, não o fazemos sem aplicações
diretas da matemática e da lógica. A missão que o robô executará será em um
lugar geográfico, em um momento histórico, em um ecossistema, com impactos
ambientais e sociais, para que benefícios ao homem? Todos ou quais?
Essa é a escola que
defendo. A escola onde o mundo faça eco, que permita prazer à aprendizagem, que
valorize a individualidade através da autoria e desenvolva os talentos num
mergulho em si próprio. E que também valorize o coletivo através da colaboração
de todos para a construção do projeto comum, com conseqüente desenvolvimento do
caráter, tão necessário aos nossos dias, resultante dos embates naturais que
permeiam o trabalho interativo e o aprendizado das regras de convivência social.
Publicado no jornal Cinform
14/12/2009 – Caderno Emprego
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