Um breve histórico: a humanidade sempre educou seus filhos. Nas
sociedades tribais ou em outras organizações sociais primitivas, a educação se
desenvolvia de forma difusa e desprovida de metodologia. Assim, as crianças eram educadas a
todo instante assistindo a atividades típicas de sua cultura, como caçar,
pescar, dançar ou construir moradias. Um processo de aprendizagem por imitação.
Nesse período, as profissões não existiam como existem hoje e a
mobilidade social era impraticável. O aprendizado de tarefas se dava dentro das
famílias e a educação era o reflexo da própria convivência grupal, não deixando
margem para a escolha da ocupação especialmente nas famílias mais
hierarquizadas, nas quais as atividades de todos eram definidas pelo chefe ou
patriarca.
Mais adiante, com as transformações ocorridas no mundo do trabalho
e no modo de produção capitalista até o inicio do século XX, tornou-se
necessário adaptar o ser humano ao trabalho visando maior produtividade. É
então que surge o primeiro centro de orientação profissional em Munique no ano
de 1902, com olhar direcionado para satisfazer a seleção de pessoal para a
indústria. Note-se que este centro não está vinculado a educação e sim a
critérios seletivos de admissão de pessoal em empregos, características da psicologia
industrial.
O primeiro campo de interesse dos estudos vocacionais é o aumento
da produtividade no trabalho, seja pela satisfação de fazer algo que se tem
aptidão, ou pela redução de acidentes de trabalho, mais comuns nos que
demonstram menos aderência com suas tarefas.
Diferentemente, no Brasil, a orientação vocacional surge
promovendo a vinculação direta entre a orientação profissional e a educação. Os
nossos serviços de orientação vocacional nascem dentro das escolas técnicas.
Tradicionalmente, inclusive, a tarefa de realizar intervenções em orientação
profissional, nacionalmente, cabe tanto ao psicólogo quanto ao pedagogo.
Nas universidades brasileiras a evasão de alunos é objeto de
pesquisas desde a década de 90, sendo também motivo de grandes prejuízos às
próprias instituições, aos alunos evadidos, aos alunos potenciais que ficaram
excluídos pela limitação de vagas no vestibular e ao erário publico pela
capacidade ociosa do sistema educacional superior e profissionalizante. Algumas pesquisas apontam uma evasão média em
torno de 40%, com a ocorrência de picos superiores a 70%.
As causas da evasão são geralmente classificadas em dois grandes
grupos: a) motivos internos à instituição, que incluem descontentamento com
qualidade docente, modelo pedagógico, horário ou outros problemas estruturais;
e b) motivos externos à instituição e mais vinculados ao aluno, que são os mais
freqüentes de acordo com as pesquisas. Dentro desse segundo grupo incluem-se a
baixa integração social na escola, a deficiência escolar, as expectativas
frustradas, as reprovações e atrasos, os problemas financeiros, a falta de
informações sobre o curso e a profissão, a baixa autonomia na gestão dos
estudos, etc. Mas as causas apresentadas acima não estão relacionadas em
qualquer ordem de importância.
Pelo visto, as instituições que trabalham com formação
profissional e superior não podem se furtar a oferecer assistência vocacional
ao estudante para minimizar evasões e flexibilizar a escolha de uma outra opção
de curso aos seus estudantes.
Vou sair um pouco da natureza técnica até aqui apresentada
convidando o leitor a uma reflexão a partir de nossa própria realidade
sergipana. Com o advento da economia do conhecimento, conquistando cada vez
mais postos de trabalho no mercado, temos experimentado uma abstração sempre
crescente sobre o que é trabalhar. São inúmeros os profissionais que podem
desenvolver suas tarefas independentemente do lugar onde estão, a exemplo de
atendentes de call center, programadores de computador, web designers e
repórteres, dentre outros.
Igualmente, quando estamos em casa lendo e escrevendo emails de
nossas empresas, atendendo o pronto telefone celular para ligações
profissionais, estamos trabalhando de forma abstrata. Quando praticávamos
ofícios, nossos filhos podiam ver e aprender a fazer o mesmo e compreendiam a
vinculação direta entre trabalhar e fazer algo visível. Caso visitassem o
ambiente de trabalho dos pais numa indústria ou estação ferroviária, tinha a
plena certeza de que seus pais trabalhavam e produziam algo tangível ao tato,
ao olfato, à visão, à audição, e quem sabe, ao sabor também?. E hoje, o que ocorre quando o filho
adolescente de um administrador de banco-de-dados vai visitá-lo em seu
trabalho? Que impressões sensoriais chegam a esse jovem? Que ensinamento
profissional ocorre? Difícil dizer.
Parece que transitamos ao longo da historia, de uma educação difusa para
um trabalho difuso ou confuso.
Dada a imaturidade natural dos estudantes com idade entre 15 e 19
anos de fazerem suas escolhas profissionais na inscrição do vestibular para uma
profissão que futuramente abraçará, e daí há 8 anos quando esta mesma profissão
poderá nem mesmo existir mais, é que penso que o apoio familiar e o escolar
devem se fazer cada vez mais presentes no fortalecimento da autonomia e da
construção do livre-arbítrio do adolescente através da educação do pensar, do
sentir e do agir. Afinal, a decisão final da escolha profissional sempre será
dele próprio.
Publicado no jornal Cinform
09/11/2009 – Caderno Emprego
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