“Não há, basicamente, em nenhum nível, uma educação que não seja a
auto-educação. [...] Toda educação é auto-educação e nós, como professores e
educadores, somos, em realidade, apenas o ambiente da criança educando-se a si
própria. Devemos criar o mais propício ambiente para que a criança se eduque
junto a nós, da maneira como ela precisa educar-se por meio de seu destino
interior.” Rudolf Steiner.
Quero
comentar sobre uma linha pedagógica que está presente em todos os continentes,
em mais de 50 países, em cerca de 1000 escolas, das quais, 25 estão no Brasil.
Embora forme a maior rede de escolas independentes do mundo, a Escola Waldorf,
infelizmente, é ignorada na maioria das faculdades e nos livros de pedagogia do
país. No Brasil, a primeira Escola Waldorf foi fundada em 1955 na cidade de São
Paulo e está funcionando até hoje.
Por que uma
corrente pedagógica tão extensa e atualizada é descartada do meio pedagógico?
Para mim, à primeira impressão é que o milionário mercado editorial do livro
didático não é contemplado com seus livros descartáveis. Nessas escolas o aluno
escreve seus próprios livros, expondo sua visão através de textos e desenhos
vivos que são registros permanentes de suas experiências escolares. Também sei
que as escolas Waldorf exigem intensa participação da família no seu cotidiano.
Assim, pais que não estejam dispostos a acompanhar de perto a vida escolar dos
filhos devem manter distância segura dessa pedagogia. Nessas escolas,
professores costumam visitar as
residências de seus alunos e os pais são os organizadores das festas escolares.
Trata-se de uma ação pedagógica peculiar da pedagogia Waldorf.
Tais escolas
surgiram na Alemanha, em 1919, quando Emil Molt, diretor da fábrica de cigarros
Waldorf-Astoria (daí o nome Waldorf), ciente dos resultados do trabalho
pedagógico de Rudolf Steiner com um jovem hidrocéfalo considerado incurável que
se formou com brilhantismo em medicina, o convidou para ministrar palestras
motivacionais aos operários de sua fábrica.
Diante do
sucesso destas palestras, que migraram do sentido meramente motivacional para
um sentido profundamente revelador da natureza humana, o grupo de operários
solicitou a Steiner a fundação de uma escola para seus filhos, no que Emil Molt
de pronto concordou. Rudolf Steiner
concordou com a solicitação dos operários, desde que respeitadas as seguintes
condições: aceitar crianças de qualquer procedência, ter um currículo unificado
de doze anos e que os professores fossem administradores e dirigentes da
escola. Esta floresceu espetacularmente e Steiner tornou-se seu dirigente mesmo
morando distante.
Segundo
Rudolf Steiner, "nosso mais alto empenho deve ser o de desenvolver seres
humanos capazes de, por eles próprios, dar sentido e direção às suas
vidas". A principal meta de uma Escola Waldorf é desenvolver na criança
"cabeça, coração e mãos" através de um currículo ampliado e equilibrado
em práticas educativas formadoras do pensar, do sentir e do agir. Este
currículo insere música (flauta doce, contralto, orquestra e coral); artes
(aquarela, marcenaria, modelagem e escultura em argila, desenho em branco e
preto e perspectiva, fotografia, batik, estamparia, mosaico, tricô, crochê,
tecelagem e tapeçaria), além de matérias como jardinagem, técnicas agrícolas e
horticultura.
Outra
característica que diferencia a Pedagogia Waldorf das demais é o acompanhamento
que o professor da classe realiza junto a uma mesma turma durante sete anos. É
tempo bastante para se assistir intensamente ao crescimento de uma criança da
alfabetização ao ensino médio e ver o efeito da ação pedagógica, diagnosticar,
avaliar e, quando necessário, corrigir rumos.
O que me
fascina nesta pedagogia é o fato de a vivência e o descobrir precederem a
teoria. Nela, a arte do ensino é fazer os alunos descobrirem por si o que se
deseja ensinar. E ensinar para quem já sabe, ou melhor, para quem acaba de
saber é lidar com o encanto da aprendizagem. É o sabor do aprender lúdico. Este
método facilita o ensino dividido em épocas: ao invés de mudar de disciplina a
cada toque da sineta, nestas escolas, ocorre uma imersão durante três ou quatro
semanas em uma mesma matéria, intensificando a vivência e o clima geral de
aprendizagem. Os alunos se renovam cada vez que conhecem e adormecem com o que
aprenderam. Diariamente, as aulas de época ministradas pelo professor da classe
são seguidas por aulas de língua estrangeira, educação física, religião, artes,
artesanato ou musica a cargo de professores especializados.
No final da
década de 80, tive a felicidade de matricular um filho em uma escola Waldorf em São Paulo e pude
constatar essas informações “ao vivo e a cores”. O que mais me faz admirador
desta escola, porém, não é a grandiosa fundamentação teórica fornecida pela
Antroposofia – ciência que revela a sabedoria do homem como ser dotado de
corpo, alma e espírito – mas sim, o amor que os alunos desenvolvem pela escola
que os leva a espontaneamente zelar por ela e curtir as aulas. Tenho noticia
que em Aracaju, além da formação de professores Waldorf através de cursos de
pós-graduação (1400 horas), há também o embrião da nossa primeira escola
Waldorf. Que bom, porque isto representa um avanço da educação em Sergipe!
Publicado no
jornal Cinform 27/04/2009 – Caderno Emprego
Publicado no Jornal do
Comércio / SE – Editorial abr/2009
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