Um
vírus chinês, talvez inspirado naqueles de computador, prospera como visitante
não-convidado provocando danos bilionários mundo afora.
Igualmente
tênue é a fronteira que separa a pessoa física da pessoa jurídica no nosso
Brasil. Por certo, em um país que possui o tecido empresarial oficial composto
por mais de 99% de micro e pequenas empresas e que seus correspondentes
empresários repetem a mesma sofrível formação socioeconômica e escolar do
trabalhador médio brasileiro, confirma a precariedade presente em nosso
ambiente produtivo.
Com
efeito, o reino empresarial brasileiro é uma fotografia da nossa, digamos, injusta
ordem social. De fato, as dificuldades que envolvem a gestão de negócios vão
desde a nossa incivilizada burocracia ao senso comum que não vê a importância
da atividade produtiva na construção de uma nação, passando pelos baixos
índices de produtividade.
Facilmente
caímos na tentação de usar as lentes acadêmicas para traduzirem uma realidade tão
dura e distante dos livros. Assim, choca o bom senso a discussão rasa que
presenciamos entre a saúde das pessoas (físicas) e a sobrevivência das
empresas, como se houvesse nas paragens de Macunaíma essa clássica separação. O
que vemos aqui ainda é a absoluta e indevida mistura das contas e dos atos das
pessoas físicas e jurídicas, encarnados em um só.
Grosso
modo, nos disse o IBGE em março/19, que menos da metade dos brasileiros
corresponde aos 92 milhões da população ocupada. Desta, 33 milhões são os
trabalhadores de carteira assinada e 11 milhões os funcionários públicos, que
somados representam menos da metade da população ocupada. Então, quem são os
demais? Descontados os 6 milhões de trabalhadores domésticos resta-nos 42
milhões de guerreiros produtivos assim divididos: 12 milhões de trabalhadores sem carteira
assinada; 25 milhões trabalhando por conta própria; 5 milhões de empregadores.
Repito, números aproximados.
Ao
recortarmos os números acima, fica claro que metade da nossa população ocupada é
formada por empresários, autônomos e empreendedores formais ou não. Quem são
esses? Pessoas físicas com certeza, porém todos, sem exceção, protagonistas do
palco econômico como pessoa jurídica, formal ou não. Pois, independentemente da
formalização praticam atos e fatos típicos das pessoas jurídicas e fazem
circular o dinheiro e gerar riqueza. Se para os assalariados os meses são
longos, para estes os dias são intermináveis.
Reforça
nosso entendimento um vídeo disponível nas redes sociais que, sem fazermos
juízo de valor, inspirou o título deste texto. Se trata do conflito entre um
vendedor de bananas no centro da cidade com fiscais do município de Aracaju. Na
cena os fiscais apreendem as mercadorias e o carrinho do ambulante que reage
violentamente agredindo física e verbalmente os agentes municipais. Uma cabal
demonstração da fusão entre pessoa física e jurídica, ou seja, quando desequilibra
a atividade econômica se desequilibra a pessoa física, logo a saúde. Não
distante da nossa realidade há registros de suicídios de empresários por motivações
econômicas. Há como separar saúde de economia no Brasil?
Não
faz sentido a polarização que presenciamos na política brasileira, alimentada
por uma mídia igualmente tendenciosa e apaixonada. Pelo nível dos debates e das
publicações correntes, arriscamos perder em inteligência para o mais primitivo
vírus. Será que o que é bom para a saúde é ruim para a economia? Será que
indicador de saúde é só coronavírus? Será que economia se contrapõe à saúde no
seu sentido mais amplo? Será legítimo crescer politicamente pelo caminho da
desinformação nesse cenário de calamidade? Será correto auferir privilégios
nesse momento? Qual o limite entre o impacto da doença e as mortes provocadas
por um caos econômico?
Respostas
difíceis, exceto para os egoístas e para os aproveitadores de plantão. Notadamente,
se não há verdadeiro isolamento horizontal no País como alguns acreditam, posto
que porteiros, caminhoneiros, vigilantes, motoristas, motoboys, policiais,
operadores da saúde, padeiros, distribuidores, mecânicos, farmacêuticos,
bancários, comerciários, jornalistas, dentre inúmeros outros profissionais,
continuam trabalhando invisíveis para muitos, mas gerando conforto e
abastecimento para todos.
Senhores
políticos e autoridades diversas, já estamos irremediavelmente prejudicados na
saúde e na economia – o dano já é efetivo. Assim, é hora de desarmar os
espíritos e fazermos uma única frente nacional que responda com assertividade
ao desafio imposto. Só haverá saída para o enfrentamento do novo vírus com a união de todos e a participação ativa, honesta
e inteligente dos mais diversos
setores que compõem o mosaico de nosso grande Brasil.
Paulo
do Eirado Dias Filho
Pedagogo,
Diretor Superintendente do Sebrae/SE
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