Diante da
divulgação dos selos de eficiência energética do consumo de combustível dos
carros nacionais pelo Instituto Nacional de Metrologia,
Qualidade e Tecnologia – Inmetro -, o Sr. José, decide trocar seu
antigo furgão beberrão, capaz de consumir um litro de gasolina a cada seis
quilômetros, em média, por um novo modelo bem mais econômico, levando assim, o felizardo
Sr. José a rodar oito quilômetros por litro. Uma economia de 33%, em média.
Bem mais antenada com as questões ambientais, a
jovem Joana, consultando a mesma lista do Inmetro, decide trocar seu já
econômico sedan, capaz de fazer 20 km/l, por outro que garante fazer
inacreditáveis 30 km/l. O que assegura a Joana uma economia da ordem de 50% no
consumo médio de gasolina. Considerando que ambos rodam iguais 20 mil
quilômetros por ano, responda qual deles mais contribuiu para o meio ambiente a
partir de suas decisões?
Certamente,
a resposta imediata é que a jovem Joana com a redução de 50% de consumo mais contribuiu
com o meio ambiente que o Sr. José. Contudo, essa é uma resposta precipitada e
incorreta. Posto que cada qual ao rodar iguais distâncias anuais de 20 mil
quilômetros, leva a Joana, que gastava 1000 litros de gasolina, a gastar 666,7
litros com o novo carro, economizando 333,3 litros.
Já, o Sr.
José e seu furgão antigo que consumia 3.333,3 litros por ano, agora gasta 2.500
litros com seu novo veículo. Uma economia, portanto de 833,3 litros no mesmo
período. Ou seja, ele contribuiu de forma mais eficaz para o meio ambiente que
a Joana, a partir da medida adotada.
O exemplo
acima foi adaptado a partir do excelente livro “Rápido e devagar, duas formas
de pensar” de Daniel Kahneman, Prêmio Nobel de Economia. Ele demonstra que
possuímos dois sistemas mentais disponíveis: O Sistema 1, de respostas
imediatas, sede de nossos preconceitos e tão cheio de certezas quanto raso –
que optou por Joana; e, o Sistema 2 que realiza as operações mais complexas do
pensar, capaz de nos apresentar a dúvida e a incerteza como seu próprio domínio
natural – que demonstrou matematicamente a resposta, concluindo pela economia
do Sr. José.
O uso do Sistema
2 é oneroso. Ele exige concentração e isolamento durante seu funcionamento.
Exemplos de ação desse sistema: resolver quanto é 17 x 49 “de cabeça” ou
aguardar o tiro de largada numa prova de corrida. Por isso, evitamos recorrer a
esse sistema mental que traz desconforto cognitivo. Contudo, é a principal arma
do intelecto e, como tal, precisa ser exercitado para não se tornar preguiçoso.
Contrariamente,
o Sistema 1 funciona no automático, gerando a maior parte das respostas que
precisamos durante nossas rotinas normais ou diante de questões simples, tipo
quanto é 2 + 2; ou olhar, naturalmente, para os lados antes de atravessar uma
rua; ou ainda ao responder prontamente “quantos animais de cada espécie Moisés
levou na arca?”.
A passagem
do Sistema 1 para o Sistema 2 ocorre diante de dúvidas ou de situações mais
formais, além de estranhamentos. Acontece, por exemplo, quando percebemos que
não foi Moisés que levou animais na arca, e sim, Noé. Um momento desse acionamento
do Sistema 2 está no conto “O valor de um tesouro escondido”, da tradição oral
Sufi, a seguir:
Vivia na
China um sacerdote rico e avarento. Amava joias e as colecionava, acrescentando
constantemente novas peças ao seu maravilhoso tesouro escondido, que guardava a
sete chaves, oculto de olhos que não fossem os seus.
O sacerdote
tinha um amigo, que um dia o visitou e manifestou interesse em ver as joias.
- Seria um
prazer tirá-las do esconderijo, e assim eu poderia olhá-las também.
A coleção
foi trazida, e os dois deleitaram os olhos com o tesouro maravilhoso por longo
tempo, perdidos em admiração.
Quando
chegou o momento de partir, o convidado disse:
- Obrigado
por me dar o tesouro.
- Não me
agradeça por uma coisa que você não recebeu – disse o sacerdote. – Como não lhe
dei as joias, elas não são suas, absolutamente.
- Como você
sabe – respondeu o amigo, - senti tanto prazer admirando os tesouros quanto
você. Por isso, não há essa diferença entre nós como você pensa. Só que os
gastos e o problema de encontrar, comprar e cuidar das joias são seus.
Publicado no Jornal Cinform em 18/08/2014 - Caderno Emprego
Publicado na revista Ti&N, ed. n.20 - out/2014
Publicado na revista Ti&N, ed. n.20 - out/2014
Interessante o conteúdo deste artigo,criativo e com diferentes ângulos do pensar e repensar diante do fatos quando tiramos conclusões precipitadas.
ResponderExcluirObrigado. Pois é, a inspiração vem do livro citado, que aprofunda na investigação do funcionamento dos sistemas 1 e 2, como ele denomina. Recomendo a leitura.
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