terça-feira, 18 de março de 2014

Estacionamentos e garagens: sempre bem nas paradas


     Cerca de vinte e cinco anos atrás, morando na cidade de São Paulo e trabalhando na região central, descobri uma razão muito própria para o ideologizado bordão, “São Paulo não pode parar”: a escassez e o preço dos estacionamentos. A verdade é que, já naquela época, um carro parado custava mais caro do que um rodando por igual período. De fato, assim São Paulo nem podia parar. De lá para cá, com o agravamento da circulação de veículos na cidade dos quilométricos engarrafamentos, nem mais sabemos se São Paulo, além de não poder parar, também não pode andar.

     Hoje, temos em Aracaju, como em qualquer outra capital brasileira, uma crise de mobilidade urbana. Os congestionamentos, a deficiência no transporte público e a falta de estacionamentos, provocam estresse e mudanças de hábitos. Almoçar em restaurantes, para muitos aracajuanos se torna uma necessidade diária, diferentemente dos costumes de até uma década atrás, quando alguns mais conservadores, consideravam “feio” almoçar na rua sem a família.

     Contudo, o que é sofrimento para uns, é oportunidade para outros. Aliás, dizem que a pessoa empreendedora é aquela que quando vê todos chorando, ao invés de entrar na comoção geral, enxerga uma chance imperdível de vender lenços e, assim, atender a essa demanda. Por certo, com esse espírito empreendedor, muitos sonham com a possibilidade de conseguir um terreno ou um velho casarão para demoli-lo e, então, ofertar vagas de estacionamento particular no centro da cidade, realizando um lucrativo negócio.

     Se, enxergamos oportunidades empreendedoras nos estacionamentos e nas garagens, inclusive de shoppings, temos que admitir a nossa modéstia frente a outros povos, particularmente, os norte-americanos, que desenvolveram grandes impérios mundiais a partir de simples garagens. Não por acaso, nasceram em garagens as seguintes marcas: Hewlett-Packard - HP, Harley Davidson Motors, Disney, Mattel, Google, Aplle, Amazon e Lotus Cars (inglesa).

     Desnecessário comentar sobre o valor e a importância dessas marcas. Porém, existem pelo menos três fatores que dão a esses empreendedores estrangeiros superioridade sobre nós: 1- Ambiente favorável ao empreendedorismo, como cultura nacional; 2- níveis de escolaridade e interesse pela pesquisa tecnológica, superiores ao brasileiro e; 3- valorização das micro e pequenas empresas, posto que estas são o principal celeiro da inovação tecnológica.

     Para os norte-americanos, a garagem tem um simbolismo muito especial, associado à criatividade e à inovação. Por conta disso, a Microsoft construiu em seu campus, em Redmond, um galpão – The Garage -, ao qual, os funcionários têm acesso 24 horas por dia e sete dias por semana, funcionando com uma “fábrica de ideias”. Diz o site da empresa, que por essa garagem passaram mais de três mil funcionários e que produziram cerca de dez mil projetos inovadores. Desses, destacamos o mouse sem limite, que permite ao operador-capitão comandar uma frota de computadores simultaneamente, ofertando recursos do tipo copiar-colar ou arrastar arquivos, entre máquinas distintas.

     Por outro lado, neste último mês de fevereiro, comemoramos 50 anos de Beatlemania, movimento mundial disparado a partir do primeiro show dos Beatles na excursão pelos Estados Unidos, em 1964. Esse evento aconteceu na consternada cidade de Washington, três meses após o assassinato de John Kennedy e dois dias após uma aparição ao vivo, no programa The Ed Sullivan Show, que rendeu a audiência recorde de 74 milhões de espectadores, ou seja, metade da população do país.

     Mas, o que a Beatlemania tem a ver com o tema desse artigo? Tudo. O show inaugural dessa histeria coletiva aconteceu no Washington Coliseum, sobre um ringue de luta, dentro de um grande galpão que servia para apresentações de boxe, com arquibancadas para 7 mil pessoas. Confiante em investir nas paradas - Yesterday é a música mais executada no mundo -, o antigo galpão é hoje um carismático estacionamento coberto.


                                                       .                                                      .

Publicado no Jornal Cinform em 17/03/2014 - Caderno Emprego
Publicado na revista TI&N nº 17, de abr/2014

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