A história da tecnologia é quase tão antiga quanto a da própria
humanidade, pois surge na confecção das primeiras ferramentas de caça, proteção
ou transporte. Desde que o mundo é mundo, como diz o poeta, o homem usa dos
recursos físicos e estratégicos para se impor sobre o meio. Assim, transportar
água em vasos, por exemplo, deu autonomia para as conquistas territoriais.
Lascar pedras ou arar a terra trouxe consequências sociais impactantes, além da
invenção da roda e do controle do fogo. Porém, tecnologia é toda ferramenta,
máquina, técnica, método ou processo que se aplica na resolução de problemas.
Sob esse ponto de vista, computadores e redes informacionais são
apenas ferramentas sofisticadas que, conjuntamente com o desenvolvimento de
manipulações genéticas, biomédicas e as conquistas espaciais, formam o ápice da
tecnologia atual.
Será que o uso imediato dos computadores e das modernas TICs
(Tecnologias da Informação e Comunicação) em escolas para crianças é um bom
caminho para a conquista do almejado domínio tecnológico? Por certo, não! A
precocidade provoca um salto frio e inteligível. Uma ruptura.
Com efeito, apesar dessas TICs exercerem grande fascínio nas
crianças e grande ansiedade nos adultos, são totalmente dispensáveis nas
escolas infantis. Para os pequenos, representam coisas do passado. Daí dominarem
o uso com certo desprezo e alguma arrogância afirmativa. Já para os pais,
parecem coisas do futuro, além de serem desafiadoras ao extremo. Portanto, mais
se deve à pressão dos pais e do mercado o uso dessas tecnologias na escola, do
que uma necessidade pedagógica real. Aliás, desconheço projeto pedagógico de
sucesso, com essas TICs, que seja mais envolvente e construtivo do que uma aula
de esculturas de argila ou de pintura em aquarela. Afinal, não existe nada mais
intolerante que o computador e suas frias simulações, a se valer, a priori, da
visão e, perifericamente, da audição. Então, qual o cheiro da cor azul do
Paint? Qual o gosto de uma jaca no Google? Qual o calor e a aspereza do pedaço
de fóssil na Wikipedia? Qual o equilíbrio que se desenvolve ao guiar uma moto
em um game? O que importa é só a aparência?
Historicamente, Karl Marx (1818-1883) prefaciou, na primeira
edição alemã de O Capital: “... a sociedade não pode nem ultrapassar por saltos
nem abolir por decretos as fases de seu desenvolvimento natural, se bem que
possa abreviar os períodos de gestação e aliviar as dores do parto de cada
fase, desde que descubra a lei natural que preside a seu movimento”.
São questionamentos como esses que nos fazem refletir se o uso
antecipado das TICs nas escolas não é uma forma de alienação de alunos, pais e
professores, pois há uma série de outras conquistas tecnológicas que as
antecederam, criaram suas bases e são ignoradas nesse processo, provocando uma
espécie de paraquedismo cognitivo.
No início do século XX, o dinamarquês Jacob Riis, considerado o
primeiro fotojornalista, disse esperançoso: “Quando nada parece ajudar, eu vou
e olho o cortador de pedras martelando sua rocha talvez cem vezes, sem que
nenhuma rachadura apareça. No entanto, na centésima primeira martelada, a pedra
se abre em duas, e eu sei que não foi aquela a que conseguiu, mas todas as que
vieram antes”.
Por essas razões, devemos reconhecer o valor da Pedagogia Waldorf,
ao adotar um currículo escolar que vivencia toda a história da tecnologia, na
mesma ordem cronológica de seu surgimento. Por certo, uma forma de ofertar
segurança e compreensão sobre a sociedade atual e os caminhos percorridos por
ela. Decididamente, nenhuma linha pedagógica é tão apaixonada pela tecnologia e
tão provedora de criatividade nos seus alunos. No Fórum Social Mundial, em
2003, Fritjof Capra indicou a Pedagogia Waldorf como modelo de educação
transdisciplinar.
“Onde está a vida que perdemos vivendo? Onde está a sabedoria que
perdemos no conhecimento? Onde está o conhecimento que perdemos na informação?”
T.S.Eliot.
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Publicado no Jornal Cinform em 31/03/2014 - Caderno Emprego