À primeira vista, motoristas dirão que a escola dá nos nervos
quando pais estacionam em filas duplas para buscar os filhos. Os pais, por sua
vez, dirão que o desgaste emocional maior se dá na compra cara e volumosa do
material escolar, ou nos reajustes das mensalidades dos estabelecimentos
particulares. Outros tantos alunos, professores, funcionários e donos falarão
de salários, indisciplina, insegurança, falta de vagas, provas e vestibulares.
Aliás, qualquer cidadão deve ter algum desgaste com a escola.
Contudo, nosso foco é o contexto biológico e fisiológico do
sistema nervoso humano e as contribuições boas ou ruins, que a escola nele realiza. Durante os primeiros anos da criança, o sistema nervoso tem
prioridade sobre os demais órgãos do corpo. Assim, o desenvolvimento corpóreo
se dá no sentido crânio-caudal, isto é, da cabeça para os pés, de forma que o
cérebro, centro principal do sistema nervoso, seja o órgão que primeiro cresce
no organismo humano.
Biologicamente, duas importantes obras se realizam nos primeiros
sete anos de vida: a maturidade neurológica e o reconhecimento geral do corpo
pelo sistema imunológico. Sob essa ótica, a maturidade neurológica se faz com o
fim do processo de mielinização dos troncos nervosos, que é o isolamento dos
nervos por uma bainha de gordura - chamada de mielina -, a qual irá permitir
velocidades bem superiores e precisão nas comunicações nervosas. Desde a
formação do cérebro nos primeiros meses de vida até a completa mielinização aos
sete anos, estão em jogo o futuro escolar da criança e suas capacidades no mundo
do trabalho.
Paralelamente, durante esses mesmos sete anos, o organismo da
criança elabora a substituição de todas as células herdadas do ventre materno
pelas suas próprias. Assim fazendo, o sistema imunológico põe sua assinatura
nas células, identificando-as: EU. Por esse meio, diferenciar o EU do não EU é
a base para o reconhecimento e combate aos invasores. As falhas nesse processo
podem levar o organismo a combater violentamente a si mesmo, em qualquer idade
futura, desencadeando as chamadas doenças autoimunes, a exemplo de Lúpus,
algumas artrites e diabetes, além de alergias.
Com efeito, é indiscutível a importância da primeira infância na
formação da saúde e na escolaridade futura do indivíduo. Mas, onde entra a
escola nisso? A resposta é o cuidado que a escola deve ter nas práticas
pedagógicas para não ferir a prioridade da criança pequena, que é reservar suas
energias para a construção de um corpo físico saudável. Então, o brincar e os
estímulos imaginativos devem ser os componentes essenciais das aulas,
respeitados os ritmos naturais da faixa etária.
Dito de outra maneira, impor processos intelectuais em crianças
pequenas, como a alfabetização precoce (anterior à mielinização), é desviar forças
organizadoras do corpo físico para a esfera do raciocínio, resultando em prováveis
prejuízos para a saúde e a cognição. Portanto, erros pedagógicos são frequentes
e danosos, para além da esfera psíquica das crianças, e muitas vezes,
invisíveis ou tidos, erroneamente, como se fossem práticas escolares corretas.
Por fim, ainda dirão que a culpa é do ácaro.
Como saber se a criança apresenta maturidade neurológica para
alfabetizar? Além da possível avaliação de um neurologista ou psicopedagogo,
existe outra evidência interessante a ser observada pelo educador: a troca de
dentes. A implantação da dentição permanente sinaliza um estágio avançado de
renovação celular, no qual a criança demonstra que até as células mais duras
ela já elaborou. Em geral, após essa fase, a criança apresenta saúde estável e
maior controle sobre as febres. Isto é, um bom domínio sobre o próprio
organismo, para tranquilidade dos pais.
Por certo, não há trabalho mais gratificante do que educar. Respeitar
os ritmos individuais e da idade, e ver que também assim, a escola dá nos
nervos, agora positivamente, quando se comprova que a escolaridade é fator de
proteção contra o Mal de Alzheimer. Quanto mais escola (boa), menos doença!
Publicado no Jornal Cinform em 17/02/2014 - Caderno Emprego
Nenhum comentário:
Postar um comentário