Fui agraciado com novos conhecimentos nesses últimos dias.
Participei de uma missão dos Senac do Nordeste ao Peru, onde conheci sua
estratégia, bem sucedida, de vender a imagem, a cultura e o destino turístico a
partir da Gastronomia local.
Não resta dúvida de que esse país possui uma variedade invejável
de climas e biomas que fazem dele um lugar muito especial. Isso ainda é associado
à grandeza da história que remonta a séculos antes de Cristo. Dessa combinação,
surge um território único, onde os desafios culturais e geográficos produziram
uma sociedade com forte identidade e generosidade.
O relevo é composto por desertos, montanhas intransponíveis e
selva amazônica, além de vales e altiplanos andinos. Os terremotos também são
uma ameaça constante, bem como os tsunamis. Na Capital, Lima, há demarcações de
áreas seguras para refúgio em caso de abalos sísmicos e rotas de fugas
sinalizadas para possíveis maremotos.
O Peru é o terceiro maior país da América do Sul, ficando atrás do
Brasil e da Argentina. Sua população está em torno de trinta milhões de
habitantes, dos quais quase a metade se encontra abaixo da linha de pobreza.
Os contrastes são visíveis. Em Lima, há bairros que nada devem aos
melhores locais europeus, a exemplo de Miraflores. E a periferia, que possui
favelas sem água nem esgoto, que visitamos para conhecer um belíssimo trabalho
de educação profissional realizado por missionários católicos.
Apesar dessas dificuldades, o país é uma referência em hospitalidade.
Lá está a única sede na América do Sul da secular escola francesa, Le Cordon
Bleu. Ícone da hotelaria mundial, com universidade e cursos
técnico-profissionalizantes. Acresce essa lista de escolas profissionalizantes,
o Senati, espécie de Sistema S peruano, e inúmeras outras escolas
profissionalizantes particulares.
Com efeito, visitamos a feira anual “Mistura”, que recebe cerca de
duzentos mil visitantes em seus dez dias de funcionamento, o que a qualifica
como o maior evento gastronômico do continente. Nossa comitiva necessitou de
dois dias para visitar todos os pavilhões da feira.
A culinária peruana é muito saborosa e variada. Envolve frutos do
mar, carnes e produtos agrícolas típicos. Entretanto, o prato que identifica,
em nível internacional, sua comida é o cebiche,
preparado com peixe cru, suco de limão, sal, cebola e ají (pimenta da região
andina). Porém, nada fica a dever, o famoso lomo
saltado, preparado com carne bovina, cebola, vinho branco, tomates, pimenta
e outros ingredientes. E tudo isso pode ser antecedido pelo saboroso pisco, aguardente da uva trazida e
cultivada pelos primeiros espanhóis e, logo, assimilada pelos nativos.
Como se vê, a Gastronomia se reverte em valioso instrumento
turístico, ao associar o prato ao contexto local. Assim, provar um cebiche é saborear a cultura peruana,
integrada pelo desafio da pesca no Litoral do Pacífico, com a vida penosa de
agricultores familiares dos Andes. Portanto, culinária é identidade e
desenvolvimento local, é roteiro histórico e geográfico, é cultura e respeito
às tradições, é fortalecimento dos pequenos negócios geradores de empregos e
fomento econômico.
Diante dessas possibilidades, o Brasil precisa partir para
estruturar sua rica Gastronomia com profundidade. Isto é, pesquisar a culinária
brasileira, criar roteiros gastronômicos, fomentar a presença de restaurantes
típicos brasileiros no Exterior, atrair visitantes estrangeiros para provarem
nossos pratos e bebidas. Quentes, em sua maioria, como o pato ao tucupi amazônico,
o acarajé baiano, o churrasco gaúcho, a tapioca nordestina, a cachaça mineira, entre
tantos outros. Pelo visto, urge implantar uma política firme de desenvolvimento
gastronômico internacional, como bem observou Antonio Henrique, experiente gestor
do Senac Nacional, integrante de nossa comitiva.
Se, na língua portuguesa, Peru e Lima, são homônimos de alimentos,
que dizer do Brasil, cuja semântica nos remete à brasa.
Publicado no jornal Cinform em 16/09/2013 - Caderno Emprego
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