Participei, recentemente, de uma interessante reunião do BID –
Banco Interamericano de Desenvolvimento –, em Salvador, BA, que envolveu os Estados
da Bahia, Ceará e Sergipe. A temática foi a inserção de grupos vulneráveis no
mercado de trabalho. Uma das motivações do BID é encontrar uma porta de saída
para a população inscrita no Cadastro Único do Governo Federal e, mais
particularmente, para os beneficiários do Bolsa-Família. Nessa reunião, estavam representantes
do serviço público, do BID, do Sistema S e da iniciativa particular.
O norte das discussões apontou para ampliar a articulação entre
esses mesmos atores, institucionalizar as boas práticas e os bons projetos, além
de propor soluções para que as empresas empreguem pessoas de baixa
escolaridade. Por certo, um grupo tão experiente e diversificado tem propostas
concretas para promover melhorias para tal desafio. Contudo, fica-se no campo
das “melhorias”, e não das soluções definitivas, por quê?
A relação trabalhista brasileira, além de conflituosa, com a arcaica
CLT, é povoada por dogmas “imexíveis”. Quando se pensa em flexibiliza-la, as
resistências são enormes. Mas a realidade é cruel e os números não mentem.
Segundo o Departamento Intersindical de
Estatística e Estudos Socioeconômicos - Dieese (2010), Sergipe possui uma PEA – População
Economicamente Ativa - composta por pouco mais de um milhão de pessoas. Dessas,
menos de 400 mil são assalariados formais, isto é, trabalhadores e domésticos com
carteira assinada, estatutários e militares. Isso significa que apenas um terço
da PEA é formalizada. Número semelhante configura o esquadrão dos empregados e
trabalhadores domésticos, assalariados sem registro formal. O último terço é composto
pelos que trabalham por conta própria, outros informais, os não remunerados e
os poucos empregadores.
Assim, infelizmente, os 270 mil sergipanos assistidos pela CLT
formam uma minoria da PEA. Nesse cenário, a rígida CLT é garantia de proteção
apenas para o trabalhador brasileiro elitizado, revelando-se um instrumento
excludente para a ampla maioria. Onde está a segurança que a Carteira de
Trabalho oferece? Ao alcance de meros 26% dos trabalhadores.
O cenário piora quando vemos que o empresário brasileiro também vive
sérias precariedades. Muitos creem que o Sr. Antônio Hermírio ou o Silvio
Santos sejam exemplos comuns dos donos de negócios próprios. Grande engano. Segundo
o Sebrae, 99,2% das empresas brasileiras são micro ou pequenas, 0,6% são médias
e nanicos 0,2% formam as grandes empresas. Além disso, o anormal, diz o IBGE, é
uma empresa viver mais de três anos, já que a metade fecha antes. É mesmo
infernal a vida da empresa brasileira, sobrecarregada por entraves ilimitados
da onerosa máquina pública e o estigma de ser exploradora do trabalhador. Ideologia
cega e perversa que tributa esforços e movimentos ao invés do lucro.
A inserção significativa de trabalhadores no mercado de trabalho
formal só se dará com a modernização da CLT, ampliação da terceirização legal e
políticas fiscais compensatórias para incentivar a geração de empregos em
regiões de baixo adensamento econômico.
Compensações para a implantação de negócios em áreas afastadas dos
grandes centros fixará a população, evitará o êxodo e a precarização do
trabalho em periferias. Em geral, nas pequenas cidades do Norte e Nordeste, a
escassez de recursos técnicos e econômicos, leva - quando possível - à produção
de mercadorias de baixo valor agregado, como produtos agrícolas familiares,
carvão, estacas, lenha, farinha e outros que, devido ao elevado custo do frete,
não conseguem preços competitivos nos mercados consumidores e a geração de
riquezas. Devemos retirar encargos das pequenas empresas formais que se instalem
nessas localidades, incluindo seus fornecedores.
Será justo exigir da Umburana Ltda., na Rua São Gabriel, s/n, em
Avelino Lopes, PI (PIB 30 milhões - 2008), o mesmo que do Citibank da Avenida
Paulista, na cosmopolita São Paulo (PIB 391 bilhões - 2009)?
Publicado no Jornal Cinform em 02/09/2013 - Caderno Emprego
Assisti hoje uma breve explanação sua...estou encantada! Nunca havia pensado na vida e seus aportes de forma tridimensional. Parabéns!
ResponderExcluirCara Jonaza,
ExcluirObrigado.
O tempo para a exposição de um tema complexo foi um fator de risco. Espero que tenha servido para semear uma semente de clareza para entendermos de educação legitimamente identificada com o ser humano, e não com os interesses políticos ou mercadológicos. Estou à disposição para prosseguir, com mais calma, na discussão desses conceitos, que entendo óbvios.
Para entender mais veja algo sobre a "pedagogia Waldorf" na internet.
Um abraço.