segunda-feira, 1 de abril de 2013

Inovações milenares: o coletivo de papa e o Papa de coletivo



Qual o coletivo de papa? Essa pergunta apareceu inúmeras vezes em almanaques e na forma de “pegadinhas” em provas. A resposta sempre afirmou a impossibilidade de tal fato existir e, por isso mesmo, não se justifica a existência do tal substantivo. Bem, nesses dias em que a Igreja Católica Apostólica Romana acolhe o Papa Francisco, recém-eleito, e Bento XVI, que renunciou às funções, sendo, porém, nomeado Papa Emérito, trouxe-nos a inédita situação de termos dois papas vivos, e a inusitada e inominada reunião deles.
 Sob a ótica da inovação, a milenar Igreja avançou bastante, não importa se passiva ou ativamente. Assim ela fez e, sem dúvida, colherá os frutos dessa opção. Não bastasse a curiosa e inédita situação do encontro de papas, o Papa Francisco ainda renuncia ao carro oficial para andar de coletivo, junto aos cardeais. Fato amplamente divulgado pela grande mídia mundial. O papa jesuíta, verdadeiro demolidor de protocolos, afasta qualquer ostentação de riqueza e se revela vocacionado aos pobres.

Estes fatos nos fazem refletir sobre o quanto a inovação é desencadeadora de notícias e atraente ao público em geral. Creio que adoramos quem “pensa fora do quadrado”. Houvesse o Papa Francisco seguido rigorosamente o protocolo, as notícias seriam infinitamente menores e sem esse sabor especial provocado pela surpresa. Assim, demonstramos facilmente uma fórmula para ganhar a chamada mídia espontânea, objeto do sonho de profissionais de Marketing e divulgadores em geral.

Sabiamente, o novo Papa diante da crise que alegam passar a Igreja, enxerga longe e lembra o que disse Ahmed Yamani, ministro do petróleo saudita: “A idade da pedra não acabou por falta de pedra”. Portanto, vemos que não é a escassez de seres humanos que enfraquece as igrejas e sim, as novas perguntas que são formuladas pela sociedade ou a falta delas.

Gary Hamel, autor do livro: “O Que Importa Agora”, afirma reconhecer os problemas internos das igrejas, mas vê graves problemas no mundo, ou mais especificamente: uma sociedade movida a consumo, em que o tamanho da conta bancária é mais importante que o caráter; o número quase infinito de diversões oferecidas por nossa cultura saturada de mídia – distrações que não dão tempo à reflexão espiritual; a visão profundamente cética dos jovens a respeito das grandes instituições – visão que mistura grandes religiões com grandes empresas e grandes Governos; a descrença crescente e reflexa em relação a todos que alegam ter “a verdade”.

Apesar desses fatores externos, o Papa Francisco, pertencente à mesma Ordem de Antônio Vieira, demonstra estar disposto a fazer a sua parte no resgate dos fiéis. Esse é o teor do Sermão da Sexagésima de Vieira, no qual faz uma distinção entre os “pregadores do paço” e os “pregadores do passo”. Paço, sinônimo de palácio, diferencia o pregador palaciano, o que fica preso a seu conforto, daquele outro, como os jesuítas, que saíam pelo mundo pregando a palavra de Deus.

Nesse famoso sermão, o padre pergunta por que fazia tão pouco fruto a palavra de Deus na Terra (e olhem que estava na segunda metade do século XVII). Poderia ser por um desses três motivos: por culpa do povo, da Palavra de Deus, ou dos pregadores. Depois de uma belíssima exposição sobre a inocência do povo e da Palavra, ele conclui: “Sabeis, cristãos, por que não faz fruto a palavra de Deus? Por culpa dos pregadores. Sabeis, pregadores, por que não faz fruto a palavra de Deus? Por culpa nossa!”.

     Em tempos de coletivo de papa e Papa de coletivo, nada melhor que unir a fé com a razão em direção a Deus. Assim revolucionou São Tomás de Aquino (séc. XIII) ao fundamentar o livre surgimento das primeiras universidade e escolas, tão bem expresso em sua oração: “Dê-me, Senhor, agudeza para entender, capacidade para reter, método e faculdade para aprender, sutileza para interpretar, graça e abundância para falar. Dê-me, Senhor, acerto ao começar, direção ao progredir e perfeição ao concluir”.



Publicado no jornal Cinform em 01/04/2013 – Caderno Emprego


4 comentários:

  1. Sem sombra de dúvidas, um Papa do povo.

    Sua tamanha simplicidade pode não ser plausível aos 100% dos olhos humanos, mas, foi a melhor para os olhos do Pai.

    É de forma que se conquista o coração de um irmão.
    "Simplicidade, educação e religião"

    Felizes são aqueles superiores que tratam a todos como a si mesmo. (Lucas Oliveira)

    E o senhor seu Paulo é um homem feliz.

    Não só eu, mas todos que te conhecem tenho certeza que admiram o seu caráter.

    Boa tarde parceiro!

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    1. Caro Lucas,

      sou sempre grato por sua leitura e seus comentários.

      Um abraço,

      Paulo do Eirado

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  2. Após ler o texto que fala sobre religião, hoje iria voltar a visitar o blog para ler novamente o texto que gostei tanto, e aí vem a surpresa, quando fui digitar o endereço do blog esqueci de colocar o "B" do blogspot e ficou o seguinte endereço:
    http://paulodoeirado.logspot.com/ , com isso, veio um site estrangeiro que fala da Bíblia sagrada. Uma coincidência. Ia ler sobre o texto que o sr. falou sobre religião e vem mais ainda sobre religião. Fiquei surpreso.
    Ta aí um erro que me trouxe mais conhecimentos religiosos :)

    Tenha uma boa tarde sr. Paulo

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