segunda-feira, 22 de abril de 2013

Como educar para desenvolver a criatividade?




Uma pessoa criativa é definida como alguém que produz ideias ou atitudes que são simultaneamente originais e adaptativas, à medida que fazem uma contribuição significativa para si ou para outros. Outra contribuição da criatividade é o papel do livre arbítrio e liberdade de escolha desses indivíduos.

Pesquisas revelam que pessoas muito criativas não são necessariamente intelectuais brilhantes; em vez disso, é a sua disposição de independência, não convencionalidade, flexibilidade cognitiva e abordagem de risco que caracterizam suas forças de personalidade, estilo e inteligência criativa.

A criatividade exige um ambiente favorável para se fazer presente na maioria das pessoas. Os mais talentosos parecem não depender desse ambiente de apoio para transbordar a capacidade criativa. Quem trabalha em agência de publicidade sabe que a criação de campanhas nasce, na maior parte das vezes, sob pressão de prazos e escassez de recursos. Diversos autores afirmam que um ambiente desmotivador onde haja preguiça, exaustão, distração, ruídos, além de falta de consciência da própria energia criadora, terá efeito devastador no processo de desenvolvimento da criatividade. Dessa forma, vê-se que, infelizmente, o poder inibidor é mais forte e presente que o estimulador. Ou seja, é mais fácil inibir que promover o potencial criativo dos indivíduos.  

Vemos no atual modelo educacional, inspirado na produção em série de alunos habilitados a responder provas com as palavras do professor ou do autor, ao invés das suas próprias, o tal efeito inibidor. Assim, o excesso de disciplina, o estabelecimento de padrões ideais de alunos para beneficio da própria escola, o bullying com os diferentes, a adoção de exames vestibulares como objetivo maior da vida escolar, o desordenamento de ritmos entre as diversas atividades na escola, a hiperestimulação da memória típica da educação bancária criticada por Paulo Freire – na qual os alunos viram depósitos de conteúdos desconexos para posterior prestação de contas -, são fatores que atrofiam a mente criativa dos jovens.

Ao vermos tantos fatores inibidores da criatividade respondendo às chamadas de classe com raras faltas, recomendamos o que é um bom ambiente para desenvolver o potencial criativo:
1-           Equilibrar as atividades escolares sobre três bases: cognitiva, emocional e volitiva.
2-           Não antecipar processos intelectuais nas crianças menores de sete anos, a exemplo da alfabetização. E sim, estimular o brincar.
3-           Fazer da prática artística um veículo de aprendizagem regular combinando autoria e protagonismo.
4-           Incentivar e valorizar as diferenças e a individualidade.
5-           Fomentar o empreendedorismo e a cultura da cooperação.
6-           Realizar trabalhos manuais com tecelagem, argila, madeira, pedras, tricô, fiação, metais, dentre outros e ao longo de todo o currículo.
7-           Narrar contos de fadas, clássicos mitológicos e biografias inspiradoras para enriquecer a capacidade imaginativa.

Infelizmente, essa reduzida lista é tão óbvia quanto ausente nas escolas.

As forças imaginativas da pequena criança serão transformadas durante o processo de crescimento em criatividade, assim como o brincar forjará a capacidade de trabalho no adulto. Preservar a infância em seu desenvolvimento natural é assegurar uma sociedade sadia. Não só o trabalho infantil aborta a infância, mas também, o erro pedagógico. Achamos hoje, em nossa limítrofe civilização, que formar cabeças é produzir pessoas equilibradas. Quanto engano institucionalizado.

Podemos ver o diálogo das forças imaginativas de uma criança com a habilidosa criatividade de um pai, que encontra nesse poder infantil a única chance de salvar seu filho ileso dos horrores de um campo de concentração nazista em que ambos estão presos, no premiadíssimo filme “A Vida é Bela”. Obra poética, comovente e educativa. Aliás, deveria ser conteúdo obrigatório nas licenciaturas diversas e na pedagogia. Nas palavras de Fernando Pessoa, “tudo vale a pena, se a alma não é pequena”.


Publicado no jornal Cinform em 13/05/2013 - Caderno Emprego

terça-feira, 2 de abril de 2013

O que é ser empreendedor?




Empreendedorismo é a arte de realizar sonhos. A partir disso, não há limites para quem é persistente e possui os conhecimentos necessários. Assim, empreendedorismo se torna uma capacitação possível a qualquer pessoa que se disponha a ter as atitudes e os comportamentos necessários para “fazer acontecer” oportunidades. Em geral, os empreendedores são capazes de trabalhar hoje sem perder o olhar no futuro.

Transcrevemos a partir do livro “O poder da atitude”, de Alexandre Slivinik, esse exemplo bastante emblemático da história de um dos políticos mais famosos do mundo: “ele montou um negócio em 1831, mas não deu certo. Foi derrotado na candidatura a vereador em 1832. Fracassou em outro negócio em 1834. A noiva faleceu em 1835. Teve um ataque de nervos em 1836. Foi derrotado em outra eleição em 1838. Foi derrotado para o Congresso em 1846. Foi derrotado para o Congresso em 1948. Foi derrotado para o Senado em 1855. Foi derrotado para a vice-presidência em 1856. Foi derrotado para o Senado em 1858. Foi eleito Presidente da República dos Estados Unidos em 1860. Seu nome? Abraham Lincoln. Um dos mais notáveis estadistas da humanidade”.

Com efeito, a persistência é característica obrigatória nos homens e mulheres de sucesso. Steve Jobs foi expulso de sua própria empresa, a Apple, após lançar o Macintosh, retornando a ela após cinco anos. Albert Einstein também foi expulso da escola, porque não tinha capacidade para aprender, mas a história comprovou a genialidade dele. Nelson Mandela, após passar 27 anos na prisão, se elegeu presidente da África do Sul e se consagrou como o maior líder da África Negra, tendo sido agraciado com o Premio Nobel da Paz.

Exemplos como esses nos fazem ver o valor do empreendedorismo como instrumento de superação de adversidades. Dele, aprendemos que sempre que vislumbramos metas a alcançar nos fortalecemos no enfrentamento dos inúmeros obstáculos cotidianos. Mas, quantos potenciais Lincoln, Einstein, Jobs e Mandela se perderam nos seus ideais pela falta de capacidade empreendedora? Talvez já tivéssemos a cura do câncer, a fórmula da paz mundial, a equação que resolveria a exclusão social e a degradação ambiental. Quem sabe essas soluções chegaram a alguma cabeça que recuou no primeiro obstáculo?

Seremos muito mais realizadores e felizes se cultivarmos a cultura empreendedora e o associativismo, desde a primeira escola e por toda a vida escolar de nossos alunos. Essa é a nova educação e o melhor preparo dos jovens para os futuros desafios globais


Publicado na Revista Fecomércio-SE  Jan-Fev/2013 nº 06

segunda-feira, 1 de abril de 2013

Inovações milenares: o coletivo de papa e o Papa de coletivo



Qual o coletivo de papa? Essa pergunta apareceu inúmeras vezes em almanaques e na forma de “pegadinhas” em provas. A resposta sempre afirmou a impossibilidade de tal fato existir e, por isso mesmo, não se justifica a existência do tal substantivo. Bem, nesses dias em que a Igreja Católica Apostólica Romana acolhe o Papa Francisco, recém-eleito, e Bento XVI, que renunciou às funções, sendo, porém, nomeado Papa Emérito, trouxe-nos a inédita situação de termos dois papas vivos, e a inusitada e inominada reunião deles.
 Sob a ótica da inovação, a milenar Igreja avançou bastante, não importa se passiva ou ativamente. Assim ela fez e, sem dúvida, colherá os frutos dessa opção. Não bastasse a curiosa e inédita situação do encontro de papas, o Papa Francisco ainda renuncia ao carro oficial para andar de coletivo, junto aos cardeais. Fato amplamente divulgado pela grande mídia mundial. O papa jesuíta, verdadeiro demolidor de protocolos, afasta qualquer ostentação de riqueza e se revela vocacionado aos pobres.

Estes fatos nos fazem refletir sobre o quanto a inovação é desencadeadora de notícias e atraente ao público em geral. Creio que adoramos quem “pensa fora do quadrado”. Houvesse o Papa Francisco seguido rigorosamente o protocolo, as notícias seriam infinitamente menores e sem esse sabor especial provocado pela surpresa. Assim, demonstramos facilmente uma fórmula para ganhar a chamada mídia espontânea, objeto do sonho de profissionais de Marketing e divulgadores em geral.

Sabiamente, o novo Papa diante da crise que alegam passar a Igreja, enxerga longe e lembra o que disse Ahmed Yamani, ministro do petróleo saudita: “A idade da pedra não acabou por falta de pedra”. Portanto, vemos que não é a escassez de seres humanos que enfraquece as igrejas e sim, as novas perguntas que são formuladas pela sociedade ou a falta delas.

Gary Hamel, autor do livro: “O Que Importa Agora”, afirma reconhecer os problemas internos das igrejas, mas vê graves problemas no mundo, ou mais especificamente: uma sociedade movida a consumo, em que o tamanho da conta bancária é mais importante que o caráter; o número quase infinito de diversões oferecidas por nossa cultura saturada de mídia – distrações que não dão tempo à reflexão espiritual; a visão profundamente cética dos jovens a respeito das grandes instituições – visão que mistura grandes religiões com grandes empresas e grandes Governos; a descrença crescente e reflexa em relação a todos que alegam ter “a verdade”.

Apesar desses fatores externos, o Papa Francisco, pertencente à mesma Ordem de Antônio Vieira, demonstra estar disposto a fazer a sua parte no resgate dos fiéis. Esse é o teor do Sermão da Sexagésima de Vieira, no qual faz uma distinção entre os “pregadores do paço” e os “pregadores do passo”. Paço, sinônimo de palácio, diferencia o pregador palaciano, o que fica preso a seu conforto, daquele outro, como os jesuítas, que saíam pelo mundo pregando a palavra de Deus.

Nesse famoso sermão, o padre pergunta por que fazia tão pouco fruto a palavra de Deus na Terra (e olhem que estava na segunda metade do século XVII). Poderia ser por um desses três motivos: por culpa do povo, da Palavra de Deus, ou dos pregadores. Depois de uma belíssima exposição sobre a inocência do povo e da Palavra, ele conclui: “Sabeis, cristãos, por que não faz fruto a palavra de Deus? Por culpa dos pregadores. Sabeis, pregadores, por que não faz fruto a palavra de Deus? Por culpa nossa!”.

     Em tempos de coletivo de papa e Papa de coletivo, nada melhor que unir a fé com a razão em direção a Deus. Assim revolucionou São Tomás de Aquino (séc. XIII) ao fundamentar o livre surgimento das primeiras universidade e escolas, tão bem expresso em sua oração: “Dê-me, Senhor, agudeza para entender, capacidade para reter, método e faculdade para aprender, sutileza para interpretar, graça e abundância para falar. Dê-me, Senhor, acerto ao começar, direção ao progredir e perfeição ao concluir”.



Publicado no jornal Cinform em 01/04/2013 – Caderno Emprego