segunda-feira, 9 de julho de 2012

Estranhas terceirizações




     O Brasil permite um universo muito restrito de possibilidades legais para a terceirização nas empresas privadas e no serviço público. O nosso desvario de regras faz do país um recordista em reclamações trabalhistas: são cerca de 2 milhões de processos por ano, que comparado aos  75 mil dos Estados Unidos, revela um panorama infernal sobre o tema.


     Certamente, o excesso de regulamentação normativa gera desencontros nos próprios códigos, alimentando, assim, as chances de conflitos. Além disso, a superproteção ao trabalhador brasileiro é incoerente com o perfil demográfico atual. Já é razoável flexibilizar a relação trabalhista entre profissionais de nível superior e as empresas privadas, especialmente as micro e pequenas que representam um imenso e frágil universo superior a 99% do total.

     Também será bom para o País admitir terceirizados em áreas fins, se menores de 26 anos e pelo prazo máximo de dois anos nas empresas públicas, como forma de ampliar o acesso ao primeiro emprego por meio de uma experiência realmente qualificada. Isso consolidará a formação desses aspirantes, que poderiam candidatar-se ao processo seletivo público com mais bagagem e certeza da própria vocação, evitando o tão comum desvio de função no serviço público.

     Por certo, Getúlio Vargas, por mais visionário que fosse, jamais teria condições de enxergar a complexidade do mundo de hoje, ao criar a Consolidação das Leis do Trabalho - CLT. Ao longo dos mais de 60 anos de emendas na referida lei, o Brasil conseguiu o impropério de punir os que mais empregam.

     Mas, conforme o título deste artigo, vamos falar sobre estranhas terceirizações. Michael Sandel, professor da Universidade de Harvard e autor do livro “Justiça – o que é fazer a coisa certa”, nos aponta dois exemplos intrigantes: na Guerra Civil Americana, em 1862, a obrigatoriedade do serviço militar atingia a tradição liberal em sua base, que levou a União a abrir uma ampla concessão: quem fosse convocado e não quisesse servir poderia contratar outra pessoa para assumir seu lugar. Desta forma, tanto os combatentes do Norte como os do Sul podiam ser contratados por preços de até US$ 1.500, valor considerável na época.

     Como alternativa, a União estipulou que o convocado que não quisesse servir poderia ser dispensado mediante o pagamento de uma taxa de US$ 300, que correspondia a um ano de salário de um trabalhador não qualificado. O resultado é que dos 207 mil efetivamente alistados, 87 mil pagaram a taxa de compensação, 74 mil contrataram substitutos e apenas 46 mil de fato serviram. Este conflito ficou conhecido como “guerras dos ricos, luta dos pobres”.

     Bem mais recente é este segundo caso: desde que se tornou possível a fertilização humana “in vitro”, isto é, a fecundação de um óvulo e um espermatozoide fora do corpo humano, surgiu um novo mercado de barrigas de aluguel. Esse tipo de fertilização extracorpórea pacificou questões judiciais anteriores sobre a verdadeira maternidade da criança, uma vez que, antes, essa reprodução se dava a partir do conjunto óvulo + útero da gestante, vinculando automaticamente a mãe biológica ao feto.

     Essa tecnologia fez brotar um mercado considerável de mulheres dispostas a abrigar, no ventre delas, o desenvolvimento do ovo importado, serviço que realizado nos Estados Unidos custava até US$ 80 mil, entre despesas médicas e a “locação da barriga”. Na cidade de Ananda, no oeste da Índia, em 2008, mais de 50 mulheres tiveram filhos para casais estrangeiros. O custo total, nesse caso, fica em torno de US$ 25 mil, isto é, um terço do americano. A mulher indiana recebe em nove meses US$ 7.500, o equivalente a 15 anos de salário médio da região.

     Esses são dois casos extremos de terceirização, ambos legais e polêmicos. Desse modo, nem vamos tão longe, mas manter o que temos hoje – até que a morte os separe -, para os contratos de trabalho é ver neles a mesma missão do que no casamento civil, em que, também creio, ocorrem estranhas terceirizações.


      Publicado no jornal Cinform em 09/07/2012 – Caderno Emprego

4 comentários:

  1. Realmente, Estranhas terceirizações.
    Sei que cada pessoa tem suas vontades e opiniões, mas quando se fala em vidas, aí a história deveria ser outra.
    Na minha opinião a fertilização humana não poderia ser legal, apenas polêmico e ilegal.
    Esta legalidade vai além das leis do maior criador de leis e vidas em nosso mundo, Deus. A muitos anos no Brasil foi adotada uma lei em que se poderia legalmente adotar uma criança, assim podendo um casal realizar seu grande sonho e tirar uma vida de possíveis misérias. Mas mesmos com tantas adoções, muitas crianças ainda ficavam em abrigos por muitos anos, após alguns anos, em 3 de agosto de 2009, o então presidente Lula, sancionou a nova Lei Nacional de Adoção, onde crianças não devem ficar mais de dois anos em abrigos de proteção, exceto se tiverem alguma recomendação judicial contrária. Com isso aumenta a possibilidade da adoção por ser ainda crianças até dois anos de idade.
    Infelizmente nos dias de hoje muitas pessoas pensam que Deus fez errado, e tentam mudar diversas regras como essas só porque tem muito capital, sem falar que coloca vidas em risco.
    Infelizmente e legal mas, a barriga de aluguel é ILEGAL, apenas parentes de 1º e 2º grau poderá fazer esse "empréstimo".
    Até mesmo no casamento civil acontece coisas estranhas do tipo CASAMENTO COM DATA DE VALIDADE, a mesma está sendo discutida no México para ser legalizado.
    Em que mundo estamos? Isso é amor ou desconfiança?

    Enfim, cada um com sua vontade e opinião!
    ______________________________________________
    Referência bibliográfica do texto abaixo.
    http://vidaconcebida.com.br/catolicismo-reflexoes-do-autor.html

    " O MILAGRE DA VIDA PERTENCE A DEUS, NADA SUPERA A SUA VONTADE.
    O MÉDICO É SÓ UM “FACILITADOR”, UM INSTRUMENTO DE DEUS;
    “O HOMEM PÕE – DEUS DISPÕE”. *1

    É conhecido que somente uma parte dos tratamentos de Fertilização Assistida (menos do que 50%) tem resultados positivos. O médico é simplesmente um “facilitador”, um instrumento de Deus na produção da vida, pois não garante a gravidez e muito menos o sucesso dos tratamentos. Nesses procedimentos, só parte dos óvulos consegue ser fertilizada. Mesmo quando o embriologista injeta um espermatozoide dentro dele, só alguns embriões se desenvolvem e por fim só um ou outro embrião se implanta, ou, em grande parte das vezes, nenhum implanta, e o resultado é negativo. Os abortos naturais ocorrem em mais da metade das gestações espontâneas, com embriões sendo eliminados do organismo materno naturalmente, pela determinação divina. Deus decide se o embrião ficará ou não. O homem tem participação nula na manipulação da vida. E isso nos leva a pensamentos mais profundos sobre a impotência do ser humano frente ao poder de Deus. “Eu plantei, mas foi Deus quem a fez crescer”. (Cfr. 1 Cor 3:6)."


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  2. Só para acrescentar o que não postei no texto, defendo a adoção e não a Fertilização.

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  3. Eu que agradeço por seus excelentes textos!

    :)

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