Na década de 90, as lan
houses surgem como ambientes de jogos coletivos em computadores. Nessa
época, os computadores eram bastante caros e as redes locais para conexão entre
eles, ainda mais inacessíveis. Assim, as lan houses (lan significa Local Area
Network e house significa casa) ou casas com redes locais de computadores,
nesta primeira geração, adquirem o estigma de ambiente de jogos. Efetivamente,
ainda hoje, algumas lan houses se configuram neste modelo ultrapassado. Uma
segunda geração de lan houses surge a partir de 2000 ofertando além dos
tradicionais jogos, o acesso à internet com maior velocidade que as linhas
discadas domésticas e serviços de impressão, edição de imagens, digitação e
gravação de CDs. Hoje, vivemos a 3ª geração de lan houses e cyber cafés que
guarda diferenças importantes sobre as gerações anteriores e começa a
organizar-se à medida que ganha consciência do destacado papel que cumpre na
inclusão digital e social do Brasil.
No Brasil atual, as lan
houses exercem um inestimável serviço às camadas mais pobres da população: de
acordo com pesquisa encomendada pelo CGI/BR – Comitê Gestor da Internet no
Brasil, 82% dos internautas brasileiros que ganham até 1 salário mínimo usam
lan houses para acesso a grande rede. E mais, 68% dos internautas nordestinos
também são usuários destes centros públicos de acesso pago. E uma boa notícia:
65% dos usuários de lan houses a procuram para fins de pesquisa acadêmica, 21%
para fazer download de livros, 22% para buscar cursos e 10% para educação a
distância. É ou não uma boa notícia? Pelo visto, ir contra a lan house é ir
contra as classes menos privilegiadas.
A internet está
influenciando decisivamente nosso cotidiano. Não fossem nossos preconceitos e
hábitos (ou vícios) já estávamos muito mais envolvidos pelos serviços
disponíveis nessa teia gigante. Por exemplo, que motivo há para enfrentarmos as
infernais lojas de material escolar no início de cada ano, se podemos adquirir
os mesmos livros confortavelmente através da internet em sites confiáveis.
Desta forma, o comércio enfrenta novos desafios e precisa se renovar para
entender este momento peculiar e dele tirar proveito ao invés de sentir-se
ameaçado. Igualmente, muitos serviços públicos estão (alguns exclusivamente)
disponíveis na internet, como a inscrição para o Enem, os concursos públicos,
os pregões eletrônicos, o imposto de renda, o programa “Minha casa minha vida”,
os editais, o Prouni, Boletins de Ocorrências (BO), emissão de Títulos de
Eleitor, acompanhamento de processos judiciais, agendamento médico, matrícula
escolar, emissão de certidões negativas, etc, etc e até divórcios. Em
Salvador/BA, até autorização de obras, habite-se e outros serviços da
prefeitura são solicitados via internet, exclusivamente através de lan houses
credenciadas. Semelhantemente, em Manaus/AM as meia-passagens para estudantes
são adquiridas em lan houses, livres de filas e gerando negócios para as
pequenas empresas.
É interessante notar que a
maior parte das dúvidas que temos no cotidiano também podem ser esclarecidas
pela internet. Ou seja, se você quer aprender a dar nó em gravatas ou tirar
mancha de ferrugem em tecidos, ou como produzir mudas de mangaba, a solução
pode vir de algum site confiável sobre o tema. Também, pode-se usar a internet
para manifestos políticos, participar de grupos de discussão ou redes sociais,
e ainda usar os avançados serviços bancários disponíveis.
As lan houses podem ser
lojas dos mais variados artigos sem estoque algum. Graças ao comércio
eletrônico e à possibilidade de ser correspondente bancário, a lan house pode
promover vendas interessantes até para quem não tem cartão de crédito ou conta
bancária. Algumas já se especializaram em vender passagens aéreas ou
terrestres, outras em vender anúncios classificados de jornais, e há também
aquelas que vendem produtos de lojas locais facilitando a vida de milhares de
pessoas. Afinal, é mais barato e rápido usar a lan house que pegar um ônibus.
Sergipe tornou-se
referência nacional pelo seu pioneirismo em trabalhar a partir das lan houses.
O principal projeto sergipano, oriundo do município de Estância, é orientado à
educação. No referido projeto, as lan houses associadas e devidamente
capacitadas, fizeram um convênio com a prefeitura para ofertar seus serviços
aos estudantes da rede municipal e estadual de ensino que recebem o
“webtíquete” dos seus professores. Para tanto, as lan houses estão preparadas
para assistir ao estudante durante seu trabalho escolar. Caso, não ande na
linha a casa é descredenciada perdendo os benefícios do convênio. Este projeto
é motivo de orgulho para o estanciano, posto que já é objeto de estudo e desejo
por duas capitais nordestinas e diversas outras cidades brasileiras atraindo a
atenção de autoridades públicas e políticas dos mais diversos lugares.
Tudo que vimos aqui nos
mostra a potencialidade da lan house no cenário atual. Tudo que a internet
pode, a lan house pode. Como a maior parcela do povo brasileiro não tem
qualquer intimidade com computadores e muito menos com a internet, isso exige
mediação do gestor da lan house para que possam usufruir das coisas boas dessa
moderna infovia.
As lan houses precisam
superar o estigma negativo adquirido em outra época, assumindo uma posição mais
responsável sobre o uso de seus computadores por menores, combatendo o
anonimato absoluto, orientando novos usuários, não aceitando estudantes em
horário de aulas. E esta nova postura já esta sendo adotada por muitas delas em
todo o Brasil, seja através da adesão à rede CDI/LAN e ao seu código de
conduta, seja pela legalização de sua atividade facilitada pelo novo código
CNAE e nova Lei do Empreendedor Individual, ou ainda pelo associativismo
exemplar de Estância e agora também em Aracaju com a fundação da primeira
associação de lan houses da grande Aracaju.
Agora, se você é
professor(a) e nada disso está acontecendo em sua região, faça como a
professora baiana que levou seus alunos de 5ª e 6ª séries de uma escola pública
a uma lan house para que pesquisassem sobre a cultura baiana e criassem um site
sobre isso. Uma experiência pedagógica muito rica e significativa para
todos.
Publicado no jornal Cinform
12/10/2009 – Caderno Emprego
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