segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Lan house e educação em perfeita combinação

 

Na década de 90, as lan houses surgem como ambientes de jogos coletivos em computadores. Nessa época, os computadores eram bastante caros e as redes locais para conexão entre eles, ainda mais inacessíveis. Assim, as lan houses (lan significa Local Area Network e house significa casa) ou casas com redes locais de computadores, nesta primeira geração, adquirem o estigma de ambiente de jogos. Efetivamente, ainda hoje, algumas lan houses se configuram neste modelo ultrapassado. Uma segunda geração de lan houses surge a partir de 2000 ofertando além dos tradicionais jogos, o acesso à internet com maior velocidade que as linhas discadas domésticas e serviços de impressão, edição de imagens, digitação e gravação de CDs. Hoje, vivemos a 3ª geração de lan houses e cyber cafés que guarda diferenças importantes sobre as gerações anteriores e começa a organizar-se à medida que ganha consciência do destacado papel que cumpre na inclusão digital e social do Brasil.


No Brasil atual, as lan houses exercem um inestimável serviço às camadas mais pobres da população: de acordo com pesquisa encomendada pelo CGI/BR – Comitê Gestor da Internet no Brasil, 82% dos internautas brasileiros que ganham até 1 salário mínimo usam lan houses para acesso a grande rede. E mais, 68% dos internautas nordestinos também são usuários destes centros públicos de acesso pago. E uma boa notícia: 65% dos usuários de lan houses a procuram para fins de pesquisa acadêmica, 21% para fazer download de livros, 22% para buscar cursos e 10% para educação a distância. É ou não uma boa notícia? Pelo visto, ir contra a lan house é ir contra as classes menos privilegiadas.


A internet está influenciando decisivamente nosso cotidiano. Não fossem nossos preconceitos e hábitos (ou vícios) já estávamos muito mais envolvidos pelos serviços disponíveis nessa teia gigante. Por exemplo, que motivo há para enfrentarmos as infernais lojas de material escolar no início de cada ano, se podemos adquirir os mesmos livros confortavelmente através da internet em sites confiáveis. Desta forma, o comércio enfrenta novos desafios e precisa se renovar para entender este momento peculiar e dele tirar proveito ao invés de sentir-se ameaçado. Igualmente, muitos serviços públicos estão (alguns exclusivamente) disponíveis na internet, como a inscrição para o Enem, os concursos públicos, os pregões eletrônicos, o imposto de renda, o programa “Minha casa minha vida”, os editais, o Prouni, Boletins de Ocorrências (BO), emissão de Títulos de Eleitor, acompanhamento de processos judiciais, agendamento médico, matrícula escolar, emissão de certidões negativas, etc, etc e até divórcios. Em Salvador/BA, até autorização de obras, habite-se e outros serviços da prefeitura são solicitados via internet, exclusivamente através de lan houses credenciadas. Semelhantemente, em Manaus/AM as meia-passagens para estudantes são adquiridas em lan houses, livres de filas e gerando negócios para as pequenas empresas.


É interessante notar que a maior parte das dúvidas que temos no cotidiano também podem ser esclarecidas pela internet. Ou seja, se você quer aprender a dar nó em gravatas ou tirar mancha de ferrugem em tecidos, ou como produzir mudas de mangaba, a solução pode vir de algum site confiável sobre o tema. Também, pode-se usar a internet para manifestos políticos, participar de grupos de discussão ou redes sociais, e ainda usar os avançados serviços bancários disponíveis.


As lan houses podem ser lojas dos mais variados artigos sem estoque algum. Graças ao comércio eletrônico e à possibilidade de ser correspondente bancário, a lan house pode promover vendas interessantes até para quem não tem cartão de crédito ou conta bancária. Algumas já se especializaram em vender passagens aéreas ou terrestres, outras em vender anúncios classificados de jornais, e há também aquelas que vendem produtos de lojas locais facilitando a vida de milhares de pessoas. Afinal, é mais barato e rápido usar a lan house que pegar um ônibus.


Sergipe tornou-se referência nacional pelo seu pioneirismo em trabalhar a partir das lan houses. O principal projeto sergipano, oriundo do município de Estância, é orientado à educação. No referido projeto, as lan houses associadas e devidamente capacitadas, fizeram um convênio com a prefeitura para ofertar seus serviços aos estudantes da rede municipal e estadual de ensino que recebem o “webtíquete” dos seus professores. Para tanto, as lan houses estão preparadas para assistir ao estudante durante seu trabalho escolar. Caso, não ande na linha a casa é descredenciada perdendo os benefícios do convênio. Este projeto é motivo de orgulho para o estanciano, posto que já é objeto de estudo e desejo por duas capitais nordestinas e diversas outras cidades brasileiras atraindo a atenção de autoridades públicas e políticas dos mais diversos lugares.


Tudo que vimos aqui nos mostra a potencialidade da lan house no cenário atual. Tudo que a internet pode, a lan house pode. Como a maior parcela do povo brasileiro não tem qualquer intimidade com computadores e muito menos com a internet, isso exige mediação do gestor da lan house para que possam usufruir das coisas boas dessa moderna infovia.


As lan houses precisam superar o estigma negativo adquirido em outra época, assumindo uma posição mais responsável sobre o uso de seus computadores por menores, combatendo o anonimato absoluto, orientando novos usuários, não aceitando estudantes em horário de aulas. E esta nova postura já esta sendo adotada por muitas delas em todo o Brasil, seja através da adesão à rede CDI/LAN e ao seu código de conduta, seja pela legalização de sua atividade facilitada pelo novo código CNAE e nova Lei do Empreendedor Individual, ou ainda pelo associativismo exemplar de Estância e agora também em Aracaju com a fundação da primeira associação de lan houses da grande Aracaju.


Agora, se você é professor(a) e nada disso está acontecendo em sua região, faça como a professora baiana que levou seus alunos de 5ª e 6ª séries de uma escola pública a uma lan house para que pesquisassem sobre a cultura baiana e criassem um site sobre isso. Uma experiência pedagógica muito rica e significativa para todos. 




Publicado no jornal Cinform 12/10/2009 – Caderno Emprego

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