segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Dez razões para o empreendedorismo no ensino médio


     
     Sergipe possui coisas boas que o destaca de outros Estados do Brasil e deve, por isso mesmo, valorizar essas conquistas. Um desses belos exemplos é o Empreendedorismo no Ensino Médio da rede pública. Trata-se de um trabalho desenvolvido pelo SEBRAE em conjunto com a Secretaria de Estado da Educação – SEED, desde 2004.


     Um aspecto que merece ser mais esclarecido é o porquê de unir empreendedorismo com a educação formal. O empreendedorismo não é sinônimo de atividade comercial ou empresarial, embora muito se confunda, e deste equívoco, nasçam discussões tão apaixonadas quanto desequilibradas. Assim, especialmente nós, educadores, devemos entender definitivamente o empreendedorismo como um elemento comportamental.


     Isto é, um conjunto de atitudes e hábitos que podem ser adquiridos através da educação e, consequentemente desenvolver nos alunos uma maneira própria de se posicionar e agir no mundo. É, literalmente, o “aprender a fazer”, recomendado pela UNESCO como um dos pilares da educação para o século 21. 


     A definição de empreendedorismo com maior propriedade é a de Filion, citado por Fernando Dolabela autor do livro “O Segredo de Luíza”, que define o empreendedor como alguém que “imagina, desenvolve e realiza visões”. Desse modo, são igualmente empreendedoras as personalidades tão distintas de Gandhi, Luther King, Juscelino Kubitschek, Barão de Mauá, Thomas Edison, Irmã Dulce, Paulo Freire, Marco Pólo, Assis Chateaubriand, Orlando Villas-Boas e do Infante D. Henrique, entre outros.

Com esse olhar atitudinal, Sergipe desenvolveu um invejável programa educacional de empreendedorismo pelas seguintes razões:


     1 – Elaborou uma proposta curricular que privilegia a gestão de pequenos empreendimentos e a cultura da cooperação, vigorosa e democrática, assinada em coautoria por 120 professores do Ensino Médio da Seed, alunos da pós-graduação lato sensu “MBA - Empreendedorismo para Docentes”, ministrada pelo Sebrae e Faculdade São Luiz de França.


     2 – Aplicou testes da metodologia de ensino em cerca de 10 mil alunos, validando a proposta e beneficiando-os com esta formação através de instrutores do Sebrae, enquanto se preparavam os professores.


     3 – Integrou a disciplina Empreendedorismo à arquitetura curricular do Ensino Médio por meio da Resolução Nº 008/CEE, de 2006, do Conselho Estadual de Educação. Ato que fez de Sergipe o Estado brasileiro pioneiro a dispor de instrumento normativo para esse fim.


     4 – Sergipe foi citado, nas considerações, como exemplo de empreendedorismo na educação em uma Moção de Apelo aos senhores ministros da Educação, da Ciência e Tecnologia e do Trabalho e Emprego, ao clamar: “...vimos apelar a Vossas Excelências para desenvolver mecanismos que garantam a inserção da educação empreendedora nas escolas da rede pública, seja em forma de disciplina ou de projetos transversais que proporcionem aos nossos alunos maior chance de sucesso no mundo do trabalho”, aprovada em plenário na primeira Conferência Nacional da Educação Profissional e Tecnológica, realizada em 2006, em Brasília.


     5 – Os professores de empreendedorismo da Seed foram os primeiros do País a participar do jogo empresarial Desafio Sebrae para Professores, uma realização da Universidade Federal do Rio de Janeiro -  UFRJ e do Sebrae Nacional.


     6 – Nossa inovadora metodologia de empreendedorismo propõe atividades práticas voltadas para dentro da própria escola, valorizando a interdisciplinaridade e o conhecimento propedêutico, além de minimizar o risco de evasão escolar.


     7 – O programa de empreendedorismo de Sergipe é considerado o melhor do Brasil numa avaliação da Universidade de São Paulo – USP-, realizada pela Professora  Kenski, em 2007. 


     8 - O Sebrae nacional escolheu o 3º workshop Empreendedorismo no Ensino Médio, para lançar no Brasil a cartilha “Referenciais para o Desenvolvimento do Empreendedorismo no Ensino Médio”, no Teatro Atheneu.


     9 – Realizou feiras escolares, workshops, desfiles cívicos, venceu concursos nacionais e fez shows, protagonizados por milhares de alunos do Ensino Médio.


     10 – Cerca 98% dos alunos responderam em pesquisa que a disciplina Empreendedorismo é importante ou muito importante para a vida deles.


            Esses dados referem-se aos anos de 2004 a 2007. Torçamos para que esse projeto ganhe uma escala cada vez maior. Empreendedorismo dá vida à educação e forma cidadãos livres.





Publicado no jornal Cinform em 23/01/2012 – Caderno Emprego
Publicado na revista Tecnologia da Informação & Negócios nº 06/2012



segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Rio 92: o futuro já tem 20 anos



     Neste ano, ocorrerá a edição Rio+20, em junho, na mesma cidade do Rio de Janeiro. Certamente, será um balanço das ações desenvolvidas no cumprimento da Agenda 21, documento subscrito por 175 nações, derivado dos debates e notas técnicas, que recomenda regras harmoniosas de convivência social, ambiental e econômica, ao oferecer bases para que cada país elabore seu plano de preservação ambiental.


      A Rio 92 ou Eco 92 foi, na realidade, a segunda Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento. Nela, estiveram presentes 108 governantes de países, fato que conferiu a este evento o título de maior reunião de chefes de Estado da história da humanidade. As reuniões menores que se seguiram não obtiveram o mesmo glamour e apresentaram mais divergências que convergências nas suas propostas, a exemplo de Kyoto e Copenhagen.


     Fracassos e expectativas frustradas à parte, devemos reconhecer que a Rio 92 ditou os passos da sustentabilidade e consolidou modelos que hoje estão no repertório dos currículos escolares e nas políticas públicas do Brasil e de muitos outros países. As questões ambientais, sociais e o desenvolvimento sustentável estão diariamente nas manchetes da grande mídia. O conhecimento sobre preservação ambiental está disponível para todos. Infelizmente, a situação ambiental se agravou nesses últimos vinte anos, provando que o conhecimento em si não é suficiente quando carece de atitudes e vontades compatíveis.


     Com efeito, além das significativas questões culturais e da nova visão de mundo que a Rio 92 trouxe, existem dois importantes passos tecnológicos para o Brasil ainda desconhecidos por muitos: o primeiro é a implantação da telefonia celular compatível com outros sistemas em operação nos países centrais. A cidade do Rio de Janeiro, à época, já disponibilizava uma pequena cobertura para alguns poucos telefones celulares, cuja adesão custava US$ 20 mil ao assinante.


     O País vivia um grande embate sobre a liberação de editais de bandas de telefonia celular no STF, porém, a demanda dos participantes da Rio 92 fez com que a Telerj, corajosamente, ofertasse 40 mil novos terminais a preços bem mais competitivos e com sistemas compatíveis com outros celulares no país e fora dele. Nasceu aí a primeira oferta de telefones celulares em escala no país.


     O segundo passo tecnológico é a ligação pioneira da internet fora das universidades brasileiras. As exigências de comunicação do evento, aliadas à presença de 9 mil organizações não governamentais – ONGs - participantes do Fórum Global, evento paralelo à Rio 92, fez com que a Telerj montasse uma linha de comunicação entre a Conferência da Organização das Nações Unidas – ONU - e a Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ -, para assim fazer a primeira ligação da sociedade brasileira com a internet.


     A entidade responsável por prover esse acesso inaugural à internet mundial foi o Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas – Ibase -, fundado pelo sociólogo Hebert José de Souza, o Betinho, falecido em 1997,e pelos economistas Carlos Afonso e Marcos Arruda. A procura pelos serviços de internet foi tão grande que levou o Ibase a desmembrar o programa Alternex, transformando-o em empresa comercial. Assim, enfrentando o distanciamento corporativo universitário da sociedade, a dominadora estatal Embratel e a decadente reserva de mercado da informática, surgiu o primeiro provedor brasileiro acessível ao público à grande rede.


     Como vimos, a Rio 92 trouxe muito mais mudanças do que percebemos aparentemente. Assim, concluímos que essa conferência da ONU representa um ritual de passagem de uma sociedade crente nos recursos naturais inesgotáveis, mas sem celular e internet, para uma sociedade ciente da escassez dos recursos naturais e das inesgotáveis TICs – tecnologias da informação e comunicação –, que tem mais contas de celular que habitantes.


     Se, no Brasil, 20 anos nos separam do passado, então, em Sergipe, o passado é menor de idade, já que essas tecnologias só chegaram por aqui após 1994. Pensando bem, nunca o passado foi tão próximo. 



   

Publicado no jornal Cinform em 09/01/2012 – Caderno Emprego